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O Projeto Terapêutico Singular

Por:   •  28/4/2023  •  Trabalho acadêmico  •  3.111 Palavras (13 Páginas)  •  99 Visualizações

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       Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

     Centro de Ciências da Saúde

   Componente: Vivência Interprofissional

Docente: Drª Ionara Magalhães de Souza

Discentes: Alexsander Santos, Gabriel Lopes, Haylana Carvalho, Paloma Castro, Raí Santos de Oliveira

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PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR


Santo Antônio de Jesus-Ba
2022

Caso Clínico

• ADL, mulher trans, nascida em 1980, negra, ensino fundamental incompleto, solteira, desempregada (cozinha, serviços gerais) – vendedora autônoma;

• Acompanhada na USF – Sobradinho;

• Início de acompanhamento no CAPSad em agosto/2021;

• Motivo do acolhimento: uso crônico de álcool e tabaco iniciados na adolescência;

Atendimento com psicóloga/ técnica de referência: sintomas crônicos de tristeza após a morte da mãe e de um dos filhos;

• Insônia, choro frequente, isolamento, abulia, sentimentos de vazio, medo, ansiedade, pensamentos suicidas (passado de uma tentativa de suicídio anterior com ingesta de veneno de rato);

• Uso compulsivo de bebidas alcoólicas, contraindo dívidas e chegando a passar períodos em situação de rua;

Primeiro atendimento psiquiátrico (novembro/2021) – Adentra o consultório ansiosa, chorando, lacônica em suas respostas. Informa “medo de psiquiatra”.

• Orientado uso supervisionado de diazepam dentro do serviço, grupo terapêutico para alcoolismo. Prescrição de amitriptilina 25mg/dia devido a cefaléia crônica;

• Uso concomitante dos medicamentos (benzodiazepínicos) com álcool, sem percepção de efeitos terapêuticos;

• Aumento do consumo de álcool.

  1. Resumo da identificação e dos dados relevantes da usuária.

Trata-se de uma mulher trans, de meia idade, negra, semi-alfabetizada e desempregada que se apresenta em uma situação ampla de vulnerabilidade: econômica (sem seguridade de uma renda fixa e dívidas registradas); racial (origem étnica negra); Identidade de gênero; Saúde mental. Rede familiar fragilizada por perdas consecutivas (mãe e um de seus filhos), o que pode ser um dos motivadores do quadro de etilismo e tabagismo de longa data, além da situação de rua pela qual passou. Apresenta quadro de insônia, choro frequente, isolamento, abulia, sentimentos de vazio, medo, ansiedade e pensamentos suicidas.

  1. Informações acerca do arranjo familiar.

Há poucos dados a respeito do arranjo familiar. As informações disponíveis demonstram que é uma rede familiar fragmentada e disfuncional, uma vez que relata a perda da mãe e um de seus filhos precocemente. Ademais, carece de informação sobre a condição do pai, demais filhos e outros parentes, possivelmente ocorreu perda de contato durante o período em que esteve em situação de rua e não foi procurada. Com isso, pode-se levantar a possibilidade de preconceito por parte da família devido a sua identidade de gênero ou esfacelamento do núcleo parental por condições financeiras fragilizadas.  

  1. Possibilidades de atuação da equipe diante das potencialidades e     vulnerabilidades encontradas na situação.

Diante da realidade exposta, a equipe deve traçar estratégias que possibilitem a reinserção e construção da autonomia para o usuário em sofrimento, visto que há uma clara situação de vulnerabilidade social em diversos aspectos.

  • O CREAS pode intervir nesse caso a partir do serviço de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, afinal, trata-se de uma usuária com núcleo familiar fragmentado. Esse serviço deve atuar de forma contínua, assegurando a manutenção dos direitos violados e monitorando as condutas prescritas;
  • Verificar se há inscrição no CadÚnico, caso não tenha, contactar o CRAS para realizar a sua inclusão;
  • Verificar a possibilidade de, através do EJA, ofertar a conclusão do ensino fundamental e médio, com o objetivo de facilitar futuros vínculos empregatícios;
  • Tendo como base a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, orientar e reforçar que profissionais do NASF/ESF atuem respeitando a diversidade e incluindo quesitos de identidade de gênero e de orientação sexual nos formulários, prontuários e sistemas de informação em saúde;
  • Investigar através do CRAS se houve discriminação por orientação sexual e/ou por identidade de gênero, que incidiu na determinação social da saúde e no processo de sofrimento e adoecimento da usuária.
  • Dar continuidade do serviço em rede já prestado juntamente ao CAPSad, CREAS, CRAS e NASF.

  1. Situação-problema.

     Mulher transexual de 42 anos, estudou até o ensino fundamental mas não chegou a concluir; ainda não é claro os motivos que a levaram a abandonar os estudos. No entanto, dada a frequência com a qual esse tipo de situação ocorre no Brasil, é possível suspeitar que a descoberta de sua identidade de gênero aliada a cor da sua pele foram motivos para que ADL sofresse discriminação por parte de seus colegas de escola, que posteriormente encontrou refúgio para sua dor nas drogas.

    Chegou a trabalhar com serviços gerais, cozinha e até como vendedora autônoma, e é possível que seu estado de saúde fosse considerado estável até esse momento. Porém, em razão da pandemia e da perda de entes queridos, a carga emocional e a vulnerabilidade social e financeira agravaram os seus vícios e desencadearam uma série de problemas psiquiátricos.

      ADL passou a sofrer de insônia, isolamentos e choros recorrentes, apresentar sintomas de depressão e ansiedade e não encontrava mais razões para continuar viva, o que culminou numa tentativa de suicídio. O aumento do consumo de álcool potencializou sua crise financeira, levando-a a viver nas ruas por um certo período, situação esta que a deixou exposta a diversos outros abusos e violações de seus direitos como cidadã.

      Em novembro de 2021, ADL recebeu seu primeiro atendimento psiquiátrico e deu início ao tratamento de suas mazelas, com prescrição de ansiolíticos, além de grupo terapêutico para a questão do alcoolismo. Também recebeu medicamentos para o alívio de sua cefaléia crônica. Contudo, não refere melhora dos sintomas, fato este que provavelmente se deve à continuidade da ingesta excessiva de bebidas alcoólicas de maneira concomitante ao tratamento medicamentoso.

  1. Ações já realizadas com esta família pela equipe de saúde. 

        Inicialmente, ADL, que era atendida pela Unidade de Saúde da Família- Sobradinho, passa a receber o acompanhamento do CAPSad onde foi atendida primeiramente por uma psicóloga/ técnica de referência e, após isso, pelo médico que solicita exames laboratoriais e de imagem para maiores diagnósticos. No serviço, foi orientado o uso de diazepam em virtude da ansiedade e outros tipos de benzodiazepínicos, também com funções ansiolíticas. Além destes, foi prescrito o uso de amitriptilina 25mg/dia a fim de atenuar a cefaleia relatada. Ademais, foram disponibilizados apoios psiquiátricos e psicológicos posteriores aos primeiros momentos, acompanhamentos com o assistente social, terapeuta ocupacional e nutricionistas do CAPSad.

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