Aspectos Bioéticos Dos Transplantes Intervivos
Artigo: Aspectos Bioéticos Dos Transplantes Intervivos. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: FernandaSantos • 3/11/2013 • 5.952 Palavras (24 Páginas) • 1.429 Visualizações
Ministério da Educação
Universidade Federal de Pelotas
Faculdade de Medicina
Disciplina de Bioética
Aspectos Bioéticos dos
Transplantes Intervivos
Diogo Dellazari
Frederico Hellwig Coelho
Pelotas-RS
Outubro/2002
ASPECTOS BIOÉTICOS DOS TRANSPLANTES INTERVIVOS
Origens do estudo:
Nossa escolha em fazer um projeto acerca dos aspectos bioéticos envolvendo transplantes e doação de órgãos surgiu por se tratar de um tema delicado e que vem tomando cada vez mais importância nos dias de hoje. Trata-se da única esperança em que muitas pessoas se agarram, no drama em que vivem aqueles que aguardam em uma fila para receber um órgão.
Por se tratar de um assunto complexo e abrangente, houve a necessidade de se delimitar um tema para ser explorado, quando então se decidiu: transplantes intervivos.
As questões aplicadas têm como principal foco o doador, aquele que, em vida, decide, corajosamente, desfazer-se de um órgão para salvar uma vida.
Introdução:
"Transplante é muito mais do que uma simples cirurgia. É um procedimento que envolve a mais profunda conexão entre seres humanos."
James F. Burdick
O transplante é, sem dúvida, a tão esperada resposta para milhares de pessoas com insuficiências orgânicas terminais ou cronicamente incapacitantes. É, sem dúvida, um procedimento médico com enormes perspectivas, porém impossível de ser executado sem o consentimento de uma população consciente da possibilidade, da necessidade e responsabilidade de destinar os seus órgãos para salvar outras vidas.
Um transplante, muitas vezes, é a única solução para sanar uma falha irreversível do rim, fígado, coração, pulmão, córneas ou de outra parte do corpo. No entanto, é necessário saber que esta é uma alternativa acompanhada de receios e preocupações.
Além disso, os transplantes de órgãos vêm provocando inúmeros questionamentos éticos acerca da origem e da forma de obtenção do material a ser transplantado. Quanto à origem, os órgãos podem ser oriundos de outras espécies animais (xenotransplante), de seres humanos vivos (alotransplante intervivos) ou mortos (alotransplante de doador cadáver).
Uma questão que vem preocupando as autoridades, não só do Brasil, mas do mundo inteiro, é a da escassez de órgãos para transplantes. Inúmeros obstáculos ainda terão de ser vencidos para que essa prática se torne cada vez mais freqüente, como por exemplo, a falta de incentivo, de informação e a própria falta de preparo por parte dos Sistemas de Saúde.
Vale lembrar que no cenário dos transplantes não existem estrelas. Todos - pacientes, médicos e doadores - são igualmente importantes, pois não existe transplante sem um doador.
Objetivo:
O objetivo deste trabalho centra-se em abordar diversos aspectos acerca dos transplantes de órgãos e tecidos, e em especial dos transplantes intervivos. Com isso, espera-se promover uma reflexão e um debate de idéias que possam ajudar a preencher possíveis lacunas quanto a este tema tão importante e delicado.
Na elaboração do questionário aplicado, foi dada especial atenção aos doadores de transplantes intervivos. Isso se deve ao fato de que, muitas vezes, estes são lembrados apenas como coadjuvantes de toda a história, quando, na verdade, são peça-chave e fundamental de todo o processo.
Metodologia:
O primeiro passo para a elaboração do projeto foi a busca de diversos referenciais teóricos relacionados ao tema. Foram utilizados livros, vídeos, panfletos, matérias de campanhas publicitárias, jornais e artigos publicados em sites da Internet.
Mais tarde, aplicou-se um questionário previamente elaborado e posteriormente aprovado pela regente da disciplina de Bioética da Faculdade de Medicina da UFPel – Profª. Maria Elisabeth Urtiaga. Este constou de perguntas abertas que foram aplicadas a um médico, um receptor e um doador envolvidos em transplantes intervivos.
Todas as respostas obtidas foram gravadas com o consentimento dos respectivos entrevistados e, posteriormente, redigidas na íntegra. De posse dessas, foi feita uma análise e confrontamento com os principais princípios bioéticos envolvidos.
Referencial teórico:
Uma das alternativas para a alegada insuficiência de órgãos de doadores cadáveres seria os transplantes intervivos que, como o próprio nome sugere, utilizam enxertos provenientes de doadores vivos. Apresentam uma série de vantagens. Entre elas está o fato de ser uma cirurgia eletiva executada na ausência das circunstâncias estressantes – tanto para a equipe médica, quanto para os pacientes envolvidos – comum nos transplantes com doador cadáver, sempre emergenciais. Uma outra vantagem é que a oportunidade de avaliar o grau de compatibilidade entre doador e receptor é mais ampla e, talvez por isso, a chance de sucesso do transplante, bem como a expectativa de sobrevida do enxerto e do receptor, é relativamente maior. O transplante ideal com doador vivo seria aquele entre gêmeos idênticos – os chamados isotransplantes – o que é raro.
Com respeito aos transplantes intervivos, uma das questões éticas que se apresenta é que se trata de um procedimento centrado na realização de uma cirurgia invasiva e de grande porte em uma pessoa muito saudável – o doador – com a retirada de um órgão para o benefício de outra pessoa – o receptor. Outra, diz respeito à não maleficência do doador, uma vez que existem, neste ato, riscos associados tanto à anestesia quanto à cirurgia em si, além de potenciais seqüelas de natureza física, psicologia e social.
Depara-se, também, com um outro princípio ético relacionado à autonomia do doador para consentir, ou não, a retirada de um dos seus órgãos. O respeito a esse princípio pressupõe a necessidade de que ele tenha plena liberdade
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