Resenha Critica Holocausto Brasileiro

O livro “ holocausto brasileiro”, escrito pela jornalista Daniela Arbex e publicado em 2013 pela Geração Editorial, trata-se de uma leitura dura e cruel que consiste em uma descriçao rica de detalhes de uma das historias mais horriveis e perversas que aconteceu na sociedade brasileira, na qual a negação de direitos e violencias aconteciam aos olhos da sociedade que optou por ignorar por mais de meio seculo diversas barbaridades que vinham acontecendo no hospício de barbacena ( hospital psiquiatrico colônia) localidado em minas gerais, que acarretaram cerca de 60 mil mortes.

Nos relatos trazidos pelo livro podemos observar que a maioria das pessoas que estavam na colônia não tinham nenhum diagnóstico de qualquer problema mental, tratavam-se de mulheres que sofreram violência sexual pelos patrões, alcoolotras, epileticos, prostitutas, jovens que perderam a virgindade antes do casamento e até mesmo crianças por simplesmente serem tímidas. O que nos leva a questionar e entender a verdadeira função da criação da colônia, que nunca foi a de ser um local de cuidado para pessoas com doenças mentais, mas tratava-se de um local para esconder da sociedade as pessoas que fossem consideradas “diferentes”, “estranhas”, “anormais”, ou que tivessem algum motivo que causasse vergonha para sua família.

Durante a leitura um mix de sentimentos foram atiçados em mim, indo desde tristeza e dor ao ler sobre as condições desumanas que as pessoas eram submetidas nas colônias. Muitas vezes foi difícil segurar as lágrimas ao imaginar o sofrimento que eles viveram ao terem que abdicar da sua identidade, se submetendo a ficarem nus, em ambientes com esgoto aberto, expostos a contato com fezes e urina, passando fome, frio, sem a menor condição de higiene básica. Mas também me despertou o sentimento de alívio e felicidade através dos relatos daqueles que sobreviveram a esse “holocauto” e que conseguiram se reencontrar consigo mesmo através da sua reinserção na sociedade, como também, se reencontrar com os seus familiares.

Além das atrocidades que os adultos passavam, o livro aborda alguns casos de crueldade que as crianças eram submetidas na colônia, indo desde alimentação precária, falta de higiene a ponto de seus corpos ficarem coberto por moscas, chegando até mesmo, a estarem dormindo ao lado de outras crianças que já haviam morrido a dias mas ainda não tinham sido notadas pelos funcionários.

Durante a leitura, outro aspecto que me deixou aterrorizada não foi somente o tratamento desumano a que esses pacientes eram submetidos, como exemplo: a aplicação de práticas psiquiatria com utilização de eletrochoques sem nenhuma comprovação de benefícios. Mas principalmente perceber como o estado e as instituições estavam sendo coniventes a isso tudo, inclusive as instituições universitárias, que utilizaram dessa barbaridade como forma de lucrar e se beneficiar por muitos anos nas compras dos cadáveres para utilização nas aulas de medicina.

Um aspecto importante para ressaltar sobre a obra, é a sua gigantesca capacidade descritiva,que permitiu a possibilidade de mesmo estando diante de um lugar que tirava totalmente a identidade pessoal do sujeito, eliminava a sua história e toda sua subjetividade, como a própria autora, afirma quando diz que “Ao receberem o passaporte para o hospital, os passageiros tinham sua humanidade confiscada”,