O surgimento da clinica psicológica
Por: Vulcao33 • 30/4/2019 • Resenha • 966 Palavras (4 Páginas) • 1.606 Visualizações
MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROMAGNOLI, Roberta Carvalho; NEVES, Edwiges de Oliveira. O surgimento da clínica psicológica: Da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde. Psicologia, ciência e profissão. Brasília, v. 27, n. 4. 2007.
O artigo de MOREIRA; ROMAGNOLI e NEVES (2007) traz o conceito de clínica psicológica e o seu rumo no decorrer da história, uma visão geral do que podemos chamar de o surgimento da clínica médica, tendo em vista que a psicológica é uma “herdeira” desse modelo, inspirando-se nele com o intuito de ser reconhecida como ciência.
Desde os primórdios, quando Hipocrátes fazia a observação clínica e criou a anamnese, sendo esta o primeiro passo do exame médico que foi introduzido por ele no âmbito clínico, destacando a importância do final do século XVIII e o início do XIX quando foram feitas muitas descobertas biológicas e invenções no ramo da instrumentalização médica, levando ao avanço dos recursos técnicos para os diagnósticos. Dando continuidade a perspectiva histórica da clínica, fala-se sobre as novas tecnologias que foram aliadas ao conhecimento médico no século XX, o que revoluciona a clínica medica, pois ela passa a se “perder” entre inúmeras fragmentações, tendo como consequência disso a delegação ao paciente, a partir dos seus sintomas, a escolha sobre que especialista deve recorrer. O saber médico conferia cada vez mais poder à classe, surgindo sistemas de vigilância da subjetividade e controle social.
Freud, ao criar a psicanálise, traz algumas inovações, como, por exemplo, a mudança da observação para a escuta, e a proposta da “transferência do conhecimento”, tendo em vista que na clínica psicanalítica não é o médico quem o detém, mas sim o cliente, porém como é um saber inconsciente o analista se faz necessário para atuar como facilitador no processo de condução do tratamento. O artigo dá destaque para diferença entre a clínica médica, que observa, examina e aperfeiçoa os seus métodos diagnósticos com objetivo da cura orgânica, e a clínica freudiana que foca mais na escuta do sofrimento e tem como método de intervenção a terapia analítica, que não pretende acrescentar/introduzir nada, mas sim tirar, trazendo à tona a origem dos elementos formadores do sintoma patológico.
Com esse cenário, se traz à luz o fato de que a psicanálise freudiana acabou por introduzir o segredo como força motriz da terapia, enquadrando a clínica psicológica em moldes individualistas, e é sobre isso que o segundo tópico do artigo (Psicoterapia: campo privilegiado da clínica psicológica – individualismo e prática curativa) trata. A modernidade é marcada pelo surgimento do “sujeito/individual”, gerando novos problemas que exigiram a criação de uma nova ciência para pensar sobre eles e, assim, a prática clínica voltou-se para as demandas do sujeito e não, necessariamente, a uma patologia.
MOREIRA; ROMAGNOLI e NEVES (20007, p. 614) afirmam que “o sujeito moderno se percebe como um ser singular, um ser que conquistou o direito de exercer a individualidade de maneira sigilosa, em segredo, de forma a resguardar-se da exposição pública”. Esse pensamento moderno, que valoriza a individualidade, faz com que o sujeito não se preocupe mais com as estruturas holísticas, que estão diretamente ligadas a organização e ao sentido da existência, e sim foque na sua subjetividade.
Contudo, não demorou para que a ambiguidade nessa relação, psicologia e individualismo, viesse a tona com o questionamento de que não é possível dar conta de todas as mazelas através desse modelo, pois apesar da clínica individual ser importante, os psicólogos não podem se prender somente neste modelo. A psicologia tem compromisso social, pois o “eu” só consegue se constituir através do “outro”, ou seja, o individualismo se sustenta nas relações sociais.
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