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Observando Aulas De Ciências

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Por:   •  26/11/2013  •  4.176 Palavras (17 Páginas)  •  152 Visualizações

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Aprendiz de professora: Observando aulas de Ciências

SinaraCybelle Turíbio e Silva Nicodemo

Prática de Ensino em Ciências Físicas e Biológicas - T 02 22/06/2011

Introdução

O presente artigo é o resultado da atividade prática de observação, realizada durante 9 horas como parte das atividades da disciplina EDU O725 - Prática de Ensino em Ciências Físicas e Biológicas, do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação do professor Alexander de Freitas.

O objetivo deste trabalho é descrever e analisar aulas desenvolvidas em uma

turma de 9º ano de uma escola estadual de Natal, Rio Grande do Norte. Foram observadas aulas de Ciências.

No estudo, encontra-se uma caracterização da escola e da turma, além de algumas considerações sobre a visão de ciência que orienta os processos de ensino- aprendizagem e a seleção de conteúdos realizada pelo professor.

O período de observação é de suma importância para o estabelecimento de um primeiro contato com os alunos, professores e escola, e para a interação e adaptação a esse novo ambiente até então desconhecido na prática. Além disso, tem como objetivo a reflexão sobre aquilo que é presenciado na escola, contrapondo com preconceitos que se tem.

Observando...

A escola

A Escola Estadual Professor Antônio Pinto de Medeiros localiza-se em um bairro periférico da cidade do Natal, chamado Pitimbu, de classe média. Entretanto, a maioria dos seus alunos mora em outro local, o bairro Planalto, um região mais humilde - antes de ser elevado a categoria de 'bairro", era uma favela.

A escola é constituída por 12 salas de aula, além das salas de apoio pedagógico, como a sala da direção, coordenação pedagógica, secretaria, sala dos professores, biblioteca, sala de vídeo e laboratório de informática.Na escola há também um grande pátio, onde são realizadas as atividades de recreação e educação física; porém, para essas atividades é necessária, em alguns casos, a utilização de uma quadra poliesportiva pública pró xima as dependências da escola.

Para cada turno de aulas (matutino, vespertino ou noturno), há uma coordenadora cuja atribuição é cuidar de problemas disciplinares que possam ocorrer nas turmas. Além disso, esse profissional costuma ir nas turmas para dar avisos sobre questões concernentes a escola, ocasião na qual aproveita para observar o comportamento dos alunos, principalmente no que diz respeito a regras de comportamento anteriormente impostas, como por exemplo, verificar se determinados grupos de alunos estão sentados separadamente.

A sala dos professores é um verdadeiro local onde se reflete a insatisfação

desses profissionais. Os principais assuntos são o péssimo salário e as más condições de trabalho, como por exemplo, a alta carga horária. Além disso, a sala dos professores parece ser um local de distração, onde ocorre uma verdadeira confraternização entre professores, funcionários, estagiários e voluntários, até mesmo alunos.

Cada professora tem a sua sala; os alunos, portanto, se deslocam para assistir

aulas das diferentes disciplinas. A justificativa para isso é a possibilidade de se organizar ambientes temáticos, de acordo com cada matéria. Porém, na sala da professora de biologia não se observou nenhum diferencial em relação a uma outra sala de aula normal, até porque todos os recursos didáticos encontram -se na biblioteca.

Como recursos audiovisuais, a escola conta com aparelho de DVD, vídeos e TV, localizados na sala de vídeo. O projetor multimídia (Datashow) está localizado na sala da direção, à disposição dos professores, que devem reservá-lo com antecedência caso queiram utilizá-lo. Em nenhum momento evidenciei, durante o estágio, alguma 'fila de espera" para este recurso, o que denota o seu pouco uso pelos professores.

Na biblioteca - ampla, bem iluminada e climatizada - pode-se encontrar, além de livros didáticos, vários materiais de apoio pedagógico, como cartazes referentes a diversos assuntos de biologia, moldes do corpo humano e uma réplica do esqueleto humano. Bastante organizada, a biblioteca se propõe a ser um espaço tanto para professores e alunos, o que se observa na existência de material de apoio ao professor, como as publicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e computadores, que só podem ser usados pelos docentes. A biblioteca também contém obras-de-arte (pinturas), mesas para estudo em grupo e cartazes de motivação e homenagens. Porém, em nenhum momento do estágio, observei a utilização da biblioteca e de seus recursos, ficando ela fechada durante todo o tempo.

