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Historia Da Musica

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Por:   •  8/3/2015  •  3.831 Palavras (16 Páginas)  •  722 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ANA MARIA SALVADOR KUERTEN

KARINE CUNHA DELFINO

HISTÓRIA DA MÚSICA

Tubarão

2013

ANA MARIA SALVADOR KUERTEN

KARINE CUNHA DELFINO

HISTÓRIA DA MÚSICA

Trabalho de Conclusão da Disciplina de História da Música no Curso de Especialização em História da Arte e no Curso de Extensão em Música.

Prof. Ms. Elvis Bardini.

Tubarão

2013

1. INTRODUÇÃO

Entre os anos de 1964 e 1985, o Brasil foi administrado por presidentes militares, em um regime ditatorial, que se utilizavam da força e da repressão para conter toda e qualquer manifestação de oposição. Ainda assim, diversos segmentos da sociedade organizavam-se secretamente, em grupos de resistência. Sindicatos, jornalistas, escritores, sociólogos, intelectuais, estudantes e os mais atuantes: a classe artística.

Nesse tempo, atores, poetas, escritores, cantores e compositores direcionaram seu trabalho à crítica ao sistema e aos meios utilizados para sufocar as pretensões de liberdade e democracia. Uma dos mecanismos de controle social e artístico utilizado foi a instituição do SNI e DOI-CODI órgãos responsáveis pela censura e repressão aos opositores, considerados subversivos.

Foi nesse período que ocorreu a popularização da televisão no Brasil, e que surgiram os festivais da canção, junto com eles, compositores reconhecidos e músicas lembradas até hoje. Um dos artistas mais perseguidos pelo Regime Militar, Chico Buarque de Holanda, por conta de suas produções artísticas, geralmente contendo mensagens cifradas de crítica à ditadura militar, e muitos outros foram obrigados a viver na clandestinidade e até mesmo abandonar o país.

2. A DITADURA MILITAR BRASILEIRA

Na década de 1960 o Brasil passava por importantes transformações políticas e sociais que muito influenciaram o modo de vida dos brasileiros. O golpe militar deflagrado em 1964 teve sua origem no início do governo do paulista Janio Quadros e do gaúcho João Goulart. O novo governo foi recebido com otimismo, pois havia sido eleito com uma plataforma de moralização política, um governo austero contra o empreguismo e escândalos envolvendo a administração e contra os privilégios obtidos pelos poderosos e elites.

Segundo Skidmore, Jânio assumiu em janeiro de 1961, sob enorme prestígio político. Sua campanha convencera tanto amigos como inimigos políticos que ele pretendia cumprir o que prometera em campanha. Os militares, especialmente, depositavam nele grande esperança. Há muito esperavam alguém capaz de desfechar uma cruzada moral contra os políticos sem princípios e oportunistas, capaz de enfrentar membros da classe política que teriam recebido gordas propinas de empreiteiras na construção de Brasília, e de representantes de empresas multinacionais. Jânio transmitia a impressão de que seria experimentado piloto na direção no Planalto. Dali, com sua famosa vassoura, ele visava os políticos desonestos e os burocratas ociosos.

Depois das primeiras medidas, Janio Quadros foi perdendo popularidade. Buscou caminhos para levar o Brasil a um crescimento sustentável cortando gastos, desvalorizando a moeda nacional, em relação ao dólar, iniciando assim nossa independência em relação aos EUA.

Nesse tempo o Brasil tentou iniciar uma política externa independente. Reatou relações econômicas com países socialistas como URSS e Cuba e sinalizando para inclinação comercial com China, privilegiando interesses nacionais. Desse modo, Janio Quadros já não contava com o apoio dos partidos que o ajudaram a eleger-se. Havia feito uma devassa nas contas públicas do governo anterior, o que o tornou impopular e sem apoio do Congresso Nacional. Além dos partidos que o apoiavam em campanha, as empresas e setores específicos, dos quais ele mesmo fazia parte, foram prejudicadas com a abertura de inquéritos administrativos contra o governo anterior, e agora lhe faziam oposição.

