Literatura
Por: Keneddy • 10/5/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 3.137 Palavras (13 Páginas) • 292 Visualizações
AS DOENÇAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA LITERATURA:
A Peste de Albert Camus
Simone Alves Bontempo*
RESUMO
Este trabalho se propõe a analisar a obra ‘A PESTE ’de Albert Camus mostrando a história das epidemias, principalmente a peste e suas implicações dentro a literatura enfatizando os sintomas e a atitude, tanto do médico Rieux quanto da população de Orao que se vê abatida pelo mal.
A obra mostra a peste como uma alegoria da Segunda Guerra mundial, tornado-a um tema para a literatura, pois este mal abalou o biológico, o psicológico, o social e o moral da população.
Palavras-chave: PESTE. EPIDEMIA. MORTE. DOENÇA. RELIGIAO.
A peste bubônica, que devassou a Europa nos séculos XIV e subseqüentes causada pela picada da pulga Yersina Pestis, advinda do rato portadora do bacilo, progride para os gânglios linfáticos causando inflamações.
Com o crescimento das cidades medievais e do comércio, a Europa criava condições de comunicação entre as diferentes regiões. Através das viagens marítimas muitas doenças eram transmitidas, propiciando o aparecimento de epidemias.
* Aluna do 6º período de Letras do Centro Universitário de Patos de Minas. Trabalho orientado pelo Ms.Carlos Roberto da Silva.
A presença de ratos nas populações de condições precárias fazia com que as doenças se progredissem com mais facilidade e estes eram transportados de região para região através dos navios.
As embarcações genovesas chegaram às cidades litorâneas do mediterrâneo, sendo Messina, na Sicília, a primeira a notar o aparecimento de uma nova doença que fazia um grande número de mortos.
Assim a doença se espalhou por toda a Europa que vivia momentos difíceis com a superpopulação e sem terras para o plantio enfrentado grandes fomes e milhares de mortos superlotando os cemitérios das cidades.
Os sintomas da doença são dores pelo corpo, dor de cabeça, mal-estar, falta de apetite, febre e principalmente a presença de bubões, com pus no seu interior, comum nas axilas e virilhas.
A doença se alastrava rapidamente matando, milhares de pessoas e deixando a população em um verdadeiro caos.
Diante disto, com tantas mortes, as epidemias se tornaram um assunto de grande interesse por parte dos literários como é o exemplo de Giovanni Bocaccio que registrou no Decameron os danos provocados pela peste na população como sendo “um tal pavor apossou-se dos corações, tanto dos homens quanto das mulheres, que irmão abandonava irmão, o tio seu sobrinho, a irmã seu irmão e muitas vezes, a mulher seu marido. E, coisa mais inacreditável ainda, os pais e as mães recusavam até mesmo aproximar-se de seus filhos, ou cuidar deles, como se nunca tivessem sido uma família”, pois o pânico estava instalado na cidade de Florença e os que podiam, tentavam fugir enquanto a cidade se dissolvia, porque não sabiam ao certo a causa daquele mal, se era por justa cólera divina para punir a população de seus pecados .
Albert Camus que também se dedicou ao assunto, seis séculos depois, o retoma de maneira ficcional, já que se deparou desde cedo com situações que lhe ofereceram consciência real do mundo em que vivia, tendo sido classificado como um filósofo existencialista cujo pensamento é firmado sobre dois pilares: o conceito do absurdo e o da revolta.
Absurdo porque diz respeito ao confrontamento da irracionalidade que se encontra no homem; e a revolta está vinculada em última análise, à busca inconsciente de uma moral visto que sua filosofia foi fruto de uma realidade e necessidade latente em que viveu.
Camus presenciou acontecimentos como a I e a II Guerra Mundial dentre outros que alterou fundamentalmente sua vida e sua obra passando a descrever cruamente a realidade dura do cotidiano, visando proporcionar consciência sobre a realidade que se encerrava.
Passou assim, a possuir características de uma nova literatura: a eliminação das tradicionais diferenças entre o bem e o mal, entre o certo e o errado; fidelidade dos fatos, devendo-se refletir a vida concreta e absurda do homem; ênfase na responsabilidade feminina.
Assim Camus explora a ocorrência da peste bubônica, doença que aflorou na vida medieval, bem como seu transmissor seus sintomas e sua propagação de forma fictícia, uma vez que sua historia narrada ocorreu em meados do século XX, época em que não houve ocorrência da peste na Europa, mas sim a Segunda Guerra Mundial.
O autor usa das situações conflituosas vivenciadas na época como intuito de conscientizar a coletividade da frágil condição do ser humano que é submetido por influencias físicas, políticas, sociais e imaginárias modificando a rotina, costumes e hábitos da sociedade acometida por epidemias.
Sabe-se que seu livro “A Peste”, pode ser lido como uma alegoria da Segunda Guerra Mundial, em que cidades se submetiam ao estado de sitio desorganizando toda sua estrutura social, política e cultural.
Assim, ele cria uma cidade supostamente na América Latina, chamada Orao, que foi tomada pela peste. Neste cenário de desolação, Camus retrata o conflito entre o individuo e a sociedade, mostrando o ser humano revoltado com suas condições de vida contrária àquilo que ele deseja.
Seus personagens, pessoas cansadas do mundo e de sentimentos, desejos e ações à mercê de forças incontroláveis que provocam mal-estar físico e, sobretudo político no qual sobressai o espírito capitalista que molda a vida de toda uma civilização.
“A Peste” de Camus problematiza o individuo num plano físico e simbólico, mostrando-o como um sujeito subordinado pelo desconhecido e que tem suas vontades deixadas de lado por força da epidemia.
Na obra, o autor questiona a maneira de acabar com esta peste que alastrava rapidamente, matando milhares de pessoas e deixando a população sem comida, sem liberdade e sem nenhuma esperança de vida. Além de mostra a inquietação da população em busca de explicações.
A partir destas considerações, pretende-se desenvolver uma pesquisa cujo tema seja as relações entre o livro ‘A Peste’ de Albert Camus e construção que o autor nos apresenta das relações sociais e culturais na cidade que vive em tais circunstâncias. Questiona-se a relação existente entre relatos históricos acerca da questão e relatos do feitio de “A Peste”, além da representatividade do imaginário popular nessas situações.
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