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Racismo Científico

Por:   •  3/9/2017  •  Ensaio  •  1.502 Palavras (7 Páginas)  •  460 Visualizações

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As Origens e o Desenvolvimento do Racismo Científico nos Séculos XIX e XX

Gabriel Morales RA:11201721263, João Pedro Machado RA: 11201720180, Lucas Ventura RA: 11201721599

Ao se analisar o histórico comportamental da humanidade, a constatação de que a prática hierárquica presente no reino animal também se faz presente nas relações sociais estabelecidas pelo homem é evidente. Mais do que uma interação entre um dominante e um subordinado, desenvolveu-se ao longo dos séculos uma visão de soberania cultural e étnica que serviu como pretexto para subjugar povos considerados “menos desenvolvidos” ou ainda “naturalmente menos capazes”. O conceito de supremacia da raça ariana se difundiu por toda a Europa, transcendendo a ética e a moral e servindo como pretexto para o que ficou conhecido como Neocolonialismo do Século XIX. Grandes potências europeias passaram a explorar mão-de-obra e recursos naturais de regiões dos continentes africano e asiático sob a cobertura do que hoje é chamado de Darwinismo Social, cujas ideias de superioridade de uma raça em relação à outra justificariam a exploração sem precedentes dos povos orientais. É importante pontuar que é nesse contexto que nasce o racismo científico, que enraizou pensamentos sociais discriminatórios em diversos países europeus que perduram até os dias de hoje.

Para entender a origem de tais visões sociais, deve-se primeiro compreender em qual linha de pensamento estas se basearam. O naturalista britânico Charles Darwin, em sua obra “ A Origem das Espécies (1859) ”, foi de encontro aos princípios criacionistas (muito fortes no contexto da época) de que cada ser vivo fora criado independentemente e com características imutáveis. Ao propor sua hipótese, expôs a ideia de seleção natural – onde os melhores adaptados ao seu meio sobrevivem – e também de evolução a partir de um ancestral comum, admitindo a heterogeneidade e a ramificação dos seres vivos através de infinitas linhas evolutivas. Ainda que não tivesse noções práticas e teóricas quanto à genética, ao defender que a vida tende naturalmente a selecionar positivamente espécimes privilegiados em relação ao seu meio, originando assim descendentes com as mesmas características, Darwin indiretamente sugeria que linhas evolutivas que perpetuavam possuíam o mesmo parentesco. Nesse contexto, pensadores sociais tentaram aplicar essa ótica para a sociedade da época, alegando que a raça ariana – quase que totalidade na Europa –, dado seu avanço tecnológico e sua influência mundial, seria a melhor adaptada e evoluída em relação ao meio em que vivem, ou seja, em relação a sociedade como um todo. Consequentemente, teriam a capacidade e o direito de subjugar povos tidos como “atrasados socialmente”, reservando para si a possibilidade de explorá-los e dominá-los da forma que lhes fosse conveniente.

Dentre os protagonistas do desenvolvimento desta pseudociência, destacam-se como pioneiros ao longo do século XIX algumas figuras de grande influência na época. Robert Knox, médico cirurgião inglês, pleiteava em sua obra “ The Races of Men (1840) ” a visão de que características físicas e comportamentais eram intrínsecas a cada raça humana, não havendo possibilidade de variações. Descreveu os saxões (a qual ele próprio se incluiu) como naturalmente superiores a outras raças em determinados aspectos. Em paralelo, o filósofo francês Joseph Arthur de Gobineau publicou em seu “ Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (1855) ” a tese que defendia a superioridade da raça caucasiana (branca) em detrimento das demais, cujo conteúdo afirmava que a miscigenação entre as raças fadava a sociedade ao atraso e ao fracasso.

Contudo, além de justificativas culturais, o racismo científico possui também precedentes na área biomédica, por onde se sustentou através de pesquisas e ensaios que correlacionavam características físicas e visuais como fatores proporcionalmente representativos dos atributos cognitivos de um espécime.  A frenologia, ciência dedicada ao estudo de áreas do cérebro, desenvolvida pelo alemão Franz Joseph Gall, passou a ganhar um novo foco em meados do século XIX no sentido de se determinar para cada raça suas faculdades mentais, morais e comportamentais a partir da simples análise do cérebro de um exemplar. Seguindo a mesma linha de raciocínio e evidenciando a contaminação da ideologia racista pelo mundo, o médico Samuel Jorge Morton, nos EUA, liderou um estudo onde afirmava que a complexidade e a estrutura do crânio de cada raça eram diretamente proporcionais ao seu nível intelectual, tendo publicado em seu livro “ Crania americana (1839) ”, um ranqueamento de raças, destacando a raça branca como superior às demais.

Dado o momento circundado de apologias à supremacia europeia, somado com a concepção de seleção natural proposta por Darwin, o filósofo inglês Herbert Spencer encontrou o cenário perfeito para formular uma hipótese que mais tarde viria a receber o título de “ Darwinismo Social ”. Ainda que esse termo não tenha sido utilizado por Spencer, suas ideias o denominaram assim por aplicar os conceitos da seleção natural para a sociedade e a raça humana. Detinha o pensamento de que a seleção natural quando aplicada em termos na sociedade favoreceria a supremacia de determinados grupo, destes sobre os outros.

 Por sua vez, Francis Galton, primo de Charles Darwin, encontrou a necessidade de aliar o já proposto Darwinismo à teoria de Thomas Malthus. Segundo o malthusianismo, em um determinado instante ao longo do tempo, a produção de recursos seria insuficiente para atender a demanda da população mundial. Galton então uniu ambas teorias com o propósito de solucionar o suposto colapso da sociedade, dando origem ao conceito de eugenia, definido como “a ciência que trata daquelas agências sociais que influenciam, mental ou fisicamente, as qualidades raciais das futuras gerações”. Em suma, para Galton, seria possível aperfeiçoar a espécie humana caso fosse estimulada a reprodução de indivíduos considerados portadores das melhores e mais valiosas características físicas e mentais em prol da sociedade. Em contrapartida, evitar-se-ia que indivíduos categorizados como carregadores de atributos retrogressivos originassem descendentes, de tal forma que tendessem a se extinguir com o passar do tempo. Assim, a seleção artificial promovida pela eugenia, utopicamente, levaria a raça humana ao seu ápice de proximidade da perfeição.

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