Sem o apoio dos partidos e da população, com apenas oito meses de governo, em agosto de 1961 Janio Quadros renuncia ao mandato e como o vice-presidente João Goulart se encontrava em viagem à China, assume interinamente o presidente do Congresso o seu presidente Ranieri Mazzilli. Após a renúncia do presidente, os militares acusaram o vice-presidente de ser engajado com ideais populistas e socialistas. Para aplacar os ânimos dos setores que queriam a posse de João Goulart e os não queriam, foi proposta uma emenda à constituição que instituiu o parlamentarismo e um plebiscito para decidir pela volta do presidencialismo ou a sacramentação do parlamentarismo.

O plebiscito foi vencido pelos presidencialistas e João Goulart assume a presidência com amplos poderes, tomando medidas impopulares a setores conservadores do país. Seu governo, que foi de 1961 a 1964, foi marcado pela abertura às instituições sociais. Organizações estudantis, populares e trabalhadores ganharam voz e traziam preocupação à setores como empresários, Igreja Católica, classe média e militares, que temiam que o Brasil se tornasse um pais socialista.

Na primeira metade do mês de março de 1964, Jango, como era chamado pelos íntimos, em comício na Central do Brasil, RJ; defende reformas de base e anuncia reformas radicais na estrutura agrária, educacional e econômica do Brasil. Em meados de março, setores conservadoristas organizam, em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em que comparecem milhares de pessoas para protestar contra as reformas pretendidas por Jango. As tensões sociais se intensificam.

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Em fins de março de 1964 as tensões políticas haviam atingido um grau sem precedentes, com o presidente participando de uma série de comícios ruidosos em cada um dos quais anunciava novos decretos. Enquanto isso, a conspiração militar-civil aumentava de intensidade. O general Castelo Branco, que coordenava o recrutamento de oficiais para a conspiração, achou que a mudança de Goulart para as hostes da esquerda havia simplificado seu trabalho. (Skidmore, 1994 p. 43)

A crise política em que Jango havia assumido a presidência se agravava a cada dia mais. Até que em 31 de março, tropas militares de São Paulo e Minas Gerais saem à rua, com a justificativa de conter a ameaça comunista e combater os subversivos, uma ameaça à nação e ao capitalismo. Para evitar a guerra civil, Jango se refugia no Uruguai e as forças armadas, em poucos se consolidam no poder.

A ditadura militar no Brasil manteve-se de 1964 até 1985 e foi marcada pelos atos institucionais, os AIs. Imediatamente ao golpe foi instituído o AI – 1, que dava ao governo militar o poder de modificar a constituição, caçar mandatos legislativos, interromper direitos políticos, aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra o regime, eleições indiretas para presidência da república, governadores dos estados e prefeitos de capitais. Partidos políticos, sindicatos e agremiações estudantis e outras organizações que representavam a sociedade, como os meios de comunicação e as manifestações artísticas foram reprimidos ou sofreram interferência do governo. Foram também instituídos a pena de morte e o exílio. Dessa forma, a liberdade de expressão e as organizações sociais eram quase inexistentes.

“Já em junho de 1964, o regime militar deu um passo importante no controle dos cidadãos, com a criação do Serviço Nacional de Informação (SNI).[...] O SNI tinha como principal objetivo expresso “coletar e analisar informações pertinentes à segurança nacional, à contra-informação e à informação sobre questões subversão interna. Na prática, transformou-se em um centro de poder quase tão importante quanto o executivo, agindo por conta própria na “luta contra o inimigo interno”. “ (Fausto, 1999, p 468.)

Apesar disso, aos poucos, as manifestações contra o Regime Militar das organizações estudantis e sindicatos vão se fortalecendo, e tomam corpo em todo o país. Em 1967 estudantes, trabalhadores e artistas organizam, no Rio de Janeiro a passeata dos cem mil. Com as manifestações, cada vez mais intensas o Governo Militar lançou o AI-5, o instrumento mais ferrenho de repressão ao Regime. Com esse Ato que ficou suspenso o direito de habeas corpus, entre outras determinações.

Durante o período do regime militar ditatorial, o Brasil viu desparecer centenas de pessoas civis, militares e ativistas considerados subversivos. Outros militantes foram obrigados a viver na clandestinidade ou pedir asilo político a outros países.

