A Antropologia Medica
Por: Tock • 1/4/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 10.694 Palavras (43 Páginas) • 719 Visualizações
A antropologia médica estuda a forma como as pessoas, em diferentes culturas e grupos sociais, explicam as causas dos problemas de saúde, os tipos de tratamento nos quais elas acreditam e a quem recorrem quando adoecem. Ela também é o estudo de como essas crenças e práticas relacionam-se com as alterações biológicas, psicológicas e sociais no organismo humano, tanto na saúde quanto na doença. A antropologia médica, por fim, é o estudo do sofrimento humano e das etapas pelas quais as pessoas passam para explicá-lo e aliviá-lo. Para colocar o assunto em perspectiva, é necessário saber algo sobre a disciplina da antropologia em si, da qual a antropologia médica é um ramo relativamente novo. A antropologia - do grego "o estudo do homem" - tem sido chamada "a mais científica das ciências humanas e a mais humana das ciências". Seu objetivo é o estudo holístico do ser humano - origens, desenvolvimento, organizações sociais e políticas, religiões, línguas, arte e artefatos.
A antropologia, como campo de estudo, apresenta vários ramos. A antropologia física - também conhecida como biologia humana - é o estudo da evolução da espécie humana e preocupa-se em explicar as causas da atual diversidade das populações humanas. Em sua investigação da pré-história humana, a antropologia física usa as técnicas da arqueologia, da paleontologia, da genética e da sorologia, bem como o estudo do comportamento dos primatas e a ecologia. A cultura material trata da arte e dos artefatos do gênero humano, tanto no presente quanto no passado. Ela abrange os estudos das artes, dos instrumentos musicais, das armas, das roupas, das ferramentas e dos implementos agrícolas de diferentes populações e de todos os outros aspectos da tecnologia que os seres humanos utilizam para controlar, moldar, explorar e melhorar os seus ambientes sociais ou naturais. A antropologia social e a cultural tratam, respectivamente, do estudo comparativo das sociedades humanas contemporâneas e dos seus sistemas culturais, embora haja uma diferença na ênfase entre essas duas abordagens.
No Reino Unido, a antropologia social é a abordagem dominante e enfatiza as dimensões sociais da vida humana. Ela vê as pessoas como animais sociais, organizados em grupos que regulam e perpetuam a si mesmos, e é a experiência da pessoa como membro da sociedade que molda sua visão de mundo.
Nesta perspectiva, a cultura é vista como um dos modos pelos quais o homem organiza e legitima sua sociedade, fornecendo a base para sua organização social, política e econômica. Nos Estados Unidos, a antropologia cultural concentra-se mais nos sistemas de símbolos, idéias e significados que compreendem uma cultura e dos quais a organização social é apenas uma expressão. Na prática, as diferenças na ênfase entre a antropologia social e a cultural fornecem perspectivas valiosas e complementares sobre dois aspectos centrais - como os grupos humanos se organizam e como eles encaram o mundo em que habitam. Em outras palavras, ao estudar um grupo de seres humanos, é necessário estudar as características tanto de sua sociedade como de sua cultura.
Keesing e Strathern- definem uma sociedade como compreendendo "um sistema social total cujos membros compartilham uma linguagem e tradição cultural comuns" - as quais geralmente a diferenciam das populações circundantes. As fronteiras entre as sociedades algumas vezes são vagas, mas, em geral, cada uma tem sua própria identidade territorial e política. Como mencionado adiante, a maioria das sociedades está tomando-se cada vez mais diversificada devido à imigração e a outros fatores. Ao estudar qualquer sociedade, os antropólogos investigam como os seus membros se organizam em vários grupos, hierarquias e papéis. Essa organização é revela da em sua ideologia e religião dominantes, em seus sistemas políticos e econômicos, nos tipos de ligações que o parentesco ou a residência próxima criam entre as pessoas, em suas hierarquias de poder e prestígio e na divisão do trabalho entre pessoas de diferentes origens e gêneros. As regras que indicam a organização de uma sociedade e a forma como ela é simbolizada e transmitida fazem parte da cultura dessa sociedade.
O CONCEITO DE CULTURA
o que é, então, cultura (uma palavra usada muitas vezes ao longo deste livro)? Os antropólogos forneceram várias definições, das quais talvez a mais famosa seja a de Tylor," em 1871: "Aquele complexo integral que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Keesing e Strathern," em sua definição, destacam o aspecto ideacional da cultura. Isto é, as culturas compreendem "sistemas de idéias compartilhadas, sistemas de conceitos e regras e significados que subjazem e são expressos nas maneiras como os seres humanos vivem". A partir dessas definições, pode-se ver que a cultura é um conjunto de orientações (tanto explícitas quanto implícitas) que os indivíduos herdam como membros de uma sociedade particular, as quais lhes dizem como ver o mundo, como experimentá-l o emocionalmente e como se comportar em relação a outras pessoas, às forças sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural. Ela também fornece aos indivíduos um modo de transmitir essas orientações para a próxima geração - pelo uso de símbolos, linguagem, arte e rituais. Em certa medida, a cultura pode ser encarada como uma "lente" herdada através da qual o indivíduo percebe e compreende o mundo em que habita e aprende a viver dentro dele. Crescer dentro de qualquer sociedade é uma forma de enculturação,* pela qual o indivíduo lentamente adquire a sua "lente". Sem este tipo de percepção compartilhada do mundo, tanto a coesão como a continuidade de qual- quer grupo humano seriam impossíveis. O antropólogo norte-americano Edward T. Hall propôs que, em cada grupo humano, há três níveis diferentes de cultura. Estes variam da cultura manifesta e explícita ("nível terciário de cultura"), visível ao estrangeiro, tais como rituais sociais, trajes típicos, culinária nacional e ocasiões festivas, a níveis muito mais profundos, conhecidos somente pelos membros do grupo cultural em si. Enquanto o nível terciário é basicamente a "fachada" pública apresentada ao mundo, abaixo dele situam-se várias presunções, crenças e regras implícitas, que constituem a "gramática cultural" daquele grupo. Esses níveis mais profundos incluem a "cultura de nível secundário", em que tais regras e presunções subjacentes são conhecidas pelos membros do grupo, porém raramente compartilhadas com estrangeiros - e a "cultura de nível primário". Esta última é o nível mais profundo da cultura, "em que as regras são conhecidas e obedecidas por todos, mas raramente ou nunca mencionadas. Suas regras são implícitas, tomadas como certas, sendo praticamente impossível ao sujeito mediano expressá-Ias como um sistema e, geralmente, inconscientes" .
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