Com relação ao laboratório de informática, penso eu que lá existam computadores à disposição, tanto de professores como alunos; todavia, essa sala também manteve-se, durante o período de estágio, fechada. Os professores tem a sua disposição, na sala da direção, uma impressora, para impressão de provas; infelizmente, porém, não é dado acesso para impressão de trabalhos e outros materiais de apoio de aulas.

A direção da escola, representada pela vice-diretora (que fica na escola durante o turno verpertino, período em que se deu o estágio), mostrou-se bastante solícita com os estagiários e, no que pôde, os ajudou a desenvolver o seu trabalho.

A professora de Biologia

A professora titular foi bastante receptiva com a ideia de ter uma estagiária. Ela é uma jovem profissional, aberta a novas ideias e me deixou a vontade para planejar as aulas. Entretanto, ela não concordou muito com as regras do estágio, como por exemplo, o número de observações, que achou excessivo. Também senti uma certa desconfiança de sua parte, uma vez que ela relatou experiências anteriores com estagiários descompromissados. Senti também um certo desconforto, por parte da professora, pelo fato de eu ter minha formação na UFRN (a professora foi formada em outra instituição, privada).

Nas aulas, a professora mostra uma boa relação com os alunos,conduzindo

apropriadamente sua autoridade pedagógica. Os alunos sempre a obedecem e a respeitam.

A turma

A turma é constituída por 39 alunos, porém, devido a alta evasão, estavam presentes nas aulas uma média de 20 alunos. São alunos de classe média ou pobres, brancos, morenos e negros. Em nenhum momento foi observad o algum tipo de discriminação entre os alunos por esses ou outros motivos. A faixa etária varia de 14 a 21 anos, sendo que a maioria tem 18 anos. Apenas uma aluna estava nivelada, com

14 anos de idade. Ela ficava sempre isolada, ao fundo da sala; não costumava participar das discussões levantadas em aula.

Se não fosse por um grupo de quatro alunos, as aulas seriam um grande silêncio, interrompido apenas pela voz da professora. Tive a impressão de que muitos alunos, ali, só estavam de 'corpo presente". Esse grupo é formado por quatro meninos, provavelmente mais jovens, bastante agitados, que conversam, brincam e andam pela sala. Alguns outros alunos, na maioria meninos, divertem-se com as brincadeiras; as meninas, por sua vez, não demonstram muita paciência. Uma delas, certa vez, levantou-se da carteira e pediu para um dos meninos pararem de atrapalhar a aula, pois queria ouvir a professora. Outras alunas vieram até mim, como se eu fosse uma fiscal, e reclamaram dos meninos, pois eles nunca paravam de falar bobagens e atrapalhar as aulas.Essa impaciência das meninas com relação aos meninos pode ser explicada devido ao fato de elas amadurecerem mais cedo do que eles, o que é normal no que concerne ao desenvolvimento de adolescentes.

Por incrível que possa parecer, o grupo dos 'meninos bagunceiros" é o que mais participa da aula, ou seja, que responde as questões feitas pela professora. As meninas, juntamente com os meninos mais velhos, sempre ficam mais quietos, aparentando desinteresse e desmotivação, aspectos esses que também podem justificar a alta evasão da turma. Vale salientar, que, neste caso, o termo 'evasão" significa 'desistir da escola", e não apenas 'matar aula".

A aula inicia-se sempre nas quartas às 13h, com tolerância de 15 minutos, tanto para alunos como para professores, e nas quintas às 16h, após o intervalo, somando uma carga horária de 3 horas-aulas semanais. Tanto a professora quanto os alunos dessa turma, de maneira geral, mostram-se pontuais - pelo menos respeitam o tempo de tolerância. Questões disciplinares como pontualidade e a presença de alunos nos corredores no horário de aulas sempre são muito bem controladas pela

coordenação pedagógica da escola. E para garantir a segurança, policiais militares comumente andam pela escola, tanto em seu interior, como nos arredores.

O envolvimento dos alunos com a aula varia de acordo com as atividades.

