Origem Dos Transtornos Mentais
Dissertações: Origem Dos Transtornos Mentais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Elilily • 6/4/2014 • 3.192 Palavras (13 Páginas) • 575 Visualizações
Entende-se que fatores de risco ambientais para os
transtornos mentais atuam através de múltiplos mecanismos
e ní veis e usualmente estão correlacionados a uma cadeia
de fatores de risco, que por sua vez podem atuar através de
diversos mecanismos. O foco não é dado apenas nos efeitos
dos fatores de risco, mas também nas suas origens, e assim
pode-se entender com mais especifi cidade o real mecanismo
através do qual atuam.
É importante seguir uma série de estratégias para
que seja demonstrada a presença de relação de causa e efeito
entre fatores de risco ambientais e transtornos mentais.
Primeiro, é fundamental que a relação exista em função
de uma base conceitual sólida, com evidências acerca de
possíveis mecanismos através dos quais os eventos operam.
Por exemplo, existe uma série de evidências neurobiológicas
que apontam o mecanismo através do qual abuso e maus
tratos na infância alteram o funcionamento do eixo hipotálamo-
hipófi se-adrenal, podendo levar à depressão na idade
adulta. Evidências acerca de um possível mecanismo nem
sempre estão disponíveis, e é frequente que a base conceitual
seja revelada em função dos achados epidemiológicos.
Entretanto, no momento atual do conhecimento, novos
fatores de risco ambientais para os transtornos mentais têm
sido infre quentemente revelados. Segundo, é fundamental
mostrar uma conexão temporal consistente entre o evento
estressor e o início do transtorno. Estudos longitudinais
são fundamentais para esse objetivo, e o desafi o está no
es tudo de eventos que ocorrem cronicamente, que atuam
atra vés de diferentes mecanismos ou que mudam de intensidade
ao longo do tempo. Para a elucidação da relação
temporal entre ambos os fatores, é importante diferenciar
se os even tos ambientais ocorreram como resultado do
processo psicopatológico ou se esse iniciou anteriormente
e foi causa do evento ambiental, que por sua vez pode ter
exacerbado o processo psicopatológico. Como exemplo,
sintomas depressivos leves podem levar à demissão de um
emprego que, como consequência, pode exacerbar o processo
psicopatológico levando a um episódio depressivo
Nesse caso, a demissão está correlacionada ao episódio
depressivo, mas não é sua causa. Em um estudo longitudinal,
se os sintomas depressivos leves anteriores não são
identificados, mesmo havendo uma conexão temporal entre
a demissão e o episódio depressivo, a interpretação de que
existe uma relação causal entre os últimos dois eventos
seria errônea. As interpretações de resultados ge ra dos por
estudos transversais apresentam maiores limitações. Terceiro,
é necessário rigor na aferição de fatores de risco e
desfechos através de medidas específicas e dimensionais .
No exemplo anterior, seria necessária a utilização de medidas
sensíveis que identificassem os sintomas depressivos leves
anteriores à demissão. Quarto, é importante contextualizar
os eventos ambientais estudados. Por exemplo, demissão de
um emprego pode ter significados completamente distintos
para duas pessoas diferentes. Tal evento pode desencadear
uma cadeia de eventos estressores, como empobrecimento,
depressão, violência, atos criminosos ou pode ser o início
de um novo caminho desenvolvimental caracterizado por
busca de novos objetivos e conquistas.
As abordagens epidemiológicas utilizadas para demonstrar
que determinado evento ambiental apresenta
um efeito causal são limitadas frente à complexidade
dos processos e, principalmente, frente à diversidade de
variáveis confundidoras que não são levadas em consideração.
A randomização é a estratégia metodológica mais
apropriada para a demonstração de uma relação de causa e
efeito, pois os indivíduos são alocados a uma determinada
intervenção aleatoriamente. Entretanto, questões éticas
óbvias não permitem a manipulação de indivíduos para que
sejam expostos a eventos estressores. Assim, experimentos
naturais são oportunidades ímpares para entendermos as
origens dos transtornos mentais. Esses são estudos que
utilizam diferenças que ocorreram naturalmente na exposição
a determinado fator entre diferentes indivíduos, como
a institucionalização e privação de estímulos de crianças
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