A Sociologia

CHARON, Joel. Sociologia. São Paulo: Saraiva, 2004.

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A Sociologia

osto de compreender os seres hrimanos. Quando adolescente, a filosofia me fascinava. Na faculdade, foi a historia. Concentrei  mens créditos na Area de historia por estar totalmente arrebatado por questoes sobre as pessoas e como viemos a desenvolver o mundo que temos. Lecionei durante algum tempo na escola secundaria e ali me dediquei como diletante a psicologia, que, na época, oferecia

grandes promessas de desvendar mistérios sobre o ser humano.

Tambem adoro musica, mas quanclo von a um concerto is vezes volto minha aten iio mais is pessoas do que a musica. Que tipo de pessoa é o maestro? Como sera seu relacionamento com a orquestra? Quanto conflito havera ali? Sera que eles realmente gostam de en- saiar? Sera que véem uns aos outros como competidores pela posivao principal on como partes de uma equipe? Sera que gostam de fazer musica on sera que é apenas um trabalho para eles?

Encontrei a sociologia mais tarde em minha carreira. A primeira aula de sociologia a que assisti na faculdade nao for muito interes- sante. Tirei a nota minima necessâria e pensei que nunca mais reto- maria a disciplina. Mai entendi do que tratava a sociologia (alguma coisa ligada a problemas sociais, como crimes, alcoolismo e divor- cio), mas nao a levei realmente a sério. Tudo o que en sabia era a socio1ogia‘ser uma disciplina mais ou menos parecida com a psico- logia, e por isso senti uma leve atra âo por ela. A psicologia estuda o individuo, pensei; a sociologia estuda os grupos. Eu nao sabia bem por que precisavamos entender os grupos se compreendesse- rrios os individuos.

Uma aula de orgafl1za9ao social mudou inteiramente men modo de ver a questao. O professor e o material de apoio recomendado por ele abriram todo um novo mundo para mim. Percebi que a sociologia era uma forma de ver o ser humano na qual eu verdadei- ramente niinca pensara. Passei a atentar para o fato de que somos parte de uma organizavao social, nño so em certas ocasises, mas o tempo todo. Esta é nossa caracteristica humana mais basica. Tudo estâ ligado a isso. Recordo-rue de que um aluno perguntou ao pro-

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fessor a respeito de liberdade e organizapao social: Se somos parte  da organizapao, temos livre escolha? Essa pergunta permaneceu comigo. Também lembro a resposta do professor (que eu niio gos-  ter de ouvir): A sociologia é uma perspectiva altamente determinista, segundo a qual for parte do que fazemos resulta  da or.ganiza  âo. Da perspectiva sociologica, somos muito menos livres do que ima- ginamos.

Acontece que fui atraido cada vez mais para a sociologia. Ela se transformou numa paixâo. Oferecia explica9oes que eu nunca en- contrara antes. Nunca me dava respostas definitivas, mas continua- mente salientava aspectos da condipao humana que eu devia levar em considerac^ao se quisesse entendé-la.

Descobri que minha experiéncia inicial com a sociologia nao foi um caso isolado. A maioria das pessoas nao compreende bem essa disciplina. Jornalistas, psicologos, economistas, professores universi- tarios e outros Profissionais — muitos dos quais estudaram sociolo- gia — em geral mo tém idéia alguma do que é a sociologia. Siio

muitos os estereotipos empregados para definir o sociologo: refor- mista social, cientista apaixonado pela estatistica, assistente social, frio observador dos seres humanos, verificador de idéias que todo o mundo conhece. Varias pessoas, aparentemente, consideram a socio- logia como uma versâo da psicologia. Fico até constrangido em dizer que muitos sociologos nao tém a capacidade de “pensar sociologica- mente” a respeito das situapoes que encontram.

O objetivo deste livro é introduzir as idéias centrais que com- poem a perspectiva sociologica. Espero que vocé a entenda e perce- ba sua utilidade, para que passe a ver o mundo e a si mesmo de um modo diferente. Na sociologia existem muitos fatos e campos especializados a serem estudados; neste livro, a finalidade nao é

descrevé-los, mas sim apresentar as idéias essenciais.

O QUE E SOCIOLOGIA?

A sociologia é uma clisciplina acaclémica

A universidade normalmente mo nos fornece certezas. Ao con- trario, uma educa5ao universitaria eficaz deixa em nos uma ânsia de entender mais, e a humildade de reconhecer que mo somos sabios e oniscientes e que, para compreender bem qualquer coisa, temos de ser cuidadosos na investigapao.

A universidade nos apresenta v rias discip rnas académicas. “Disciplinas” porque cada uma possui uma longa historia, cada uma acumulou uin conjunto de conhecimentos e cada uma constitui um

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modo sistematico e cuidadoso (portanto “disciplinado ’) de desen- volver idéias. “Académicas” porque existem principalmente em uni- versidades, onde os estudiosos pesquisam e discutem o conheci- mento reunido. Filosofia, psicologia, sociologia, historia, fisica, ma- tematica e arte, por exemplo, sao normalmente consideradas disci- plinas académicas.

Cada disciplina tern seu proprio enfoque. Cada uma tern uma perspectiva diferente, examinando um aspecto diferente da realidade. Por sua propria natureza, tendem a ressaltar determinados aspectos e ignorar outros. A psicologia examine o desenvolvimento do indivi- duo, a quiinica trata a realidade como uma mistura de substancias quimicas, e a biologia percebe a › ida como genes e meio ambiente. Nenhuma perspectiva académica isolada consegue apreender todos os aspectos da realidade ou nos clar certezas, mas cada perspectiva pode ser um guia util.

A SOciologia e uWD disciplina acadénl ica, e ttina das perspecti- vas encontradas na universidade. Sua historia remonta no rninimo ao século XIX (alguns identificam sua origem numa época anterior). Ela possui um conjunto acumulado de conhecimentos, e ao longo dos anos desenvolveu um método sistemâtico de compreensao. Para muitas pessoas, a sociologia é uma perspectiva util. Para algumas, e uma paixao, porque constantemente  as impele  a  aplica-la  a  seu  mundo  e a suas vidas, alterando verdadeiramente sua compreensao de um modo profundo.