Trabalho
Por: Alana07 • 18/9/2015 • Trabalho acadêmico • 3.308 Palavras (14 Páginas) • 127 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Centro de Humanidades
Curso de Ciências Sociais
Disciplina de Gestão Urbana
Prof. Rosângela Maria
Aluna: RAQUEL CRISTINA ARAÚJO FREITAS
1.SOBRE A CIDADE, A GLOBALIZAÇÃO E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA.
A cidade têm, hoje, tanto imagens negativas quanto positivas. Por um lado, é o centro espacial que aglomera todas as contradições e conflitos do capitalismo e, por outro, é onde nascem as produções culturais e intelectuais de maior importância para a superação desses mesmos conflitos. É na cidade onde se torna evidente o processo de globalização: é aqui onde se produz a comunicação de massas, que circula entre os diferentes cantos do mundo, destribuindo informações as mais variadas possíveis; e é aqui onde boa parte dos produtos da economia global chegam e se distribuem.
A expulsão das populações do campo à cidade, ocorrida devido ao crescimento do latifúndio, fez nascer, no Brasil, grandes metrópoles que agregam problemas urbanos os mais variados - da criminalidade à pobreza extrema. O crescimento do desemprego, resultado da informatização da economia, agudiza mais ainda os conflitos de classe presente na sociedade brasileira.
Ao mesmo tempo, é na cidade onde se encontram as diversas culturas locais, onde nasce a diversidade em si. Uma cidade como São Paulo, por exemplo, por seu tamanho, aglomera uma variedade incrível de produção cultural. E, além disso, é lá onde se encontra produtos de qualquer parte do mundo. A globalização está presente em São Paulo mais do que em qualquer outra cidade do Brasil.
É preciso, no entanto, ter uma visão crítica sobre essa globalização. Ladislau Dowbor, no texto entitulado "Da globalização ao poder local: a nova hierarquia dos espaços.", comenta que há segmentos bem mais globais que outros. Quer dizer, existem informações e produtos que circulam mais facilmente pelo globo do que outros, o que impede a socialização completa das culturas locais. É o que ele chama de "globalização hierarquizada". "Navegam com confiança neste espaço as cerca de 500 a 600 empresas transnacionais que comandam 25% das atividades econômicas mundiais, e controlam cerca de 80 a 90% das inovações tecnológicas." (p. 58). São justamente essas empresas que estão no topo da globalização hierarquizada e decidem o que pode e não pode ser socializado globalmente. Assim, nem todos os produtos e informações são distribuidos igualmente pelo globo. Alguns deles permanecem apenas a nível local.
As grandes metrópoles, então, são o centro onde se pode encontrar os produtos materiais e simbólicos vendidos por essas empresas, e digo "vendidos", porque seria equívoco falar em distribuição ou socialização. Em São Paulo há todo tipo de entretenimento disponível, mas a maioria com altos custos. Nem todos podem ter acesso igualmente à "globalização". Apenas a classe média intelectual tem um acesso mais livre às informações e produtos globais. As classes precarizadas tem um acesso limitado aos mesmos produtos. Um bom exemplo é a comparação entre aqueles que tem acesso à tv aberta e aqueles que podem pagar uma Tv a cabo. A tv a cabo contém notícias e informações do mundo inteiro - e mesmo assim submetidas à "globalização hierarquizada" comentada por Dowbor - enquanto a tv aberta transmite apenas uma programação muito limitada. Quer dizer, além de poucas empresas terem o poder de se tornar "globalizadas", nem todos podem ter acesso à essa "globalização".
A maioria das metrópoles nasce como núcleo industrial ou político da região. Atualmente, no entanto, elas vêm perdendo essa função, pois a indústria foi aos poucos se transferindo para as regiões metropolitanas, e a política foi distribuída espacialmente pelos municípios, apesar do núcleo do governo do Estado (Assembléia Legislativa e Sede do Governo) manter-se na capital. Esses locais, hoje, são mais como centros de relações internacionais, sejam comerciais, políticas ou culturais. É como um ponto de encontro global.
As metrópoles surgiram com funções centralizadoras relativamente aos espaços nacionais que as geraram. Hoje, este papel de "núcleo" de amplas bacias econômicas tende a ser substituído pelo papel de elo numa rede internacional de "cidades mundiais", na expressão de John Friedmann. (DOWBOR, 1996, p. 65)
Ladislau Dowbor percebe também que é na cidade onde nasce a possibilidade de produzir estratégias de organização mais aprimoradas. Se é nela onde nascem os conflitos, as contradições, é nela que deve surgir as respostas para esses problemas. Mas, para o autor, essas estratégias de organização devem ser a nível local, pois cada cidade tem seus problemas específicos. A organização a nível local tende a ser mais eficiente porque torna possível a participação direta dos cidadãos na vida política, resgatando a idéia de Pólis. Assim, ao invés de sermos cidadãos de quatro em quatro anos, teriamos uma vida participativa direta sempre que fosse possível e necessário. Ao mesmo tempo, as experiências de participação podem ser socializadas globalmente. Isso, de certa forma, já acontece, mas ainda de maneira limitada. A experiência de orçamento participativo de Porto Alegre, por exemplo, se transformou em referência para os autores que estudam o tema da democracia participativa. No entanto, essa experiência pouco é veiculada pela mass midia. Então, esbarramos na questão do monopólio dos meios de comunicação, ou seja, no capital midiático. Para se alcançar uma democracia participativa seria necessário que as classes desprivilegiadas tivessem direito também à informação, para socializar experiências.
Notas conclusivas
Parece que há uma forte contradição entre democracia participativa e capitalismo, pois o segundo impede que o povo se aproprie dos meios de produção os mais variados - seja produção de cultura, informação, ou produtos. Assim, o crescimento de um pressupõe o enfraquecimento de outro. A democracia participativa significa igualdade política que o capitalismo não consegue sustentar, pois igualdade política também pressupõe igualdade econômica. Assim, lutar pela democracia participativa pode ser uma maneira eficiente e realista de lutar contra a apropriação desigual dos bens materiais e simbólicos produzidos, e portanto, contra a própria globalização hierarquizada. No Brasil, a idéia de uma democracia participativa ainda é tida como uma idéia "radical", principalmente nos ultimos anos, com o crescimento da direita conservadora no congresso. A luta pela participação popular é uma ameaça aos interesses dos grandes latifundiários e empresários que se apropriam da máquina política brasileira, pois significa a participação da classe que ameaça o acúmulo de capital desses setores.
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