3. MPB DOS ANOS 1960

No início da década de 1960 foi um período marcado pela afirmação e modernização da música popular, com a introdução de novos estilos, como por exemplo, a MPB; que substituiria a elitizada bossa nova, gênero pouco apreciado pelas massas. “Talvez ela fosse demasiado sutil, demasiado delicado para o clima truculento que sacudia o país, ou, talvez, fosse em demasia um produto da elite cultural e de sua inevitavelmente pequena audiência de classe média” (Skidmore, 1998 p 236/237).

Além disso, suas letras não eram pautadas por conteúdo sociais ou políticos, temas esses buscados pelos movimentos estudantis e de trabalhadores, e também por contar com significativa influência estrutural do jazz, associado diretamente ao imperialismo cultural norte americano.

A popularização da televisão, nos anos 60, deu maior visibilidade à música popular brasileira. Foi nessa época que as emissoras televisivas, teatros e movimentos estudantis lançaram os grandes festivais. As ideias eram voltadas para os movimentos de esquerda, liderados pelo Partido comunista Brasileiro. “Canções contemporâneas de explosão de vida universitária a partir de 1965, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo[...] vinham atender a um propósito de protesto particular da alta classe média contra o rigorismo do regime militar [...] (Tinhorão, 1998).

Os festivais lançaram uma geração de compositores e cantores universitários que seria idolatrada pela intelectualidade cultural, e identificados como um movimento artístico ligado aos protestos e engajado na conscientização ideológica e elevação do gosto médio popular; e ainda, contra o Regime militar ditatorial.

Para Tinhorão (1998, p 314) a respeito das motivações para a direção desse movimento artístico:

Desde [...] o início da década de 1960 a realidade da política desenvolvimentista do governo Kubitschek se revelava incapaz de absorver em seu quadro econômico a totalidade dos novos profissionais de nível superior gerados pelas universidades, a falta de perspectiva de ascensão levou os estudantes a uma atitude de participação crítica da realidade, que os acabou conduzindo inapelavelmente para o campo da política.

Auto denominado MPB, Música Popular Brasileira, as letras mostravam a exploração do povo. Caracterizou-se pela mistura da sonoridade do samba, da moda de viola e outros ritmos latino-americanos. A era dos festivais, como ficou conhecida, o período de 1960 a 1972, lançou no mercado fonográfico compositores e cantores como Chico Buarque de Holanda e outros, que à época, foram considerados elementos de orientação subversiva, os comunistas.

A MPB e os festivais foram importantes instrumentos de protestos e talvez por isso fizesse grande sucesso, principalmente entre os jovens. Com isso a indústria fonográfica interessou-se em investir pesadamente em seus talentos. Para driblar os órgãos de censura, as mensagens de protesto das letras muitas vezes eram cifradas em códigos. Os compositores possuíam tamanha competência para lançar mensagens codificadas, que muitas vezes os discos eram lançados, e somente após semanas rodando nas rádios era descoberta. Imediatamente os censores ordenavam o recolhimento dos discos e a proibição da música em todos os veículos de comunicação. Entendam-se, rádios televisões e toca-discos em casas de famílias.

Ainda segundo Tinhorão, desde 1964 a sociedade brasileira vivia sob vigilância de uma ditadura militar imposta a fim de consolidar a integração do país na divisão internacional da economia, sob o escudo dos Estados Unidos e do FMI, e a insistência em provocar os militares através das canções de protesto levou, em 1968 as autoridades militares a engendrarem maior repressão e acirramento da censura, o que levou artistas como Chico Buarque e Geraldo Vandré a saírem do Brasil e outros à prisão e expulsão do país.

Durante esse período, foram mortos (suicidados), ou desapareceram muitos militantes civis e ativistas desalinhados com o Regime. A classe artística teve papel importante nas manifestações de protesto e muitos foram obrigados a viver na clandestinidade ou exilados políticos em outros países. Além da proibição de músicas houve também suspensão de peças de teatro, novelas e de obras literárias.

Ainda assim, pode-se notar que a maioria das músicas concorrentes dos festivais denota claramente, letras de conteúdo de protestos ao Regime.

4. FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA

Nascido no Rio de Janeiro, no ano de 1944, dramaturgo, escritor e um dos maiores expoentes da MPB. Chegou a matricular-se e frequentar por dois anos o curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, entre 1963 e 1965. Depois disso abandonou o curso e se dedicou à vida artística. Gerado na classe média alta e em setores esclarecidos das classes dominantes, dotado de um pensamento revolucionário, atuou como fermento transformador, se identificando com os interesses específicos das classes trabalhadoras, o segmento potencialmente revolucionário da sociedade.

Sua primeira produção musical foi Canção dos olhos, de 1961. Em 1965, Chico compôs a música Sonho de Carnaval, inscrita no Iº Festival Nacional de Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Excelsior. Mas, foi com Pedro Pedreira, música fundamental para experimentação do que viria a ser produzido na década de 1970, como canções engajadas de cunho político. Chico começou a destacar-se no cenário musical em 1966, inscreveu no Festival de Música Popular Brasileira a música A Banda. O resultado oficial do festival daria o prêmio de Iº lugar, empatados com A Banda, a música Disparada, de Geraldo Vandré.

No entanto, Zuza Homem de Mello, no livro A Era dos Festivais: Uma Parábola, 2003, revelou que A Banda foi a vencedora do festival. O musicólogo conservou por décadas as folhas oficiais de votação. Nelas, consta A Banda ganhou a competição por sete votos a cinco. Chico, ao perceber que ganharia, foi até o presidente da comissão e disse não aceitar a derrota de Disparada. Caso isso acontecesse, entregaria imediatamente o prêmio ao concorrente.

Chico Buarque foi o cantor/compositor mais censurado pelos órgãos de repressão da ditadura militar brasileira, tanto em suas canções de protesto quanto nas letras que feriam os costumes morais da época. Muitas músicas foram censuradas na íntegra, outras foram adaptadas em algumas frases ou palavras para serem liberadas. Conta ainda, na obra do autor discos que chegaram a ser lançados e depois de semanas recolhidos das lojas por ordem da censura. Muitas delas foram lançadas em outros países e depois da democratização voltaram a ser vendidos e divulgados no Brasil. Para Skidmore, 1998, Chico foi mestre no jogo de compor e cantar músicas com mensagens de duplo sentido e que apelavam tanto às audiências sofisticadas como ao brasileiro comum.

Em 1967, Chico apresentou a música Roda Viva no IIIº Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, que ficou classificada em 3º lugar. Suas letras mostram a natureza crítica de um dos artistas mais ativos na política e na democratização do país. Em 1974, depois de muitas de suas músicas terem sido vetadas pela censura e Chico sofrer perseguição acirrada, ele resolve criar um pseudônimo para driblar os órgãos censores. Adota então, Julinho da Adelaide. Com ele consegue passar pela censura várias composições, em que se notam conteúdos de protesto, ditos de forma inteligente, e que não ficavam claros aos censores, que não primavam por inteligência significante. Mas, Chico dizia que sua obra era apenas circunstancial.

Segundo Seincman, (2008 p. 25) “A obra musical só se efetiva, de fato, na performance, em sua relação com o ouvinte. Quando o compositor finaliza uma obra, ela já não mais lhe “pertence”, passando a fazer parte de um “campo estético”: é nesse palco que irá se substanciar seu “jogo”.

Desse modo, as obras de Chico Buarque, em sua maioria, são campo fértil para que o ouvinte ou espectador referenciem-nas com o seu lugar social ou seu estado de espírito. A crítica social é escancarada quanto à falta de liberdade democrática. A diversidade de análises críticas especializadas e de amadores, e a pluralidade de interpretações ultrapassam o gosto estético e demonstram a multiplicidade de olhares que permite a obra desse poeta que ultrapassa os limites da arte para representar os sentimentos de uma nação.

5. RODA VIVA - CHICO BUARQUE DE HOLANDA

Composta em 1967, RODA VIVA, especificamente surgiu em meio à instauração da ditadura militar no Brasil. Nesse tempo o Brasil estava apenas aprendendo a viver a democracia, quando inesperadamente se instaura um regime ditatorial que a tudo sufoca, tanto do ponto de vista político quanto cultural. Em um tempo que não tinha espaço para o indivíduo. Esse período representou para a cultura o fim da liberdade de expressão e da democracia. Um meio de driblar a censura em vários países onde ela existiu era usar mensagens cifradas, o uso de metáforas e a linguagem figurada; como na obra em questão.

