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Resenha do livro: O Fio das Palavras

Por:   •  2/3/2016  •  Resenha  •  2.438 Palavras (10 Páginas)  •  7.434 Visualizações

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Resenha do livro: O Fio das Palavras

      Cancello, introduz o seu livro O Fio das Palavras, 1991, descrevendo que o texto foi escrito inicialmente para os alunos do 4° ano do curso de Psicologia da Universidade Católica de Santos que é o período onde acontecem os enfrentamentos com a diversidade de abordagens terapêuticas. Porém o conteúdo da leitura é destinado tanto profissionais da área, quanto para leigos e tem como objetivo contribuir para o aumento da bibliografia sobre psicoterapia existencial disponível em português.

          O autor define Psicoterapia como um acontecimento onde estão envolvidas através do contato entre duas pessoas. E precisamente por esse intimo envolvimento assumido entre  terapeuta e paciente é que através da linguagem venham a se constituir o encontro, onde o objetivo dessa confiança segue o fio das palavras que assim como do silêncio, terão como função trazer à presença do terapeuta, que é aquele que escuta, que terá uma atitude de testemunha e não de juiz, e dessa forma, faz com que o paciente fale do problema que o aflige, que o incomoda, mesmo que problema tenha sido gerado no passado, ele precisa ser trazido ao presente para que possa ser primeiro compreendido e depois solucionado. Esse objetivo de trazer o cliente para o aqui-e-agora é porque nesse momento a verdade se desvela. O objeto comum da procura do cliente, é a cura, e para isso aconteça vai sendo traçando um caminho através desse contato simbólico de significações.

          Cancello, (1991, p.17), traz que para se tornar um especialista e aprender a arte é preciso passar pelas seguintes etapas; primeiro lugar, precisa de um diploma em Psicologia, ou seja, cursar a graduação e depois especializar-se na linha que deseja trabalhar. Durante o curso e até mesmo depois de formado, o estudante e o psicólogo precisam se submeterem a terapia como também uma supervisão como paciente. Presume-se que em certo momento o terapeuta passa a entender o que é psicoterapia. Não se trata apenas de um conjunto de leis ou regras, pois envolve um clima emocional, onde o aprendiz poderá fazer um prolongado exame de suas capacidades e possibilidades humanas.

         O processo terapêutico consiste na observação do fenômeno que emerge no momento do encontro, buscando a redução fenomenológica, para entender o significado do mundo, do eu, do outro e qual o sentido disso tudo. O homem sempre está buscando algo que o constitua e é nessa relação com o outro durante sua vivência que encontra oportunidades de vivenciar inúmeros tipos de relações, que servem como ensinamentos, ajuda, troca, aprendizagem, enfim uma gama de oportunidades que podem ser experienciadas e que de alguma forma irá afetar sua existência.

          É dessa maneira que, na perspectiva existencial, que a relação entre terapeuta e cliente deverá ser vista, como um encontro, pois eles irão trazer à tona questionamentos que provavelmente irão mudar a direção da vida de um cliente.

           A intervenção terapêutica pode levar a pessoa a um amadurecimento que lhe propicie, progressivamente, maior autonomia e liberdade interna, nas mais diversas situações conflitantes em sua vida.

           O livro em questão pretende compreender e apreender essa problemática através de um caso: “ o encontro de João com o seu terapeuta”.

           João demostra frequentemente ser uma pessoa que não sabe o quer, e quando sabe não consegue realizar seu desejo. Aos 20 anos, órfão, foi morar com a avó, não questionou outra possibilidade de se organizar, a difícil convivência de ambos fez com que aparecesse nele suspeita de dores abdominais de origem “nervosa”. Aparentemente uma pessoa que reflete muito sobre as causas infantis de suas mazelas, e pensa em vários momentos ter descoberto a origem dos males que o afligiam, esperou que a cura acontece mais nada se deu.

          Então João procura ajuda terapêutica no intuito de solucionar seus problemas, entretanto o terapeuta não foca curar o sintoma de João que na verdade foi o que o levou ao consultório, o foco do terapeuta é o paciente, a pessoa tudo que ele traz, para que o próprio encontre caminhos em si mesmo para elucidar os problemas que emergem em sua vida.

          O sofrimento de João não era apenas físico, era também emocional, ele sentia fortes dores no estomago, causadas aparentemente pelas perturbações psíquicas da rejeição do pai, a perda dos pais, sua mudança para casa da avó, como também a agressividade com que a tratava. Quando essa avó também morre ele sente remorso que consequentemente vinham acompanhados por pesadelos, e com isso surgi as fortes dores, com toda essa demanda acontecendo com João sua vida social ficou em segundo plano e ele ficou à deriva.

          A psicoterapia existencial pretende compreender os fenômenos humanos, podendo oferecer ao seu cliente a possibilidade de recriar a realidade e de uma forma sutil, desligar-se do que sempre se formou como essência, para haver a volta à procura; e nesse retorno João pode até reencontrar o sofrimento, mas agora de forma autêntica, e o terapeuta junto com ele vai construindo a trajetória rumo ao âmbito de cura. Essa experiência de relacionamento humano, o pro-curar junto com o outro, não se reduz a "solucionar um problema" ou a "eliminar um sintoma". Pretende ser uma experiência imaginada, evidenciando a imensa capacidade humana de reinventar o mundo.

         A cada encontro João traz novos relatos de sua vida ao terapeuta e ele vai puxando o fio da conversa sem nunca deixa o assunto terminar, as palavras de João nesses relatos não terminam e ele sempre leva para a sessão algo novo e nova descoberta para que junto ao seu terapeuta possam descobrir de onde vieram todos esses sentimentos que mexem e revela tanto para João. A tarefa do terapeuta é confiar em seu cliente, escutando-o e ajudando-o a encontrar os significados em sua própria vida.

           No sonho poderia ter sido feita por parte do terapeuta, dentro dos padrões teóricos uma intervenção para oferecer um caminho ou significado, mas, enfim. João termina por assemelhar esse sonho ao ódio que sente pela avó, relata que ela não lhe dava carinho, e quando dava, logo o retira. A lembrança deste sonho veio em um momento no qual era falado por ele do sentimento em relação as mulheres o que coloca à mostra desejos proibidos. É observado pelo terapeuta a inquietude de João, que cobra um parecer cientifico, ou seja, o suposto saber do profissional. Ao termino de sua fala as imagens desaparecem, porém no silêncio que se sucede as lembranças voltam a sua mente como os mesmos tópicos. A mulher, o acolhimento e a morte. O significado é parte de uma história individual e trouxe em seu enredo o amor e o ódio, uma mistura de realidade e fantasia. A confusão se instala na mente de João diante das possibilidades que ele mesmo traz como explicação para aquela experiência. Mesmo tentado a dizer algo ao seu cliente, o terapeuta permite que prossiga em seu relato. Com essas fortes lembranças inevitavelmente vem o choro e a sensação de dúvida; afinal, ele gosta ou não da sua avó? Porém sentimentos de carinho, ternura, mágoa, indiferença, raiva e condescendência vão aparecendo na forma que ele compõe o cenário da relação entre neto e avó.

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