A RESISTÊNCIA BACTERIANA E O USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS NO BRASIL
Por: Eu mereço SIM!! • 15/11/2022 • Monografia • 2.355 Palavras (10 Páginas) • 219 Visualizações
RESISTÊNCIA BACTERIANA E O USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS NO BRASIL1
Thamyris Pavia Figueiredo 2
RESUMO
O artigo aborda como o mau uso de antibióticos pode ter consequências desastrosas e irreversíveis para o tratamento de doenças bacterianas. Apresenta também explicações de como a bactéria adquire um mecanismo de resistência para garantir sua proliferação e perpetuação. Ressalta a importância dos profissionais da saúde administrarem antibióticos sabiamente e como a população pode contribuir para que esse quadro não se agrave.
PALAVRAS-CHAVE
Bactéria, Antibióticos, Resistencia, Saúde, Medicamento.
1 INTRODUÇÃO
As bactérias fazem parte da nossa existência e são de suma importância em todos os âmbitos vitais. Encontramos bactérias na mucosa, na pele, em secreções íntimas, no aparelho gastrointestinal e etc. Muitas delas são inofensivas e desempenham funções que
permitem o equilíbrio das condições de vida. Seja regulando pH, deteriorando alimentos, oxidando substâncias em reações químicas, formando barreiras de proteção contra bactérias nocivas etc., porém elas possuem um curto tempo de vida no ambiente – minutos ou até horas, e por conta disso elas podem responder rapidamente às alterações no ambiente como forma de sobrevivência.
Quando é introduzido um antibiótico, se desenvolve uma natural consequência bacteriana de se adaptar ao novo meio exposto. O uso indiscriminado do mesmo aumenta a pressão seletiva e também a exposição da bactéria o que facilita a aquisição de novos mecanismos de resistência, dos quais são inevitáveis e irreversíveis.
O intenso uso de antibióticos na medicina, na produção de alimento para animais e na agricultura, tem desencadeado um aumento acelerado de resistências ao redor do mundo.
A resistência antimicrobiana tornou-se um problema de saúde pública no mundo, o que tem despertado grande interesse de cientistas afim de promover novos estudos e também a conscientização de médicos e enfermeiros sobre algumas medidas que podem ser tomadas para minimizar esses impactos. Dentre as bactérias multirresistentes, no cenário hospitalar, as mais predominantes são S. aureus e K. pneumoniae produtoras de KPC, porém, já se encontra infecções por essas mesmas bactérias fora do âmbito hospitalar. Basta somente uma queda da imunidade do indivíduo para elas se manifestarem. Há estudos que comprovam que muitas das bactérias de origem hospitalar já se encontram em pacientes que tiveram uma breve ou longa passagem em leito de hospital, receberam tratamento, muitas vezes em forma de coquetel de antibióticos combinados, e depois de algum tempo apresentaram infecções por bactérias já multirresistentes.
Muitos dos antibióticos estão sendo administrados e receitados por médicos e profissionais da saúde como forma de prevenção e não de combate à uma infecção já existente, o que aumenta a probabilidade de expor determinada bactéria a adquirir resistência e assim se replicar e passar adiante tudo que foi adquirido durante o mau uso do medicamento. Nota-se um aumento de resistência bacteriana principalmente contra beta-lactâmicos e carbapenêmicos, que são antimicrobianos amplamente usados no caso de infecções graves. Dificultando ainda mais o tratamento de pacientes com sepse, que já receberam tratamento por essa classe de medicamento, e não obtiveram melhora significativa.
O número de óbitos por causa das “superbactérias” tem crescido de uma forma alarmante, e chega a ser tão preocupante que a Anvisa tem feito programas de conscientização do uso de medicamentos na área da saúde assim como programas de prevenção de medidas básicas de higiene, a fim de tentar reduzir esse número que caminha inversamente
proporcional com o avanço de descobertas de novos antibióticos e também como forma de minimizar o progresso dessas bactérias fora do âmbito hospitalar.
O levantamento bibliográfico deste trabalho retrata alguns dados coletados ao longo dos anos de como o perfil bacteriano mudou em relação há alguns antibióticos usualmente usados. Explica também como funciona o mecanismo de resistência das bactérias e os tipos mais vistos na literatura até hoje.
2 MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTIBACTERIANOS E MECANISMOS DE RESISTÊNCIA.
O principal fundamento de qualquer antimicrobiano é somente um – matar ou inibir o micro-organismo sem afetar o hospedeiro. Eles interferem em diferentes atividades das bactérias inibindo seu crescimento ou causando sua morte. São divididos em bacteriostáticos (inibidores de crescimento) e bactericidas (exterminadores). Ambos, do ponto de vista clínico, são extremamente eficientes, entretanto, deve-se levar em consideração o quadro imunológico do paciente para a escolha do melhor tipo de antimicrobiano a ser administrado. (TRABULSI, 2015).
Os antimicrobianos agem de diferentes formas, podendo ser a nível da parede (estrutura e biossíntese), membrana citoplasmática, síntese de proteínas e síntese de ácidos nucleicos. Dos antibacterianos que atuam na parede, os mais usados são os β-lactâmicos. Segundo Trabulsi (2015), diante de resultados de numerosos estudos já realizados, os β-lactâmicos interferem com a síntese do peptideoglicano através de vários mecanismos e que estes não são idênticos para todas as bactérias. Já os antimicrobianos que atuam no nível da membrana citoplasmáticas, assemelham-se ao mecanismo dos detergentes onde o ácido graxo mergulha na sua parte lipídica e a porção básica permanece na superfície.
Apesar da interferência dos antibióticos, as populações bacterianas sensíveis à ação de drogas podem se tornar resistentes basicamente por dois processos. Primeiro, por mutação espontânea e seleção, em que as bactérias que transportam mutação no material genético que confere resistência sobrevivem ao uso da droga e as sensíveis são eliminadas. Assim, as células resistentes transferem essa característica as células-filhas, caracterizando a evolução ou transmissão vertical (TENOVER, 2013).
Outro processo de desenvolvimento de resistência é a aquisição de genes transportados por bactérias que são resistentes, caracterizando a evolução ou transferência horizontal (TENOVER, 2013). Esse mecanismo é um dos principais e mais frequentes entre bactérias Gram negativas no qual afeta antibióticos do tipo
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