Mesmo que Chico tenha declarado que a referida música “nada tem a ver com política”, pode-se perceber, com nitidez, que a letra se refere à opressão sofrida pela população brasileira no período. O Regime Militar que a tudo vigiava e censurava, especialmente as manifestações artísticas, que pudessem transmitir mensagens de protesto às grandes massas, via em Chico Buarque e outros artistas a ameaça do socialismo e do comunismo.

Essa música não pode ser analisada como uma poesia artificial, mas sim como algo mais profundo. Já no refrão, o artista imprimiu um caráter global até chegar ao particular. “Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o mundo rodou num instante nas voltas do meu coração”; referência feita à postura da ditadura nas rodas sociais. (Em lugares públicos como universidades, bares e até mesmo reuniões em residências, que se encontrassem grupos de pessoas conversando corria-se o risco de serem presos e levados a interrogatórios e sessões de tortura para delatar possíveis inimigos do regime). Na influência de um regime político de uma nação até a vida de cada indivíduo e sua luta incessante pela liberdade. Para o musicólogo Zuza Homem de Mello, a roda pode também ser interpretada como os tambores dos revólveres de militares do DOI-CODI, órgão repressor e de censura.

Pode-se perceber também nessa letra o uso freqüente à palavra estancar, que nos remete ao sangue. “A gente estancou de repente”, fracassados na capacidade de gerir nossos próprios destinos. No trecho que fala da “mais linda roseira que Há”, nota-se a referência feita à flor símbolo do socialismo e que “a fogueira queimou”, como alusão ao militarismo, que “empurra a roseira pra lá”. Isto é, tira do alcance do povo o regime tão sonhado, a democracia, em que os cidadãos podem participar da construção do seu país e serem donos de suas vidas e de seus pensamentos.

Chico Buarque parece, em alguns momentos, perceber a impotência em se voltar contra a ordem opressora, de buscar a liberdade, e a fragilidade dos movimentos de protesto, como no trecho “...é tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou...”. Em “a gente parou de repente”, o autor parece associar às reformas de base pretendidas pelo ex-presidente João Goulart, e que foram “estancadas” pelo novo regime, tirando a liberdade de decidir seus próprios destinos, de cultivar rosas/ideias, viola/expressão artística. Percebem-se nessa composição, dois movimentos expressos: um indica as ações empenhadas em contestar o sistema, no buscar ter voz ativa, no cultivar roseira, no ir contra a maré, tocar viola na rua. O outro movimento remete às ações estanques exercidas pelo Regime, a roda viva. Que tudo poda, tudo sufoca, tudo estanca e até mesmo a saudade. Nesta breve análise dessa música, não se pode deixar de citar a análise de muitos críticos que a interpretam a partir do título escrito de trás pra frente: A Viva Dor.

Mas, a genialidade da música de Chico Buarque está na sua contemporaneidade. Composta em 1967, em meio à instauração de um regime totalitário, se mostra diligente nos dias atuais. Estamos vivendo em uma democracia que deixa à margem da sociedade a maioria da sua população. Nas palavras do Papa Francisco, “uma sociedade que abandona parte de si mesma”.

Vemos hoje nas ruas enormes contingentes, a maioria jovens, clamando por “dignidade” na forma de saúde, educação, respeito, moradia, segurança. Direitos esses previstos na nossa Carta Magna. Mas a palavra de ordem que mais se ouve é pelo fim da corrupção. Assim como dantes o povo clama por justiça: nos julgamentos de políticos salteadores e usurpadores, nas denúncias de obras superfaturadas, nas vendas de mandatos, nos mensalões, nas negociatas na aprovação de projetos, no mau uso dos bens públicos, leia-se: uso de automóveis oficiais, aeronaves, apartamentos funcionais, privilégios de políticos e familiares.

