O Artigo Psicanalise
Por: p.yanca • 8/3/2023 • Artigo • 1.121 Palavras (5 Páginas) • 159 Visualizações
As teorias da ansiedade e
das pulsões em Freud
Freud’s theories on anxiety and drives (instincts)
Franklin Goldgrub*
Resumo
Este artigo examina, com base no texto “Ansiedade e Vida Instintual”, as hipóteses teóricas de Freud sobre a ansiedade e as pulsões, e propõe acréscimos às
formulações do autor.
Palavras-chave: ansiedade, pulsões, nosografia, conflito.
Abstract
The present paper analyses, focusing on the text “Anxiety and instinctual life”,
the Freudian theoretical hypotheses on anxiety and the instincts (drives), and
also adds further ideas from the author.
Keywords: anxiety, instinct, nosography, conflict.
AS TEORIAS DA ANSIEDADE E DAS PULSÕES EM FREUD
Após os estudos anteriores dedicados em separado à ansiedade e às
pulsões, Freud decide reexaminá-los em 1932, lado a lado, no mesmo texto1
e, o que é mais intrigante, sem proceder à respectiva articulação.
* Professor titular da Faculdade de Psicologia da PUC/SP, autor de “A Máquina do Fantasma”,
“O Neurônio Tagarela” e “A Metáfora Opaca”, entre outros livros, site: www.franklingoldgrub.com
1 No texto “Ansiedade e vida Instintual (sic)”, das Novas Conferências Introdutórias de
32/33., Standard Edition das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XXII
(Editora Imago). Todas as citações referem-se a esse texto, salvo menção expressa em contrário.
A tradução da Editora Imago faz caso omisso da distinção entre os termos “trieb” e “instinkt”,
traduzindo ambos como instinto. Neste artigo, e seguindo a proposta da escola lacaniana bem
Psic. Rev. São Paulo, volume 19, n.1, 11-32, 2010
12 Franklin Goldgrub
É provável que se trate da tentativa de elaborar uma teoria abrangente acerca dos fundamentos do conflito, desde a respectiva base até suas
manifestações mais conspícuas. Ao enfoque adotado poderia ser atribuído
o caráter “estrutural”, visto que o autor aborda a ansiedade e as pulsões
mediante uma rede conceitual constituída por diversos aspectos da teoria
psicanalítica.
As duas tópicas, a teoria da constituição do sujeito (principalmente
o complexo de Édipo), o princípio do prazer/desprazer bem como a nosografia, são convocados para dar conta das cambiantes formas assumidas
pela ansiedade, enquanto a experiência clínica guia o trajeto que conduz à
segunda teoria das pulsões.
As razões que levaram a subsumir ambos os temas na mesma reflexão
não são explicitadas e o autor tampouco menciona os eventuais benefícios
da abordagem escolhida. O caráter inacabado do texto (espécie de “work
in progress”) não deixa de ser um convite a quem se interessa pela lógica
subjacente às questões discutidas.
A PRIMEIRA TEORIA DA ANSIEDADE
Fenômeno dos mais comuns na prática clínica, a ansiedade, não
obstante, sempre desafiou a compreensão teórica. Seria preciso, escreve
Freud, “Encontrar as idéias abstratas corretas, cuja aplicação ao material
da observação nele produzirá ordem e clareza”.2
No início do texto são recapituladas as hipóteses teóricas anteriores.
A definição mais genérica da ansiedade apontaria para o seu caráter de
“...estado afetivo... com as correspondentes inervações de descarga”
cuja origem se deveria “...a um determinado evento importante...”3
, o
nascimento.
Traduzindo a observação de Freud para a terminologia contemporânea, sob o aspecto fisiológico a ansiedade constituiria a reação afetiva
como o critério adotado por Laplanche e Pontalis no Vocabulário de Psicanálise, “trieb” será
traduzido como “pulsão”.
2 Op. cit., p. 103.
3 Idem, ibidem.
Psic. Rev. São Paulo, volume 19, n.1, 11-32, 2010
As teorias da ansiedade e das pulsões em Freud 13
correspondente à ativação do sub-sistema simpático (sistema nervoso
autônomo), responsável pela configuração dos órgãos internos (coração,
pulmões, glândulas supra-renais, baço, pâncreas...), de modo a preparar o
organismo para a ação.
A primeira manifestação desse tipo seria “... o processo do nascimento, ocasião em que os efeitos sobre a ação do coração e sobre a respiração, característicos da ansiedade, foram efeitos adequados”.4
Freud prossegue: “Assim, a primeira ansiedade terá sido uma
ansiedade tóxica”5
, puramente orgânica. Na medida em que (do ponto de
vista psicanalítico) não se pode supor a existência de qualquer manifestação psíquica por ocasião do nascimento, a reação do organismo do bebê
ao entrar em contato com o meio, sem a intermediação do corpo materno,
seria
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