Sociabilidadee Construção De Uma Identidade Entre Antropecentricos E Ecocentricos
Trabalho Escolar: Sociabilidadee Construção De Uma Identidade Entre Antropecentricos E Ecocentricos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: fgentil • 14/12/2013 • 8.354 Palavras (34 Páginas) • 243 Visualizações
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Sociabilidade e construção de identidade - SÉRGIO TAVOLARO
SOCIABILIDADE E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE ENTRE
ANTROPOCÊNTRICOS E ECOCÊNTRICOS
SERGIO B. F. TAVOLARO*
A vinculação de processos de transformação sócio-econômica com forte
impacto sobre o mundo natural às organizações ambientalistas que emergem no seio
da sociedade civil tem sido sugerida por diversos estudos que se debruçam sobre um
fenômeno social com crescente importância ao longo dos últimos 50 anos. Tanto na
Europa quanto nos Estados Unidos, como em inúmeros países em desenvolvimento,
setores da sociedade civil passaram a internalizar o mundo natural, de maneiras as
mais variadas, na construção de suas identidades e na produção de propostas de
sociabilidade. É curioso pensar que o mundo moderno, fundamentalmente caracterizado
por um desenvolvimento sem par das forças produtivas e pela secularização
das formas de vida, responsável por elevar o ser humano à condição de ser capaz de
controlar racionalmente seu devir, assiste hoje a um sensível processo de
"reencantamento da natureza" por parte de alguns de seus setores. A natureza, depositária
de carga simbólica inequívoca às mais diversas sociedades humanas, parece,
com o advento da modernidade, ter se distanciado quase que definitivamente do
ser humano para, então, ser resgatada e sobrevalorizada, não só como fonte de sobrevivência,
mas como detentora de significado para novas tentativas de dar unidade e
sentido a um mundo que, ao menos em parte, caracteriza-se pela dissolução de velhas
referências de significação em meio a crescentes processos de racionalização.
É tal movimento de distanciamento e reaproximação que nos desperta a
vontade de investigar esse estranho paradoxo que se acentua exatamente em um
momento em que a modernidade mostrar-se-ia próxima de seu ápice de realização.
Num momento em que se alcançou tamanha capacidade de controle e domínio sobre
os processos naturais, em que se atingiu tão alto grau de complexidade e de
fragmentação sociais em função dos quais chega-se a afirmar que, em nossos dias, os
homens agem unicamente de forma racional para a consecução de fins subjetivamente
estabelecidos, não se trata de uma quimera a emergência de grupos que almejam
a redenção da natureza? Ao atingirmos uma condição na qual sistemas econômicos
e político-administrativos ganharam autonomia suficiente a ponto de sujeitarem
a seus imperativos estilos de vida, valores morais e estéticos, concepções de
mundo, realizações culturais, não haveria algo de anacrônico no resgate do mundo
natural por organizações que se dinamizam exatamente no interior dessa complexa e
secularizada sociedade?
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Ambiente & Sociedade - Ano III - No 6/7 - 1o Semestre de 2000/2o Semestre de 2000
As questões que nos propomos aqui investigar derivam da possível
relação de sentido entre modernidade e organizações ambientalistas da sociedade
civil: afinal de contas, até que ponto tais organizações, no produzir e reproduzir de
suas sociabilidades, na construção de suas identidades, na proposição de alternativas
a um futuro que lhes parece ameaçador diante das crescentes situações de
risco no mundo contemporâneo, são não só um produto mas também um catalisador
da modernidade? De que maneira o mundo natural é internalizado na sociabilidade
proposta pelas organizações ambientalistas da sociedade civil em suas tentativas
de regulamentar as relações dos homens entre si e deles com a natureza? Até
que ponto tal resgate da natureza é a expressão de uma sociabilidade secularizada
que empunha como um de seus valores centrais a racionalização das concepções
de mundo, dos processos de integração social, e de construção reflexiva da subjetividade?
Seria possível, no interior de uma ordem social moderna, isto é, no interior
de estruturas sociais pautadas pela racionalidade, encontrarmos organizações
sociais que recuperam "elementos pré-modernos" na proposição de sociabilidades
e na construção de identidades? Não haveria aqui uma grave contradição, um
forte descompasso, um absurdo sociológico?
É importante salientar que tal debate já tem seu espaço consolidado
não só nas discussões internacionais, como será possível perceber pela bibliografia
de apoio aqui utilizada, como também na academia brasileira voltada para a investigação
da questão ambiental. Apenas para citar quatro importantes exemplos,
Héctor Leis (1999), em A Modernidade Insustentável: as críticas do ambientalismo
à sociedade contemporânea e demais reflexões sobre ambientalismo e globalização
(LEIS,
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