Porém, contamos com administradores que como Chico Buarque e outros brasileiros sofreram repressão, tortura e prisão durante o regime militar; e que apregoavam um governo de todos. Vejamos: Saúde¿ Para o povo mais desfavorecido, importamos médicos que não precisa provar que tem competência para tal. Moradias¿ Construímos espaços que se destroem antes mesmo de serem habitados (e podem se localizar em áreas de difícil acesso ou de risco). Na educação¿ começamos aprovando indiscriminadamente analfabetos ou analfabetos funcionais, depois a gente vê se funcionou. Segurança¿ Vemos diariamente na mídia pelotões a postos para reprimir ações de “vândalos e arruaceiros” que estão nas ruas pra protestar contra o sistema. Podemos também contar com a polícia para reprimir as contravenções e crimes nas áreas de risco das grandes cidades, digo, favelas. Menos para responder onde encontram-se os “Amarildos” e outros tantos trabalhadores e pais de família que desaparecem na “roda viva” do nosso tão sonhado Regime Democrático.

A grande diferença daqueles tempos e destes é que os Chicos Buarques, os Geraldos Vandrés, os Caetaneos velosos, Os Gilbertos Gil, os Jorge Amados, os Herberts de Souza, Os Ziraldos, os Ruis Guerra, os Glaubers Rocha, os Dias Gomes, os Plínios Marcos e outros tantos silenciaram. Talvez desiludidos com a “volta do barco” remando contra a maré.

6. CONCLUSÃO

Neste trabalho, pode-se perceber a genialidade do artista Chico Buarque e a consciência cidadã de um brasileiro, que tendo nascido e formado pela classe média alta, lutou por uma sociedade de todos, com justiça social, e não esmoreceu frente às dificuldades.

Apesar de ter declarando que a música nada tinha a ver com política, Chico mostrou, de forma magistral, as mazelas de uma nação dominada pelo regime totalitário. Mesmo que as mensagens se mostrem cifradas, na obra analisada, Roda Viva, Chico descreveu os sentimentos da população diante do impedimento em ser sujeito da sua história, da tão esperada democracia e da justiça social, que já se mostravam presentes nas tentativas de ações do presidente Jango.

Roda Viva pode ser considerada um dos hinos da resistência ao regime militar e o símbolo das lutas em que muitas vidas foram ceifadas em nome da ordem e do progresso. Roda Viva continua viva na memória dos que viveram e sobreviveram a essa época e se mantém atual, quando a maior parte do mundo capitalista toma ciência da fragilidade do sistema, que deixa à margem da sociedade um grande contingente da população. Assim como Chico na época, a população brasileira se vê as voltas com uma democracia que, ou não a representa ou não “lhe dá ouvidos”. Poderia perfeitamente embalar as manifestações atuais, quando jovens saem às ruas para lutar por direitos e dignidade.

REFERÊNCIAS

Faust, Bóris. História do Brasil. 5ª Ed. São Paulo: Ed da Universidade de São Paulo: Fundação do desenvolvimento da Educação, 1997.

Figueiredo, Ariosvaldo. Violência e Corrupção: de Getúlio Vargas à Nova República. Aracajú, 2002.

Mello, Zuza Homem de. A Era dos Festivais: uma parábula. São Paulo: ed. 34, 2003.

Seincman, Eduardo. Estética da Comunicação Musical. São Paulo: Via Lettera, 2008.

Skidmore, Thomas E. Brasil: de Castelo e Tancredo. tradução Mario Salviano Silva. - Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1988.

Skidmore, Tomas E. Uma História do Brasil. Tradução Raul Fiker. São Paulo: Paz e terra,1998.

Tinhorão, José Ramos, História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: ed. 34, 1998.

CASTRO, Leonardo. O Regime Militar de 1964. Disponível em: < http://novahistorianet.blogspot.com/2009/01/o-regime-militar-de-1964.html> Acesso em: 11-07-2013.

http://lazer.hsw.uol.com.br/mpb1.htm dia 02-07-13 as 12:27.

http://institutocravoalbin.com.br/projetos/catalogos-tematicos/no-palco-os-festivais/a-era-dos-festivais/zuza homem de mello. Acessado em 02-07-2013 às 15:15.

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