Algumas estratégias de escape, por parte de alguns alunos - principalmente por partedaquele grupo de alunos mais agitados, foram percebidas, principalmente aquela na qual os alunos passam a adiar o início deatividades, como copiar algum resumo no quadro ou responder algumexercício.

Alguns alunos menos participativos também cooperam com as atividades

propostas. Isso pôde ser observado, pois vários alunos mais calados vieram a mesa da professora requisitar-lhe os 'vistos", bem como para tirar dúvidas.

Em nenhum momento observei atitude agressiva ou desrespeitosa em relação a professores. Era comum, porém, apresentarem comportamento debochado em relação aos colegas. Demonstram afeto, respeito e receptividade. É uma turma, apesar de ser bastante irregular (o que torna ainda mais difícil o atendimento de necessidades individuais de cada discente), com qualidades e com bastante potencial. Aliás, essa foi a grande surpresa que tive nessa observação: alunos de escola pública com sutil inteligência, com capacidade de pensar criticamente e aprender. Cabe ao professor, portanto, aproveitar essas capacidades, provavelmente criadas pelo próprio modo de vida dos alunos.

Comentando as aulas observadas

"Professora, é difícil decorar!"(20/04/2011)

A professora inicia a aula propondo um trabalho de pesquisa. Vai ao quadro e escreve: 'Trabalho de Ciências; Assunto: Elementos Químicos". Escreve também o objetivo do trabalho, que é uma pesquisa sobre os elementos hidrogênio, neônio, flúor, cloro e ferro. Após escrever o passo a passo no quadro, ela explica o que deve ser feito. Ela, também, indica que o trabalho pode ser pesquisado através da internet ou outros livros (inclusive o próprio livro didático). O trabalho possui peso 3,0 e deverá ser realizado em dupla ou em trio, devendo ser entregue no dia da prova, que terá peso 7,0.

Acredito que tal método de avaliação não é totalmente inadequado, mas apresenta algumas falhas. A professora poderia aproveitar e pedir para que cada grupo apresentasse sua pesquisa em sala, pois é bastante provável que sejam encontradas utilidades diferentes para o mesmo elemento químico por cada grupo. Sem falar que também é uma chance de dar aos alunos uma oportunidade de expressarem-se oralmente. Além disso, quando é cedido espaço para os alunos falarem e discutirem, é possível a percepção de dúvidas e dificuldades do processo de pesquisa. Dessa forma, como não houve a avaliação oral dos resultados da pesquisa, terminei minhas observações sem concluir se os alunos sabem pesquisar sobre algo.

A professora não usou em sala de aula, em nenhum momento, o livro didático

adotado na escola para as turmas de ciências. Segundo ela, o livro é muito extenso e possui conteúdos que não fazem sentido para o aluno.

De fato, a adoção do livro didático, nos níveis fundamental e médio de ensino,

é algo absolutamente questionável. O livro possui graves defeitos: a tendência por tentar ordenar o conhecimento, ao mesmo tempo também tenta impor a importânciade certos conteúdos para o desenvolvimento do aluno, sem necessariamente serem. Para o professor, o livro pode representar algumas vantagens, como o fato de fazer com que o docente não precise preparar aulas, o que um aspecto bastante significativo, já que a carga horário do professor da rede estadual de ensino,responsável por um grande número de turmas por turno, é muito alta. Além disso, professores homens normalmente trabalham em vários turnos para compensar a remuneração, que é baixa; professoras mulheres, em contrapartida, não costumar trabalhar em turnos diferentes, mas possuem jornada dupla de trabalho por normalmente terem família para cuidar (o salário não permite a contratação de empregadas domésticas).

Porém, a praticidade de se trabalhar com livros didáticos esconde um grande perigo: o dar aulas sem sentido para o aluno. Os livros, receitas prontas, não costumam considerar a as concepções individuais de cada aluno, assim como ignoram a importância de se selecionar conteúdos mais adequados ao contexto social em que se enquadra a turma. A verdade é que os livros didáticos minam a capacidade criativa do professor.

A professora, após explicar o trabalho de pesquisa, volta o quadro o copia o conceito de átomos isótopos, isóbaros e isótonos. A professora também copia exemplo. A turma demora muito para copiar e a professora, aparentando não estar muito apressada, aguarda. Após ter a certeza de que todos copiaram, passa, então, a explicar a matéria. Alguns alunos levantam questões apenas para atrapalhar a exposição da professora, que os ignora.

