O Conceito De ética
Trabalho Universitário: O Conceito De ética. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: caveerna • 21/4/2014 • 1.777 Palavras (8 Páginas) • 564 Visualizações
O conceito de ética
Alessandro Cesar Bigheto
“Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma de um caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Senão a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto: mas, fora dessa conseqüência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é o errado.”
(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas,)
Ética e moral
É possível dizer que algo é certo ou errado? Existem santos e vilões? O bem e o mal são objetivos e sempre os mesmos em todos os tempos ou dependem da situação histórica, do contexto cultural, ou mesmo, de cada pessoa?
Essas questões fazem parte da Ética. Mas antes de entrarmos no assunto, temos que definir termos. Ao longo do capítulo vamos falar de ações e valores morais e, mesmo tempo, de ética. Tanto moral como ética são termos utilizados tanto pelos autores de que trataremos como em nosso dia a dia. Ouvimos falar que uma pessoa está agindo sem ética, ou que o comportamento de fulano carece de moralidade. Mas ética e moral são a mesma coisa ou são coisas diferentes? É interessante notar que nesse caso a linguagem do cotidiano é sábia, pois analisando a origem das palavras, ética e moral significam sim a mesma coisa. Etimologicamente, moral se origina do latim “mores” e ética vem do grego “ethos”. As duas palavras querem dizer hábito ou costume. Assim, alguns pensadores usam essas palavras como sinônimas, outros fazem distinção entre as duas. Os que diferenciam os dois conceitos dizem que a moral é composta por normas que pretendem regular as ações concretas do homem. A ética seria o ramo da filosofia responsável por fazer uma reflexão sobre estas normas morais. Portanto a ética estudaria o fundamento das ações morais, a necessidade dos valores, quais valores e regras são importantes. A ética seria teórica, enquanto a moral seria a ação concreta.
O que se pode dizer com toda segurança é que nunca houve em toda a história da humanidade, uma sociedade, uma comunidade ou grupo que não tivesse algum tipo de código moral. Onde há duas pessoas convivendo, já é preciso haver princípios, regras ou acordos, que permitam a convivência. Se consideramos que estas regras são estabelecidas entre as partes ou impostas pelo mais forte ou se existem princípios imanentes do ser humano, que são naturais, dados na sua consciência – é o que examinaremos, invocando as mais diversas posições filosóficas.
Para entendermos melhor o que é uma ação moral, pensemos que há vários tipos de ações humanas: há as que são mecânicas, como dormir, andar, digerir ou respirar. Elas ocorrem de forma natural e necessária. Não tomamos a decisão de respirar. E há ações que envolvem escolha. O que devo fazer? Quais as conseqüências daquilo que faço? A minha ação é boa ou má? Qual decisão é a melhor? Ou seja, somos livres e responsáveis em nossas ações, pois podemos avaliá-la. Essas são as ações morais. Se essas ações têm origem instintiva, emocional, racional ou social – é umas das mais problemáticas questões. Ao longo da história, muitos pensadores se preocuparam em pensar estas ações.
Sócrates e Jesus
As duas personalidades que mais influenciaram o mundo ocidental no campo da moralidade foram, sem dúvida, Sócrates e Jesus. Eles nada escreveram, mas suas existências e suas mortes marcaram a consciência ocidental, a ponto de não podermos discutir qualquer coisa a respeito de Ética, sem mencioná-los.
O ensino de ambos foi oral, transmitido a discípulos, que depois narraram suas vidas e suas idéias, porém, o mais impactante foi a vivência moral que tiveram. Às vezes, os filósofos dizem, escrevem, comunicam idéias, mas no plano da convivência com outros homens, retraem-se, pouco fazem de significativo – embora suas doutrinas possam muito influenciar a história. Mas Sócrates e Jesus, cada um em sua época e seu contexto, representaram posturas existenciais muito originais e instigantes, que ainda hoje nos tocam. Analisemos cada um deles, levando em conta, que, neste texto, não estamos tratando de Jesus, do ponto de vista dogmático das religiões cristãs, mas como ser humano excepcional, cujas idéias e práticas mudaram a história.
Sócrates, como já vimos, se contrapõe aos sofistas – que advogavam a retórica, esvaziada de conteúdo e de busca de verdades – criando o conceito. Mas sua busca era sobretudo a busca de uma verdade moral. Voltou a filosofia para o interior do ser humano, com seu imperativo do “conhece-te a ti mesmo”, procurando fazer com seus interlocutores o processo “maiêutico” ou parto – no caso um parto espiritual – em que ele pretendia trazer à luz a divindade escondida da alma humana. Esse método de filosofar de Sócrates (que é ao mesmo tempo um método pedagógico) pressupõe alguns conceitos básicos a respeito do ser humano: o de que todos temos uma parte divina dentro de nós, cujo despertar é possível e desejável, para alcançarmos a felicidade. Aliás, a felicidade depende justamente disso – de o ser humano atingir em si mesmo essa parte essencial, profunda, divina, trazê-la à tona da consciência, vivenciá-la em seus valores de justiça, piedade, coragem, retidão. A única e possível felicidade é a do ser realizado moralmente, a do ser justo, a do que tem a consciência tranqüila. No século XX, o psicólogo humanista Erich Fromm, que recuperou a tradição socrático-platônica e aristotélica, define assim em seu livro Análise do Homem: “A principal missão do homem em sua vida é dar à luz a si mesmo, é tornar-se aquilo que ele é potencialmente. O produto mais importante de seu labor é sua própria personalidade”.
A atitude de Sócrates era coerente em todos os sentidos, porque ele não se engajava na busca de bens terrenos – que ele dizia serem passageiros – e, ao invés dos sofistas,
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