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Sobre A Evolução Da Teoria Pulsional Freudiana

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Por:   •  31/3/2014  •  10.011 Palavras (41 Páginas)  •  465 Visualizações

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Sobre a evolução da teoria pulsional freudiana

2.1 A emergência do conceito de pulsão na obra freudiana

De todas as partes lentamente desenvolvidas da teoria analítica, a teoria das pulsões foi a que mais penosa e cautelosamente progrediu. (Freud,1930:139)

Partiremos da premissa de que o corpo fornece uma fonte de estimulação constante, da qual não é possível esquivar-se e que sustenta toda a atividade psíquica. Este postulado encontra-se presente na obra freudiana, desde o início como podemos notar num trecho do artigo de 1895, intitulado Projeto para uma psicologia científica, no qual somos informados que “ (psi) está à mercê de Q”, pois os estímulos endógenos se produzem de maneira contínua, ao contrário dos estímulos externos “e é assim que surge no interior do sistema o impulso que sustenta toda a atividade psíquica. Conhecemos essa força como vontade - o derivado das pulsões” (Freud (1950[1895]:335). Isto significa que não há possibilidade de fuga. Podemos fugir dos estímulos externos, mas não podemos fugir dos estímulos internos, “e nesse fato se assenta a mola mestra do mecanismo psíquico” conclui Freud.

Neste ponto de sua produção teórica, Freud concebe um aparato psíquico que é regulado pelo princípio da inércia neuronal, funcionando no sentido de se ver livre dos estímulos, e isso só é possível através da descarga de Q que ele recebe.

Ele vai definir três grandes sistemas neuronais em seu Projeto para uma psicologia científica. São eles: sistema Psi (), sistema Phi () e sistema Omega de neurônios (). O sistema psi é responsável dentre outras coisas pela memória, e é estimulado diretamente de fonte endógena e indiretamente de fonte exógena via phi. Em função dessa dupla fonte de psi, Freud divide o sistema psi em duas partes: O psi pallium e o psi núcleo, donde os neurônios do pallium são investidos a partir de phi, e os neurônios do núcleo são investidos a partir de fontes endógenas (corpo), que mais tarde veremos que Freud denominará de fonte pulsional.

Os neurônios de acordo com Freud, possuem barreiras de contato, que podem ser mais ou menos resistentes que a magnitude de Q. Se a resistência na barreira de contato for maior que a magnitude de Q, o neurônio em questão é impermeável, retentor de Q. Ao contrário, quando a resistência da barreira de contato, for menor que a magnitude de Q, este neurônio é permeável à energia e, portanto é condutor. Os neurônios impermeáveis servem à memória e os permeáveis à percepção. Os neurônios perceptivos são chamados de phi; os neurônios retentores de Q, portanto portadores de memória são chamados de psi.

O termo pulsão insinua-se para Freud já em suas primeiras publicações ditas pré-psicanalíticas, mas só vai ganhar um estatuto conceitual propriamente no artigo Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, quando Freud vai defini-la como:

(...) o representante psíquico de uma fonte endossomática e contínua de excitação em contraste com um ‘estímulo’, que é estabelecido por excitações simples vindas de fora. O conceito de pulsão é assim um dos que se situam na fronteira entre o psíquico e o físico. A mais simples e mais provável suposição sobre a natureza das pulsões, pareceria ser que, em si uma pulsão não tem qualidade, e no que concerne à vida psíquica deve ser considerada apenas como uma medida da exigência de trabalho feita à mente. O que distingue as pulsões uma das outras e as dota de qualidades específicas é sua relação com suas fontes somáticas e com seus objetivos. A fonte de uma pulsão é um processo de excitação que ocorre num órgão e o objetivo imediato da pulsão consiste na eliminação deste estímulo orgânico (Freud, 1905:171).

No texto em questão Freud distingue fonte, objeto e finalidade da pulsão, sendo a fonte somática e o objeto variável; a finalidade ou objetivo seria a descarga do excesso tensão. É justamente esta variabilidade objeto, ou seja, a independência da pulsão com relação ao mesmo, que vai permitir diferenciá-la nitidamente da noção de instinto, sobre a qual se apoiavam as teorias sobre a sexualidade vigentes à época de Freud.

Os Três Ensaios sobre a Teoria da sexualidade tematizam o conceito de pulsão sexual e não o instinto sexual entendido como uma conduta cujos padrões são fixados hereditariamente.

No que se refere à sexualidade, o padrão natural corresponderia à reprodução animal. Ou seja, uma sexualidade dita normal teria de atender à finalidade de reprodução e manutenção da espécie e toda a manifestação sexual que subvertesse este modelo seria aberrante e perversa.

A originalidade da psicanálise é propor que a sexualidade humana é em si mesma aberrante . A pulsão sexual é independente de seu objeto e “nem é provável que sua origem seja determinada pelos atrativos de seu objeto” (Freud, 1905:149). Ou seja, qualquer objeto pode ser objeto da pulsão sexual, desde que atenda à finalidade de satisfação.

A contingência do objeto e a plasticidade das formas de realização sexual, tal como propostos por Freud em seu artigo de 1905, são precisamente aquilo que distingue a natureza humana dos outros animais.

No homem as modalidades de satisfação estão vinculadas às zonas erógenas. Num primeiro momento a sexualidade humana é auto-erótica e o funcionamento pulsional se dá da seguinte forma: As pulsões parciais (que se relacionam com as excitações de certas partes do corpo) se exercem de forma não unificada, são independentes de um objeto específico e autônomas em relação à função biológica. Freud aponta o sugar como uma das primeiras exteriorizações da sexualidade infantil. Neste ato o que está presente é o prazer de sugar e não a satisfação de uma necessidade. É uma prática que freqüentemente tem por objeto uma parte do próprio corpo, o que a torna independente de um objeto externo, como o seio, por exemplo. Estas duas características – a independência do objeto externo e a independência da finalidade de nutrição - levam Freud a postular um dos conceitos mais importantes dos Três Ensaios – o de auto-erotismo , considerado o momento primeiro da sexualidade infantil, no qual o prazer de órgão se diferencia dos comportamentos puramente adaptativos. O auto-erotismo marca o ponto de ruptura do pulsional em relação ao instintivo.

Durante o processo de desenvolvimento libidinal, que vai do auto-erotismo, passando pelo narcisismo (momento da assunção subjetiva), até chegar ao estágio da escolha objetal, as pulsões parciais vão pouco

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