Muitos alunos reclamam, referindo-se aos termos 'isótopos, isóbaros e isótonos": 'Professora, é difícil de decorar!", ou ainda, 'Professora, sei o que esses nomes significam, mas sempre confundo os nomes!". A professora, então, vai ao quadro dá a solução:

IsotoPos P=próton IsobAros A=massa IsotoNos N=nêutron

ISO=igual

Com essa atitude, a professora parece dar mais valor ao fato dos alunos decorarem os nomes do que realmente entenderem o que eles significam. Enquanto ela dava esse 'macete", me veio a seguinte questão: será que entender a diferença entre esses termos vai fazer alguma diferença na vida desses alunos?

A professora, após explicar o 'bizu", volta ao quadro e copia alguns exercícios, para reforçar a decoreba. São exercícios simples que, para serem resolvidos, precisa-se fazer uso de operações simples de matemática, como somar ou subtrair. Com o tempo, os alunos vão terminando os exercícios e indo até a mesa da professora com o caderno para receber os 'vistos", ou ainda, para tirar dúvidas. A professora, também, levanta-se e atende os alunos em sua carteira. Se o aluno mostrar que fez todas as atividades propostas, ele ganha 1,0 ponto, caso precise para completar na média.

De acordo com a professora, essa foi a única maneira que ela encontrou para fazer com que os alunos participassem das aulas e das atividades propostas. Porém, penso eu que, se a professora propusesse atividades mais estimulantes do que 'exercícios decorebas", como atividades de discussão em grupo ou trabalhos manuais com argila ou massinha para representar esses elementos, acredito que não seria necessário 'pagar" pelo interesse do aluno.

Na medida em que os alunos vão concluindo o exercício, começam a se exaltar. A professora, então, procede a correção. A grande maioria dos alunos participa dessa correção. Com isso, ao finalizar, a professora libera os alunos mais cedo, pois precisa realizar uma oficina do projeto 'Ensino Médio Inovador".

Exercícios (27/04/2011)

O objetivo da aula é a revisão dos assuntos abordados na aula anterior, visto o grande espaço entre elas causado pelo feriado de Tiradentes. A professora vai ao quadro e passa uma continuação do exercício da aula anterior. Enquanto isso, os alunos copiam em silêncio, com exceção de 2 ou 3 alunos que conversam em voz alta. Alguns alunos levantam as mãos para tirar dúvidas. A professora atende cada um individualmente.

Em um certo momento da aula, alguns alunos de outra turma, o 2º ano 'B",

entram na sala. Eles reclamam da aula de química com a professora; relatam que o professor é muito ruim, porque não escuta os alunos. Com isso, eles não aguentam a aula e saem. Como não podem ficar alunos pelos corredores, eles acabam entrando em outras turmas.

Tive a oportunidade de observar a professora de biologia dando aula a essa

mesma turma que reclamava do professor de química. Em nenhum momento presenciei algum comportamento como esse em relação a ela. Os alunos sempre a respeitavam: pediam licença até para sair para beber água. Isso prova que diferentes comportamentos podem ser assumidos pela turma diante das diferentes posturas dos professores.

Na medida em que os alunos vão terminando de copiar, vão se dispersando, e começam a passear pela sala. Observei também que muitos alunos ajudavam na correção das atividades dos colegas, demonstrando solidariedade.

Antes de iniciar a correção no quadro, a professora dá o visto nos cadernos dos alunos. Durante a correção, os meninos que mais conversam são os que mais participam e normalmente acertam os exercícios e as perguntas da professora. Ao terminar a correção, a professora escreve no quadro os assuntos da prova. Ela também relembra sobre o trabalho de pesquisa e o dia da prova. Dito isso, ela

autoriza os alunos a guardarem o material, que esperam sentados pelo toque para poderem sair da sala.

