Problematização antropológica de um contexto simbólico
Por: Jaqueline Serrão • 20/6/2017 • Trabalho acadêmico • 2.120 Palavras (9 Páginas) • 319 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
UNIDADE ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA
CURSO: PSICOLOGIA
DOCENTE: EDUARDO HENRIQUE ARAÚJO DE GUSMÃO
JAQUELINE MONTEIRO SERRÃO
ATIVIDADE DE ANTROPOLOGIA
CAMPINA GRANDE – PB
2017
JAQUELINE MONTEIRO SERRÃO
PROBLEMATIZAÇÃO ANTROPOLÓGICA DE UM CONTEXTO LINGUÍSTICO
Elaboração de um texto a partir de um diálogo, buscando problematizar a palavra mundo, tendo como base nas leituras e discussões em sala. Curso Superior de Psicologia. Universidade Federal de Campina Grande.
Docente: Eduardo Henrique Araújo de Gusmão
CAMPINA GRANDE – PB
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INTRODUÇÃO
Pretende-se relacionar os questionamentos feitos em sala com os conteúdos dos textos na realização do diálogo. Espera-se demonstrar como foi a experiencia de dialogar sobre a palavra mundo com uma pessoa, no caso, meu pai. Demonstrando a troca de experiencias singulares e de problematizações.
Em sentido antropológico, pensar em ser humano é uma tarefa no mínimo complexa, já que as possibilidades de ser-no-mundo de cada um são dependentes de diversos fatores (social, cultural, política, histórica, geográfica, tecnológica, filosófica, entre outras) interligados de modos diferentes e formadores de universos simbólicos distintos, interceptados pela pluralidade de significados da realidade existente. Isso ocorre, pois, o homem não existe por si só, mas é possibilidade de existência simbólica e singular diante do mundo no qual vive e diante de outro ser humano que lhe é igual e diferente ao mesmo tempo.
Igual, pois, convive no mesmo contexto de cultura e a absorve de maneira que pode parecer natural, como por exemplo, o hábito de cumprimentar com um aperto de mão pode ser frequente no Brasil e na Alemanha não, logo estender a mão no Brasil é um ato que tem significado coletivo o qual pode não ter sentido na realidade alemã.
Diferente, pois dento do contexto macro que é o brasileiro, existem muitos outros de caráter micro como as famílias e outros grupos, assim, pode ser que para um grupo o aperto de mão não seja uma prática, embora esteja na realidade brasileira. Logo o universo simbólico é cultural, mas dependente da interpretação de mundo. Essa visão, em certo grau, paradoxal é necessária em se tratando do olhar antropológico sobre o ser humano, já que o que se apresenta ao olhar é dependente das perspectivas que se aborda. “Só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade” (LAPLANTINE, 2003, P.9).
Nos diálogos cotidianos, essas múltiplas dimensões podem vim à tona para demonstrar que estar em sociedade é conhecer e desconhecer, sentir-se pertencente do grupo, mas também sozinho, sobretudo na época moderna em que o contato com diversas culturas nos leva a questionar a nossa realidade e a do outro e nos leva a notar a relatividade do ponto de vista antropológico. Portanto ao que se refere ao homem, nada é natural, mas sim construído em sociedade.
De acordo com Laplantine (2003, p.13)
Aos poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de “natural”. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar.
Na tentativa de entender como o diálogo antropológico funciona, decidi fazê-lo com meu pai. Ele se chama Rosival de Jesus Pinheiro Serrão, tem 48 anos, mora em Belém do Pará, mas é de uma cidade a três horas da cidade – Igarapé-Miri, e trabalha durante a vida inteira com materiais de construção. Apesar de ser sobre alguém que conheço e amo desde sempre, escolhi meu pai pois é com ele que senti a sensação de forte afinidade durante minha vida inteira, mas foi com ele também e ainda é as vezes que a de desconhecimento aparece. O que é interessante, pois vivemos na mesma sociedade, somos da mesma família, temos a aparência física semelhante e até compartilhamos hábitos sutis como o mesmo padrão de careta quando concentrados ou, quando envergonhados, nos fechamos em nosso mundo particular e lá ficamos por muito tempo. Ainda sobre minha escolha, é interessante que nossa relação perpassa por fases que analogamente ao histórico da antropologia são de construção e de desconstrução de alteridades. O desafio é aprender a compreender sem se diminuir e aprender a falar sem se impor. Esse é um desafio particular o qual tenho em casa e que decidi expor aqui.
Como foi orientado em sala pensei em problematizações sobre a palavra mundo, então pensei em perguntar “o que é mundo? ” “o que o mundo representa para você?” “qual é o seu mundo?” “o seu mundo já foi perdido?” e “quais os limites do seu mundo?” Pensei em perguntas as quais fizessem com que eu conhecesse mais sobre o que é meu pai além do papel o qual ele permite que eu veja todos os dias, já que ele é bem fechado e não decide falar sobre si se não achar conveniente. Então por meio do whatsapp perguntei durante a semana se ele poderia me ajudar no trabalho, ele concordou e marcamos sábado, dia 27/05/2017. Iniciamos pela videochamada, como é possível se imaginar ao olhar a figura 1. Meu pai é um homem não muito sensibilizado emocionalmente, o conhecimento que tem foi construído pela vida, mas não na escola, já que estudou até a segunda série do fundamental. Ele pode ser um retrato de muitos brasileiros os quais também não puderam, por condições de vida particulares, concluir a formação escolar ou acadêmica, mas que se enquadram no limiar entre sabedoria de vida e instrução acadêmica.
Dessa forma, comecei questionando sobre o que a palavra mundo o lembrava. Globalização veio a sua mente. Continuei perguntando o que o mundo significava para ele. Ele relacionou com sobrevivência e com o local onde viveu a vida inteira. Busquei aprofundar, perguntando o que era sobreviver para ele. Ele relacionou a condições de vida as quais incluem ter boa alimentação, respirar ar puro, dormir bem, viver com os amigos e poder trabalhar. Assim supus a existência, para ele, de uma conexão entre o mundo e a sobrevivência e perguntei qual era o significado dessa conexão. Ele disse que em sua concepção existiria o criador (Deus) e as criaturas (nós). Deus, continuou, deixou tudo na terra, animais, água e ar para a sobrevivência do homem, mas com o tempo, os próprios seres humanos foram destruindo a terra e os animais e projetou que os homens se auto destruiriam com esse tipo de conduta. Perguntei então o lugar dele no mundo. Ele disse que era o de uma criatura de Deus e se considerava como um sobrevivente. Essa resposta me levou a perguntar se ele era livre desse Deus ou se o que fazia era condicionado a alguém ou a alguma coisa? Ele disse ser livre, pois Deus havia dado a ele o livre arbítrio, contudo acredita um dia no dever de se prestar contas sobre tudo que fez, faz e fará de certo e de errado, concluiu então que era livre “entre aspas”. Questionei sobre qual representação ele daria ao mundo e ele disse “tudo” e usou como justificativa uma passagem bíblica na qual Deus disse que sem Ele o homem não podia fazer nada, logo Deus havia nos dado o mundo contendo tudo que precisávamos.
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