Psicologia humanista: uma história de dilema gnoseological
Tese: Psicologia humanista: uma história de dilema gnoseological. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: Crissilvamorena • 2/11/2014 • Tese • 2.671 Palavras (11 Páginas) • 454 Visualizações
Psicologia Humanista: a história de um dilema
epistemológico
A Psicologia Humanista norte-americana surgiu há cerca de cinqüenta anos,
apresentando-se como uma terceira força capaz de fazer frente ao que julgava ser uma
desumanização determinista da imagem de ser humano promovida pelo Behaviorismo e
pela Psicanálise. Apresentando sua versão do objeto da Psicologia como dotado de um
nível de liberdade, criatividade e pró-atividade, os principais representantes da Psicologia
Humanista se recusaram a abandonar o método experimental, proclamando a sua
abordagem como aderida à ciência moderna.
A Psicologia Humanista herdou este dilema em um formato particular, que acompanha a
história da abordagem desde o seu surgimento. Tendo se decidido programaticamente a
não aceitar a distorção da imagem de ser humano para adequá-lo ao método científico,
ela no entanto proclamou igualmente sua adesão ao projeto da ciência moderna. Assim,
a Psicologia Humanista historicamente não consegue se decidir entre manter sua adesão
ao método científico – que não se adequa a forma como define seu objeto de pesquisa
nem a maioria de seus interesses principais de investigação – ou buscar transformar a
imagem de ciência que pratica para adequá-la à sua imagem de ser humano.
Este artigo defende a tese de que apesar das sucessivas declarações de princípios de
seus dois principais nomes, Abraham Maslow e Joseph Rychlak, o resultado da
empreitada humanista na psicologia moderna foi de fato o abandono do método
científico. Começará por uma breve definição deste movimento, suas raízes históricas,
abordará suas críticas ao modelo de Psicologia da primeira metade do século passado e
passará por sua definição do objeto de estudo desta disciplina
História da Psicologia Humanista
O movimento que desembocou no estabelecimento da Psicologia Humanista teve seu
início no ambiente acadêmico norte-americano do pós-guerra. Os líderes do movimento
humanista levantaram suas vozes contra a imagem de homem e de método científico
defendidas pelo Behaviorismo - dominante no campo da Psicologia experimental - e
contra a imagem de homem e de método terapêutico da Psicanálise - dominantes no
campo da psicoterapia.
Como afirma De Carvalho (1990), a oposição ao Behaviorismo foi a posição que, pelo
caminho da negação, mais contribuiu para o estabelecimento conceitual da Psicologia
Humanista. Os Humanistas caracterizam o Behaviorismo como uma teoria em que o
homem é visto como um ser inanimado, um organismo puramente reativo, "uma coisa
passiva perdida, sem responsabilidade por seu próprio comportamento" (p. 33). Assim, o
Behaviorismo veria o homem como um conjunto de respostas a estímulos, ou seja, uma
coleção de hábitos independentes. Frick (1973), em sua obra Psicologia Humanística,
ainda hoje referência obrigatória para quem estuda o movimento, acusa o Behaviorismo
de haver buscado criar uma visão limitada do homem. Diz ele:
Esta escola de Psicologia concebe o homem como uma
máquina complexa, com seu sistema fechado de
funções parciais e regularidade estática. O Homem está
construído sobre uma organização hierárquica de
estímulo-resposta, que leva a padrões previsíveis de
hábitos, e reforço é a palavra chave para o
desenvolvimento da personalidade (p. 17).
Mas a Psicologia Humanista não se constituiu somente como uma reação ao
Behaviorismo, mas também como uma reação à Psicanálise, que era considerada por
esta determinista, reducionista e dogmática. O foco das críticas dos psicólogos
humanistas era de novo a imagem de Homem, desta vez, a admitida pela Psicanálise.
Segundo eles, a visão da natureza humana em Freud era pessimista, fatalista e
excessivamente centrada no lado negro do ser humano. Como diz De Carvalho (1990),
os humanistas argumentavam que para Freud "nada além de destruição, incesto e
assassinato poderia se seguir se uma natureza básica humana encontrasse expressão
completa" (p. 34). Assim, ainda segundo De Carvalho, para Freud, a pessoa
permaneceria para sempre fixada em emoções originadas de traumas da infância.
Outra influência importante da Psicologia Humanista é a Psicologia da Gestalt. Da mesma
forma que Goldstein, a Gestalt considera o homem como uma unidade irredutível onde
tudo está relacionado com tudo, e o todo é mais do que a soma de suas partes. É esse
espírito holista da Gestalt (assim como sua concepção do comportamento humano como
intencional) que foi assimilado pelo movimento.
Finalmente, não poderia deixar de citar os teóricos da personalidade
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