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Resenha crítica filme Americqanah

Por:   •  14/7/2017  •  Resenha  •  2.989 Palavras (12 Páginas)  •  253 Visualizações

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ADICHIE, C. N. Americanah. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Resenha

Kássia Moraes de Barcelos

Iniciarei esse texto falando um pouco da autora Chimamanda Ngozi Adichie: nasceu na Nigéria em 1977, em Abba, onde mesmo jovem, já é considerada entre muitos como uma das grandes escritoras nigerianas que escrevem sobre os problemas que afetam o país, dentre eles o racismo. Além de ser vista como atuante feminista tem a literatura como instrumento de denúncia. Principal autora nigeriana de sua geração e uma das mais destacadas da cena literária internacional, a autora parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. De forma bem-humorada, conta seu romance mais arrebatador, um épico contemporâneo. A personagem Ifemelu, na obra Americanah[1], tem certa semelhança com Adichie, como por exemplo, o fato de terem pais, que são professores universitários, e ambos deixarem a Nigéria para migrar temporariamente para os Estados Unidos. Chimamanda formou-se em Escrita Criativa na Universidade Johns Hopkins de Baltimore e tem mestrado em Estudos Africanos pela Universidade de Yale. Hoje, a autora divide seu tempo entre a Nigéria e os Estados Unidos, ensinando Escrita Criativa para quem deseja se tornar uma escritora.

A autora possui várias palestras, podendo ser encontradas Youtube, que tratam sobre temas interessantes, como a que chama “Sejamos todos feministas” que foi convertida em livro pela Companhia das Letras, que é quem publica todos os seus livros no Brasil (Meio sol amarelo, Hibisco Roco e Americanah). É igualmente honesta ao tratar sobre a questão de gênero, e alguns detalhes que ela ressaltou de nossa cultura que encaramos de outra maneira. Ela usa seu discurso na íntegra.

Os espaços principais narrados no romance são a Nigéria, Estados Unidos e Inglaterra. As personagens híbridas Ifemelu[2] e Obinze[3] partem de uma geração de nigerianos que migram para os Estados Unidos (Ifemelu) e Inglaterra (Obinze), onde tentam construir uma vida nova. Há que salientar que tanto Ifemelu quanto Obinze são indivíduos que, ao perceber as condições sócio-políticas que afetam a Nigéria e o sistema educacional do país em declínio, decidem buscar uma vida melhor em outros países, por achar que esta seria a melhor opção. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem a ilusão do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar e universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves.

A autora através de uma história de amor, com personagens bem estruturados e uma narrativa interessante, aborda temas importantes que devem ser discutidos e a realidade triste de que, na verdade, o racismo está sempre presente e, muitas vezes, nem percebemos, como questões universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

A história não acontece em um tempo cronológico, começando quinze anos depois que Ifemelu deixa a Nigéria e se encontra em um salão de beleza para escolher um penteado e voltar à sua terra natal. No momento em que ela é atendida, o narrador mergulha nas memórias de Ifemelu, levando o leitor à infância da personagem. Importante destacar que Ifemelu não vai a um salão especializado em cabelos de pessoas brancas, mas sim a um especializado em tranças africanas. Onde descreve o ambiente da seguinte forma:

Ficavam na parte da cidade onde havia muros pichados, prédios cujo interior era escuro e úmido e onde não se via nem uma pessoa branca; tinham letreiros coloridos com nomes como Salão Especializado em Tranças Africanas Aisha ou Fatima, tinha aquecedores que faziam a temperatura subir demais no inverno e aparelhos de ar condicionado que não esfriavam o ar no verão, e estavam repletos de funcionárias francófonas da África Ocidental, sendo que uma delas seria a proprietária, aquela que falava inglês melhor, atendia o telefone e era respeitada pelas outras (ADICHIE, 2013, p.16).  

O contexto em que os imigrantes dos Estados Unidos se aglomeram num senso comunitário, neste caso, os indivíduos negros e migrantes, fica claro na citação acima, a situação marginalizada e possível com as situações fora do universo literário apresentado na obra.

Assim que Ifemelu começa a ter o cabelo trançado, lembra-se de quando era criança e de como era viver em seu país. Lembra-se também de quando sua mãe, após ser convertida para o cristianismo, cortou todo o cabelo em busca de uma redenção divina. Cresceu à sombra do cabelo da mãe, sempre se questionando o porquê de ela ter tomado essa decisão, já que para a garota, sua mãe tinha o cabelo mais bonito do mundo. “Era preto retinho, tão grosso que sugava dois frascos de relaxante no salão, tão cheio que tinha de passar duas horas sob o secador e, quando finalmente era libertado dos bobes rosas, saltava, livre e vasto, cascateando pelas costas como uma celebração” (ADICHIE, 2013, p. 49).

A relação do cabelo na obra é uma questão muito forte, pois retoma a identidade de uma pessoa negra que, durante toda a construção histórica, tem seu cabelo como marca, principalmente quando se refere ao racismo.

A identificação com a nacionalidade e a cultura sempre foi um dos aspectos mais

fortes na constituição das identidades. De fato, a busca pela identidade nacional e, muitas vezes, pela “pureza étnica e cultural” foi, e mesmo ainda hoje é, uma realidade entre diversos países que buscam a homogeneização da cultura e acabam ignorando os efeitos negativos que isso causa sobre povos de diferentes origens e culturas que habitam o mesmo local. Onde, a partir dessas conclusões, percebe-se que Ifemelu se constitui nesse espaço novo, nas novas ramificações criadas pelo fluxo de afirmar a verdadeira identidade. Um exemplo claro é quando se refere à língua materna. A jovem nigeriana está ciente de como é importante manter a todo o momento sua identidade africana, sem causar o apagamento de suas origens quando se muda para os Estados Unidos. O primeiro passo para isso é não esquecer o inglês nigeriano, a sua pronúncia, “o seu falar de casa”, pois assim que chega à América, ela sente que naquele lugar novo e estranho vai ser preciso, antes de mais nada, manter algo que lembre as suas origens, sem que ela se perca.

Todavia, a primeira imposição que Ifemelu encontra ao chegar à América não é apenas a sua cor e origem, mas também a língua, pois mesmo que saiba falar inglês, o nigeriano não pode expressar as marcas linguísticas que aprendeu no seu país. Mesmo ao perceber a repressão sociolinguística, a nigeriana resiste de muitas formas para que não se esqueça de sua língua e a mantenha como uma forma de lembrança nacional. Sobre este ponto, Barzotto (2011, p. 38) aponta: “Evidencia-se essa inversão explicitamente na troca de idiomas, pois os europeus obrigam os sujeitos colonizados a falarem língua do colonizador, apagando séculos de vida e de história, muitas vezes renomeando pessoas, lugares e costumes.”

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