SOBRE OS INVERTIDOS – SIGMUND FREUD
Por: Taoan • 14/11/2017 • Abstract • 2.280 Palavras (10 Páginas) • 668 Visualizações
SOBRE OS INVERTIDOS – SIGMUND FREUD
Resumo
O presente artigo tem como objetivo abordar a questão dos ditos “invertidos” nas
perversões ou aberrações sexuais, trabalhadas por Sigmund Freud em seu primeiro ensaio
contido na obra “Três Ensaios sobre a Sexualidade”, visando discutir questões como o caráter
fundamental da heterossexualidade como normal, a patologização dos ditos invertidos pela
medicina-psiquiátrica do fim da era Vitoriana (1837-1901), o objeto sexual, a escolha dos
objetos sexuais e os desvios do mesmo. Além de expor a diferença que o termo “perversão”
possui nos dicionários e o que ele representa para a psicanálise, versando ao mesmo tempo
sobre o uso indevido do termo “degeneração” usado para se referir aos invertidos
patologizados pelas autoridades da época.
Palavras-Chave: Sexualidade; Perversão; Inversão; Objeto-Desejo;
Introdução
O termo “perversão” provavelmente quem o lê, pensa instantaneamente em definições
como: corrupto, devasso, sujo, imoral e outros adjetivos negativos. Aqui não se faz negação
de todas essas possibilidades de definições para o termo “perversão”, mas para a psicanálise
as perversões são atos que se desviam da norma ou do padrão estabelecido, algo que é
desviante.
Em “Três ensaios sobre a Sexualidade”, Freud (1996) nos traz dois novos conceitos
logo de início, sendo eles o Objeto Sexual ou a pessoa de quem provem a atração sexual e o
Alvo Sexual que seria a ação para qual a pulsão impele. Portanto qualquer ação sexual que
fuja do ato normal (procriação) pode entrar para as ditas perversões. Todo ato que se desvia
desse objetivo então poderia ser enquadrado nas perversões. Assim aponta Freud: Em
nenhuma pessoa sadia falta algum acréscimo ao alvo sexual normal que se possa chamar de perverso,
e essa universalidade basta, por si só, para mostrar quão impropria é a utilização reprobatória da
palavra perversão. (FREUD, Vol. VII, Cap. 1, p. 152, 1996) 1
Com exemplos claros, Freud cita as modalidades do sexo oral e anal, que podem sim
fazer o ato sexual ser mais intenso e até prazeroso para os envolvidos, mas que não possui em
sua finalidade outra coisa que não seja a descarga das pulsões sexuais, libidinais. Não haveria
o fator de perpetuação da espécie, portanto, não seria normal. Mas o que é normal?
Os Invertidos
No livro “O banquete” (no original: o Simpósio), Platão chama a sua casa um grupo
de amigos para versar sobre o deus Eros, também conhecido como o responsável pelas
paixões e desejos dos homens. Entre seus convidados se encontrava o antigo dramaturgo
grego Aristófanes, que leva a mesa de conversa seu entendimento sobre o porquê sentimos
um desejo que nunca é saciado. Em sua história, relata que no início da humanidade os seres
humanos eram seres que dispunham de duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Eram
seres completos que beiravam a perfeição em sua forma. Tais seres em sua quase-perfeição
queriam conhecer os deuses a quem louvavam, e assim foram de encontro ao Monte Olimpo
onde se situava a morada dos deuses. O deus Zeus ao ver essas criaturas mortais em sua
presença se enfurece, e como castigo lança um raio que corta ao meio todos os seres
humanos, que assim permaneceriam para sempre, desejando encontrar sua outra metade para
preencher esse vazio agora instalado, mas jamais conseguindo tal façanha. Vale constatar que
em algumas versões desse mito, tais seres humanos não possuíam como via de regra uma
cabeça masculina e uma feminina, mas tendo variações como um corpo com duas cabeças
masculinas ou duas cabeças femininas. Tal constatação em muito faz sentido ao lembramo-
nos que a atração por pessoas do mesmo sexo era algo comum na Grécia antiga, e não visto
como anormal em diversas outras civilizações antigas, portanto a procura pelo mesmo sexo
não seria anormal.
A hipótese trazida por Aristófanes é muito interessante por apresentar um motivo para
a busca incessante que temos pela realização de nossos desejos, sendo o desejo de se tornar
completo, de preencher nosso vazio e assim não mais desejar, se tornando pleno, como o
1 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Um caso de Histeria, Três ensaios sobre
sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Vol. VII, Imago, 1996. p. 152.
maior deles. Além de também mostrar como o desejo pelo mesmo sexo pode ser visto como
algo de natureza normal, e não patológico como muitos acreditavam e ainda acreditam.
No final do século XIX, a sexologia se tornara uma nova ciência, empenhada em um
trabalho positivista de classificação dos “tipos” de sexualidade e seus comportamentos. Na
época, toda patologia que
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