Processos Psicológicos Básicos

O estudo avaliou os níveis de depressão, ansiedade e estresse dos participantes que estão em tratamento por uso de substâncias e relacionou esses níveis com as determinadas substâncias e com as suas características sociodemográficas. As características sociodemográficas são de suma importância pois facilitam o entendimento do contexto social dos participantes para se pensar em alternativas melhores de tratamento.

As mulheres estiveram associadas ao consumo de crack durante a pesquisa, o que condiz com um estudo americano. O mesmo diz que mulheres tem menos propensão ao uso de drogas, porém as que utilizam disso, usam crack em maior quantidade do que outras drogas, enquanto homens tendem a usar diferentes substâncias de forma concomitante. Assim, a intensidade/quantidade de uso também precisa ser considerada no tratamento.

Foi realizado um estudo brasileiro com 60 presidiários no qual 80% desses, eram usuários de diferentes tipos de droga. No referido estudo, 63% dos participantes apresentaram níveis leves de sintomas depressivos e 25% de sintomas ansioso de nível mínimo. No contexto de presídio, os baixos níveis de depressão e ansiedade podem se dar por conta da diminuição do uso de drogas.

Com relação à participantes que não estavam trabalhando e que apresentaram níveis severos e extremamente severos de depressão, ficou evidente a importância do trabalho na vida de usuários de substâncias. Um estudo qualitativo do Canadá com 28 mulheres usuárias de drogas em tratamento, o trabalho foi observado como uma necessidade aliada ao tratamento.

Melo, Oliveira e Ferreira (2006), realizaram um estudo com 109 usuários de tabaco e identificaram que destes 60,6% não possuíam vínculo empregatício e, quando avaliados em relação aos índices de ansiedade e depressão, 32,3% indicaram índices de ansiedade leve e 29,3% índices moderados de depressão.

A única substância que revelou ter relação com sintomas de depressão, ansiedade e estresse neste estudo foi o tabaco. Alguns estudos destacam a presença da correlação positiva com o uso de tabaco e depressão em pacientes cardíacos, a associação entre aumento de risco de depressão na vida adulta em crianças com exposição a fumaça do cigarro e sintomas depressivos em fumantes de cessão de tabagismo. A amostra destaca os riscos que fumantes de cigarro possuem para o desenvolvimento de sintomatologia depressiva, envolvendo a diminuição da qualidade de vida dos mesmos.

O uso de tabaco também foi relacionado significativamente ao estresse na amostra estudada. O uso de cigarro tem sido observado em diferentes pesquisas como forma de lidar com situações estressantes, buscando na substância um alívio de tensão momentânea. Estar em tratamento pode ser uma situação geradora de estresse, e o cigarro pode ser uma das formas encontradas para lidar com fatores estressantes.

As diferenças entre homens e mulheres foram apontadas em relação ao uso de crack, onde mulheres utilizavam o crack de maneira exclusiva, enquanto homens utilizavam drogas de maneira concomitante. Porém, tais dados são limitados ao contexto onde foram realizadas as coletas de dados da presente pesquisa, não sendo passível de generalização dos dados para todas as populações de usuários de droga.

Ressalta-se que o uso de tabaco muitas vezes não é abordado nos locais de tratamento, sendo o foco no álcool e nas drogas ilícitas. Assim, o presente estudo alerta para a recuperação dos usuários de drogas, com maiores níveis de depressão, ansiedade e estresse que podem afetar negativamente no tratamento. Com isso, tais variáveis necessitam ser consideradas no tratamento do usuário, a fim de repensar a reinserção profissional e o manejo das emoções, diminuindo os fatores de risco para o retorno ao uso de drogas.

...