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Suicidio e trabalho

Por:   •  11/12/2015  •  Resenha  •  1.484 Palavras (6 Páginas)  •  247 Visualizações

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Diante do estado do ambiente que apresentava a cada dia mais resistência, decidi entra em contato com Christophe Dejours. Ele certamente ajudaria abrir um caminho, a estruturar e a animar os encaminhamentos de uma intervenção nos locais de trabalho.

A partir de seus conselhos, foi decidido compor uma equipe com o médico do trabalho, de permanecer alguns períodos por semana no local. Realizando aconselhamento ainda sobre os temas da saúde, certamente, mas também sobre segurança, de absenteísmo, de planejamento sobre os postos de trabalho; aconselhamento sobre a organização do trabalho, sobre o gerenciamento.

Primeira Entrevista – O Pré-Diagnostico

Considerando situações individuais de sofrimento se manifestando no interior da empresa, propus ao CHSCT a criação de um plantão permanente destinado aos trabalhadores desejosos de conversar livremente. Uma colega psicóloga clínica dispôs a ajudar-me durante a esta fase, os pedidos de consulta ocorriam em grande número.

Cerca de trinta entrevista individuais foram então realizadas com pessoas fragilizadas, em dificuldade, pessoas que vieram atrás de ajuda e apoio psicológico, mas também que gostariam de testemunhar, além de seu sofrimento e o de seus colegas.

Todos falavam de uma profunda angustia, medo constante, o clima permanente de suspeição e de violência e, para uns, o desespero, para outros, situações pessoais insustentáveis, mas também profissionais extremamente duras, que não lhes permitia visualizar qualquer sinal de luz no final do túnel.

De início já possível descobrir a extensão da crise que se abateu na empresa e que se prolongava sempre com mais força. Os operários afirmavam não conseguir mais resolver suas dificuldades no seio da empresa e evocavam um sentimento de impotência para fazer à crise até mesmo na vida privada.

Instalação do Coletivo de Pilotagem

Paralelamente às sessões de escuta às sessões de escuta, solicitei, a participação de uma dúzia de pessoas provenientes dos diferentes dos diferentes locais de trabalho de empresa para a constituição do “coletivo”. Convidei os componentes desse coletivo a se engajarem no processo de enquete de escuta e analise. Um processo que se estenderia por vários meses com uma finalidade, realizar entrevistas com os colegas a partir de um roteiro que construiríamos juntos.

A ideia era exercitar a imaginação para começar a vislumbrar e traçar novos rumos, novas modalidades de funcionamento e planejamento do trabalho, para inventar juntos e pouco a pouco reerguer cada elemento desse lugar inteiramente devastado. Com a proposta de colocar em funcionamento um processo de mudança capaz de permitir a todos de não mais viver passivamente ou como vítima, contribuindo progressivamente para o futuro coletivo da empresa.

A Fase Ativa

A intervenção de um membro do grupo foi determinante para a sequência da intervenção. Mostrou a todos ser possível vencer o medo, medo do outro, medo de expor a sua vulnerabilidade; ser possível desempenhar um papel relevante no grupo. Mostrou que a agressividade não era o único meio de comunicação, a coragem de assumir o risco de dizer “Eu” era muito mais eficiente.

 Gradualmente, os participantes se autorizavam, alternadamente, a falar sobre suas respectivas experiências e o que foi vivenciado durante os acontecimentos. A confiança instalou-se, o discurso, a cada dia, apresentava-se mais solto, livre e autentico, e as palavras pouco a pouco ganhavam mais vida.

Os operários diziam estar vivenciando a verdadeira “morte” de seus ofícios, a uma desqualificação que remetia aos sentimentos de inutilidade de perda do sentido. O profissional não tinha mais o seu lugar e passava a ser um indivíduo que podia exercer qualquer papel, “Agora devemos ser bom para executar qualquer tarefa!”.

 O Gerenciamento Questionado

Os assalariados evocavam o modo de gerenciamento muito autoritário e direcionado a mesma pessoa por 10 anos, gerenciamento que camuflava os verdadeiros problemas, as dificuldades, as contradições e colocava os assalariados infantilizados em uma grande dependência em relação a ele.

Ao trabalhadores questionavam como a diretoria da empresa, ao impor-lhe novas formas de trabalho, podia reclamar sobre a situação em que se encontravam, notadamente a maneira como se diziam apegados aos seus respectivos ofícios.

Operários e executivos, evocam um modo de gerenciamento muito centralizado e diretivo, deixando pouco espaço ao diálogo e ao debate, um gerenciamento concebido pela pressão e pelo autoritarismo, pela intransigência, o inumano. Não entendiam o fato de a diretoria da empresa organizar os funcionários de forma isolada, e assim eles não podiam em tal contexto de explosão dos ofícios, agarrarem-se ao único valor de integração da empresa: o saber-fazer técnico.

A Passagem à escrita

A medida que os debates se aprofundavam, um documento tomou aos poucos forma. Os participantes passaram a apreciar os momentos de reflexão coletiva que lhes permitia sair de todo aquele alvoroço. Estávamos ciente que o processo ia avançar por perceber que todos estavam engajados. O coletivo compartilhava a escuta, o debate, proporcionando o prazer de avançar conjuntamente.

Após seis meses de atividade, o documento ficou pronto e decidimos então restitui-lo a todos os trabalhadores das oficinas de todos os setores. O documento circulou nas oficinas, as discussões que provoca, mesmo se inicialmente de forma tensa e polemica, tomavam paulatinamente corpo.

Um Setor Preservado         

A percorrer os corredores das oficinas, encontrei-me, em um setor um tanto afastado e chamado de “a Sibéria” pelos operários, um local onde aparentemente ninguém desejava trabalhar, porque as tarefas eram mais pesadas. Tratava-se do setor de recuperação dos grandes matérias. Descobri que se tratava de um ambiente relaxado e sereno, seus membros me explicavam em que condições isso era possível: uma organização de trabalho deixada de lado pela hierarquia, deixada à própria iniciativa dos operários; organização dos tempos, escolha e adaptação das ferramentas. Um gerenciamento baseado na confiança, na escuta e no compartilhamento.

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