Resenha Crítica - Exemplo (O Menino Selvagem)
Por: jlcosta42 • 14/5/2017 • Resenha • 771 Palavras (4 Páginas) • 3.490 Visualizações
Dirigido pelo cineasta francês François Truffaut, o filme “L’enfant sauvage” (“O Garoto Selvagem”; 1970) é baseado no livro "A educação de um selvagem", de Jean Itard, psiquiatra que, no final do século XVIII, tem contato com um menino encontrado abandonado e completamente isolado na floresta de Aveyron, na França, passando a estudá-lo. Victor, como o garoto fora nomeado mais tarde por Itard, passa, então, por um intenso processo de análise e experimentação com o médico. Tendo sido resgatado (ou capturado) do meio natural analfabeto, sem fala e incapaz de andar sobre as duas pernas, o caso de Victor trouxe questionamentos diversos acerca da natureza humana. A partir do filme, podem ser tratadas, por exemplo, questões sobre o que é inato e o que é adquirido no indivíduo, assim como a ideia de vínculo e apego na psicologia. Tudo isso, entretanto, será explorado aqui a partir da perspectiva do desenvolvimento, levando em consideração aspectos como a filogênese e a sociogênese no estudo psicológico do desenvolvimento humano.
Essa obra audiovisual permite observar o desenvolvimento do menino selvagem, relacionando processos inatos e seus produtos obtidos através da interação com o ambiente sociocultural, notando-se sua constituição através de outros fenômenos. Na trama, é possível constatar que Victor possui, por exemplo, uma inclinação inata ao bipedalismo, porém apresenta uma locomoção revezada entre quadrúpede e bípede não-ereto, possivelmente por ter se desenvolvido na floresta, isento do contato humano. Após o tratamento realizado pelo Dr. Itard no garoto, este passa a utilizar-se do bipedalismo em tempo integral. Isso mostra que esses processos atuam em tempos distintos e geram produtos também distintos, ajudando a compor o repertório de adaptabilidade do organismo, permitindo uma interação mais eficaz com o ambiente (Carvalho Neto & Tourinho, 2001; apud Lorenz, 1965/1973; Skinner, 1966/1980). (Lorenz, 1965/1973; Skinner, 1966/1980; apud
Assim, inicialmente, ao se falar sobre a natureza do vínculo em Ana Carvalho (2005), pode-se explicar a dificuldade de Victor em construir sua identidade. Esse processo foi comprometido pela ausência de possibilidades para, durante sua infância, construir vínculos significativos com pessoas adultas, uma vez que Victor cresceu isolado num meio selvagem. Nesse ambiente, ele não teve a oportunidade de estabelecer conhecimentos compartilhados ou mesmo obter habilidades sociais. Outro ponto que vale a pena ser comentado é que, mesmo no sistema de educação proposto por Itard, não houve interação com outras crianças, o que, para Ana Carvalho, representaria um risco significativo no desenvolvimento pleno do indivíduo.
Mas, também, é possível falar de um tipo especial de vínculo: o apego. De acordo com Mouras & Ribas (2009), na teoria do apego, existe um conjunto de sistemas comportamentais, que são chamados sistemas de controle, no qual o medo é um deles. Dessa maneira, analisa-se que, quando Victor foi retirado da selva e começou a ser cuidado pelo Dr. Jean Itard e pela Madame Guérin (contratada pelo médico), a sensação de medo deve ter começado a atuar sobre ele. Victor evitava em vários momentos seus cuidadores, estranhava-os e chegou, muitas vezes, a ter acessos de raiva desmedida. Porém, avalia-se, por outro ângulo, que a própria aproximação da "sociedade como um todo"
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