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O Processamento Psicodrama

Por:   •  7/10/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.617 Palavras (15 Páginas)  •  229 Visualizações

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Processamento Sessão de Psicodrama

Tema: E você?   Duração: 60 minutos aproximadamente

Local: CCSP – Centro Cultural São Paulo    Data: 19/01/2019

Direção: Cassiana Léa Espírito Santo      Ego-auxiliar: Valéria Barcellos

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Eu tenho medo, e você?

Introdução

Na sessão de psicodrama ao qual este trabalha trata, do meu lugar na plateia, minha atenção foi capturada pelo gesto corajoso e livre da diretora de assumir seu “medo” de estar ali naquele papel, naquele momento, diante do grupo. Eu chamo de corajoso e livre pois entendo que nesta atitude, a diretora traz a essência da proposta moreniana de espontaneidade e criatividade e abre mão das seguranças do lugar de poder para um diálogo aberto com as pessoas que estavam ali para, através de suas “mãos”, seguirem viajem pelo psicodrama.

Esta sessão ocorre durante a minha formação de psicodramatista didata e supervisor e, portanto, meu interesse na figura do diretor se torna maior que pela ação ocorrida, no difícil exercício de separar uma coisa da outra. Tenho necessidade de entender “quem é” e “como é” esse diretor, no objetivo de em breve poder formar pessoas para este papel e supervisionar o desempenho de outros diretores em meu setting de atuação que é o sócio-educacional.

Fui fisgado pela ação espontânea da diretora logo no início da sessão e a partir disto fiz pesquisas de referenciais bibliográficos que me ajudassem a entender esta atitude e projetá-la diante da sessão vivida por todos ali. Fui encontrando em Moreno e alguns autores contemporâneos do psicodrama como Fox e William, referências sobre a relação existente entre o papel do diretor e sua capacidade de mostrar-se espontâneo e criativo, transparente e vulnerável. Cheguei a outras referências fora do contexto psicodramático como Rosenberg, Brown e alguns outros que me ajudaram a compor a ideia que buscava. Alinhavei tudo com o necessário olhar qualitativo que o diretor de psicodrama deve ter em sua pesquisa social, com Wechsler e Brito, e com isso passei a me sentir seguro para a análise do que presenciei naquele início de ano no Centro Cultural São Paulo, espaço tão rico de diversidade e conhecimento.

        Apresento aqui a minha visão através de um processamento da sessão, com sua descrição e análise a partir dos conceitos estudados para maior compreensão do fenômeno, reconhecendo o impacto da subjetividade individual do diretor na condução e produção de um grupo em uma sessão psicodramática.

  1. Objetivo da Sessão Psicodramática

As sessões de psicodrama público que acontecem regularmente no CCSP têm como objetivo a realização de um sociodrama, buscando explorar e revelar questões ideológicas e psicossociais de um grupo de pessoas pertencentes a uma mesma cultura, localizados em espaço e tempo determinados, no caso, a cidade de São Paulo, na data de sua realização, sempre a partir da proposta psicodramática da direção responsável naquele dia. O psicodrama público pretende acolher diferentes subjetividades, promovendo a troca de ideias, valores e experiências de vida a partir da construção coletiva de histórias dramatizadas.

Para a sessão realizada em 19/01/2019, a diretora Cassiana Léa Espírito Santo trouxe a proposta: “E você?”. Apresentar uma proposta em forma de uma pergunta tão instigante declara uma intenção da direção em tocar em pontos íntimos das pessoas naquele grupo, naquela mostra da sociedade, revelando de forma clara a relação entre o “sócio” do grupo e o “psico” de cada indivíduo ali presente. Nesta proposta, a pergunta “E você?” é extraída da superficialidade do cotidiano e da resposta automática ao “Tudo bem?” que distribuímos indistintamente pelas nossas relações, e é sublinhada para compreendermos a profundidade que representa quando a ouvimos e a respondemos com a verdade e a totalidade que ela nos solicita.

  1. Objetivo do processamento

O processamento tem como objetivo realizar uma elaboração da experiência vivida à luz da teoria moreniana, possibilitando uma maior compreensão metodológica da sessão a ser explorada e permitindo a generalização futura e a consolidação de práticas através da construção de uma base teórica qualitativa.

Este processamento põe foco no papel do diretor, analisando da forma de estar presente e as opções de intervenção da direção a partir da teoria moreniana e da compreensão da prática psicodramática como uma metodologia qualitativa de pesquisa.

                                                 

  1. Referencial Teórico

        Para este processamento, cabe entender como a teoria explica e elabora o papel de diretor de psicodrama e como este papel serve ao sociodrama enquanto metodologia qualitativa de pesquisa. Para tanto, exploro, de maneira breve, a produção conceitual já realizada sobre o papel diretor, destacando o seu olhar qualitativo enquanto pesquisador social, com foco em aspectos como a sua vulnerabilidade e transparência e a espontaneidade e criatividade.

3.1 O papel do Diretor

O Diretor tem ao mesmo tempo as funções conjuntas de produtor, responsável por tornar a produção dramática fiel à linha de vida do sujeito em cena, garantindo a conexão com a plateia; conselheiro, permitindo que o sujeito crie sua cena a partir de si e estimulando quando necessário; e, como analista, complementando a interpretação feita com contribuições da plateia e egos-auxiliares. Através de técnicas como o solilóquio, o duplo e a inversão de papéis, o diretor vai estimulando o protagonista no seu caminho psicodramático. (MORENO, 1953)

É objetivo do diretor atingir cada indivíduo em sua própria esfera, ou seja, separado do outro, ainda que a plateia se organize de acordo com uma síndrome mental comum a todos os participantes. Essa abordagem é utilizada apenas para alcançar ativamente mais de um indivíduo na mesma sessão. No psicodrama o trabalho grupal volta-se para um grupo de pessoas privadas, as quais o tornam, em certo sentido, um grupo privado. (MORENO, 1953)

  1. O olhar qualitativo

Na metodologia psicodramática, compreendida enquanto pesquisa-ação, o público e observador co-participam da criação, ou seja, o diretor está intrinsecamente envolvido com a produção do grupo e suas ações impactam diretamente na espontaneidade das pessoas. (WECHSLER,2006)

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