Enquanto esperávamos pelo toque do final da aula, questionei a professora

sobre a administração do tempo da aula e sobre as atividades em grupo. Com relação a primeira pergunta, ela me respondeu que sempre temos que ter um 'plano B" (fiquei sem entender qual foi o 'plano B" que ela usou para o caso. Será que foi pedir para os alunos guardarem o material e esperar o toque?); já com relação a segunda pergunta, que ela já havia tentado colocar a turma para trabalhar em grupo na sala de aula, mas nunca conseguia um bom resultado, porque os alunos se dispersavam muito com conversas paralelas. Eu acredito, entretanto, que esse grau de dispersão diminui de acordo com a atividade que se propõe.

Infelizmente, após essa aula de exercícios, tive a sensação de que a professora estava ali mais de 'corpo presente" do que os próprios alunos.

Hoje é dia de assembleia... (28/04/2011)

Com início dos rumores de uma nova greve, os professores marcaram uma assembleia, e com isso, muitos deles não foram dar aula. A professora de biologia, entretanto, recusou-se a ir a esse encontro. Ao chegar à escola para dar aula, deparou-se com uma confusão, pois a coordenadora pedagógica mexeu em todos os horários e locais de aula para que as aulas fossem adiantadas. Ficamos, então, na sala dos professores esperando o término da 'organização" desses horários.

Fomos encaminhadas para outra sala, mais ventilada e maior. Antes de a professora iniciar a aula, que seria uma revisão para a prova, a coordenadora chega a porta da sala e briga com um aluno que estava conversando com o colega. Falou-lhe que já tinha conversado com o seu pai e que, a mando dele, devia separá-los de lugar. O menino, que estava alegre, baixou a cabeça e encaminhou -se para uma das carteiras da frente da sala. Permaneceu calado do início ao final da aula.

A realização da chamada pela professora é várias vezes interrompida pela

coordenadora. O problema é que os alunos de outra turma - 1º ano 'B" - estavam sem a outra estagiária de biologia, que ainda não havia chegado devido as mudanças nos horários feitas pela própria coordenação. Sobrou, então, para mim: a coordenadora pediu para a professora me liberar pra ficar com esses alunos,

enquanto a outra estagiária não chegava. Só havia um problema: o que eu iria fazer por lá?

A impressão que tive foi a de que o único objetivo da coordenação era de

manter os alunos dentro de sala e fora dos corredores. Não haveria problema se fosse ter um macaco de circo animar a turma, conquanto que ele conseguisse manter os alunos dentro da sala de aula. Por um lado, é até compreensivo a preocupação da coordenadora: a escola é pequena e, por isso, qualquer movimento no pátio acaba por atrapalhar as aulas. Mas não acredito que jogar uma estagiária que nunca deu aula, nem muito menos preparou uma aula para esses alunos, com os quais ela nunca teve contato é uma boa solução.

Para resolver o problema, a professora, ao me liberar, entregou-me uma ficha com questões sobre as questões abordadas na aula anterior. A orientação foi a de copiar no quadro essas questões e esperar a estagiária chegar.

Fiquei surpresa ao ser tratada na turma por 'professora" ou 'senhora".

Copiei as questões no quadro. Enquanto copiavam, conversavam bastante, mostrando-se muito agitados. Logo após eu terminar de copiar, a estagiária chegou. E eu voltei a minha turma.

Na turma do 9º ano, a revisão acontece normalmente. A professora fala dos

elementos químicos, mas não fala de sua importância ou funções. Relembra mais uma vez o macete dos átomos isótopos, isóbaros e isótonos. Acredito que isso vai cair na prova.

Os alunos fazem questões não por estarem movidos pela curiosidade ou pela vontade de aprender, mas sim, porque sabem da grande probabilidade dos assuntos discutidos na revisão caírem na prova. Alguns vão até a mesa da professora, tirar dúvidas; outros bagu nçam; a maioria permanece calada. A professora sempre costuma dizer que quanto mais calada uma turma, mais notas baixas aparecem na caderneta.

Mais uma vez, a professora encerra a aula de revisão antes do término da

aula. Pede para os alunos permanecerem sentados, com o material guardado.

A prova (11/05/2011)

A prova foi dividida em questões discursivas e objetivas. As carteiras foram separadas, de forma a dificultar a 'cola". Os alunos terminaram a prova rapidamente.

Acredito nas vantagens de uma prova escrita bem elaborada, que é a do

professor poder, através dela, comprovar realmente o que o aluno aprendeu, além de se avaliar seu próprio desempenho como professor. Porém, questões objetivas, apesar de serem muito práticas para a correção, nem sempre são capazes de mostrar esses aspectos. Porém, acho importante o uso de avaliações com questões objetivas, uma vez que a sociedade está repleta de concursos desse tipo. O estudante, na minha opinião, deve saber lidar com esse tipo de questão, e um ótimo lugar para se treinar é a escola.

Com relação a avaliação proposta pela professora, percebi que ela foi usada

como instrumento disciplinador, com a qual se faz ameaças em troca de determinadas atitudes por parte dos alunos. Não acredito que a prova em questão tenha surtido algum efeito no processo de ensino-aprendizagem do aluno.

Tabela periódica (12/05/2011)

Após a prova, a professora inicia uma nova matéria: tabela periódica. Apenas estão presentes 18 alunos. A turma está tranquila e pergunta a todo instante sobre a nota da prova. Porém, a professora ainda não concluiu a correção.

A professora vai ao quadro o copia um resumo sobre a classificação periódica dos elementos. Ao mesmo tempo em que copiam, os alunos conversam (os meninos sempre conversando mais que as meninas). Enquanto isso, a professora foi buscar o projetor (Data Show).

Ajudo a professora a montar o projetor. Ela pede para que os alunos tragam uma tabela periódica para a próxima aula. Ao projetar a tabela periódica, a professora lembra que é importante estudá-la porque sempre tem uma tabela como essa no vestibular. Ao dizer isso, ela virou-se para mim e perguntou se ainda se imprimia a tabela periódica nas provas de vestibular. Eu respondi , chocada, que sim.

Então, de acordo com a professora, a importância de entender a tabela

periódica reside no fato de ela sempre estar presentes em exames. Pergunto-me: qual

foi a importância da tabela periódica para a professora, enquanto aluna? E enquanto professora e cidadã? Após ouvir a justificativa da professora, a única coisa que pude concluir foi que, para ela, a existência de uma tabela periódica no mundo não faz a mínima diferença em sua vida. Pensando dessa forma, como um professor pode enaltecer a importância de algo que para ele não faz sentido?Da mesma ocorre com aluno: como ele perceberá essa importância, se o próprio professor não a considera? Vai ver, para essa professora, o único sentido se estudar tabela periódica é o fato de esse conteúdo estar presente em programa de conteúdos a ela imposta. Com sentimento de frustração, agora pergunto-me: o que essas aulas trouxeram realmente de concreto para a formação cidadã desses alunos?

Sabe-se que a tabela periódica é um instrumento útil para estudar as características dos elementos existentes na natureza. Porém, não faz muito sentido aprender sobre a tabela periódica se antes não se aprendeu sobre a origem desses elementos e suas implicações sobre a Terra.

Enquanto a professora fala sobre as diferenças entre as tabelas periódicas

(como assim?), no sentido de que elas são todas iguais, só mudam as cores (confuso, não é?), a aula termina. Ele pede um pouco mais tempo para concluir. Poucos a ouvem.

Neste dia, também, iniciou-se oficialmente a greve na escola, com a adesão da grande maioria dos professores e funcionários. A próxima aula seria minha última observação.

Finalizando...

Durante as observações das aulas de Ciências, percebi a postura tradicionalista da professora, que adotou metodologia de ensino diretiva, centrada no professor, baseada em exposições orais e visuais, visando sempre a memorização por parte do aluno. Além disso, ela apresentou a ciência aos seus alunos como um produto final, com a aura da verdade acabada.

Dessa forma, os alunos são considerados uma tábula rasa e vazia, nos quais

suas concepções individuais não são aproveitadas. É importante que o professor tenha conhecimento dessas concepções, sempre tentando relacioná-las com o novo

conhecimento, de forma a produzir o tão famigerado conflito cognitivo, e não apenas esperar que os alunos adquiram o conhecimento de maneira submissa.

É importante também que o professor demonstre sensibilidade ao tratar de

um conteúdo, no sentido de que este possa fazer sentido aos alunos, de acordo com a sua realidade. A liberdade pedagógica de escolha de conteúdos e métodos p elo professor está garantida por lei. Cada professor, portanto, tem autonomia para as decisões dentro da sala de aula.

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