Modelo Ampulheta
Artigos Científicos: Modelo Ampulheta. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: danielmoreira • 31/3/2014 • 2.853 Palavras (12 Páginas) • 2.167 Visualizações
O foco principal de estudos na área de Desenvolvimento Motor é o entendimento de como se desenvolve as ações dos seres humanos desde o nascimento, prolongando-se por suas vidas. Barreiros e Krebs (2007), afirmam que a área conhecida hoje como Desenvolvimento Motor, oriunda do campo da Biologia e da Psicologia no final do século XIX, é considerada uma subárea, juntamente com as subáreas da Aprendizagem Motora e do Controle Motor. Estas três subáreas geram uma área de conhecimento em comum, conhecida como Comportamento Motor. Para Malina (2004) o desenvolvimento motor é o processo através do qual a criança adquire padrões de movimentos e habilidades, sendo este um processo contínuo de modificações que envolvem a interação de vários fatores, tais como, maturação neuromuscular, crescimento físico e características do comportamento da criança, tempo de crescimento, maturação biológica e desenvolvimento comportamental, os efeitos residuais de experiências prévias do movimento e as novas experiências de movimento. Segundo Gabbard (1992) o desenvolvimento motor é o estudo do comportamento motor e o processo de mudanças biológicas associada ao movimento humano durante o ciclo de vida, sendo visto como o processo de mudança no comportamento motor resultando da interação da hereditariedade e ambiente. A importância do fator hereditariedade também foi ressaltada por Eckert (1993) na formação do indivíduo aliado a influência do meio ambiente.
Embora estes e outros autores sigam o paradigma tradicional do desenvolvimento motor, o qual tinha como enfoque principal a maturação do sistema nervoso central como premissa para o desenvolvimento, esta área vem sendo fortemente influenciada desde a década de 80 por novas teorias e abordagens sistêmicas emergentes. Podemos observar a influencia das abordagens sistêmicas contemporâneas (sistemas dinâmicos e teoria bioecológica), que surgiram no final do século XX, quando, em 2001 os autores Gallahue e Ozmun referem-se ao desenvolvimento motor, em uma nova abordagem, como uma alteração contínua do comportamento motor ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. Com isto, surge o Modelo da Ampulheta (Gallahue; Ozmun, 2001), um modelo heurístico que conceitua e explana o processo de desenvolvimento motor.
O conteúdo proveniente da hereditariedade e ambiente preenche primeiramente a fase reflexiva, até atingir o estágio de inibição dos reflexos e dando início aos movimentos voluntários da criança. Contudo, para o melhor entendimento dos movimentos voluntários e as fases/estágios subseqüentes, se faz necessário a compreensão das primeiras formas do movimento humano, os reflexos. Com isto, o objetivo deste estudo é abordar a temática dos movimentos reflexos no contexto do desenvolvimento motor, com enfoque no reflexo da marcha.
2. Fases e estágios do desenvolvimento
Para o delineamento e contextualização das fases do desenvolvimento motor, serão utilizados como foco da pesquisa os modelos conceituais propostos por Anita Harrow (1983), David L. Gallahue; Ozmun (2005) e Carl Gabbard (1992). É possível identificar semelhanças dentre estas três propostas, tais como a base destes modelos conceituais, a qual trás os movimentos reflexos como alicerces dos movimentos humanos. A diferença entre os modelos está no número de fases/estágios designados por cada autor, nomenclaturas utilizadas e na variação temporal destes estágios de desenvolvimento. Anita Harrow dividiu seu modelo teórico em seis níveis de desenvolvimento motor, partindo dos “Movimentos Reflexos” (menos complexos) até o estágio de “Comunicação não Verbal” (mais complexo). No modelo de Gallahue são propostos quatro estágios, começando por “Movimentos Reflexos” até “Movimentos Especializados” e, Gabbard propôs seis estágios de desenvolvimento, começando com a fase “Reflexiva/Rudimentar” até a fase de “Regressão”.
3. Reflexos
No processo de desenvolvimento motor é possível observar desde o nascimento que a criança apresenta algumas pequenas movimentações, denominados movimentos reflexos que, para Malina e Bouchard (2002), geralmente se originam de estímulos diversos provenientes do meio externo, como som, luz, toque ou posição do corpo (GABBARD, 2008). Alguns dos reflexos são bastante simples e mediados ao nível da medula espinhal, outros são mais complexos e exigem a integração dos centros do tronco cerebral, os labirintos, e outros centros nervosos em desenvolvimento.
Nos trabalhos de Gallahue; Ozmun (2001), Harrow (1983) e Gabbard (2008), os primeiros movimentos que o feto faz são classificados como reflexos, movimentos involuntários controlados subcorticalmente, ao passo que, possivelmente venham a formar a base para as seguintes fases do desenvolvimento motor. Berns (2002), corroborando com os autores supracitados, classifica os reflexos como reações não aprendidas, inatos e involuntários, de uma parte do corpo a um estímulo externo. Segundo Bornstein e Lamb (2005) os pioneiros do desenvolvimento motor da década de 1930, Myrtle McGraw e Arnold Gesell, consideraram os comportamentos de sucção, o giro da cabeça, contração muscular rápida, preensão e caminhada como sendo reflexos da criança. Durante os quatro últimos meses dentro do útero até aproximadamente o quarto mês da vida pós-natal, os reflexos e estereótipos dos bebês são a forma dominante do movimento humano (Payne e Isaacs 1991), o que é também sustentado por Gabbard (1992) que coloca a fase reflexiva iniciando por volta do terceiro mês intra-uterino, prolongando-se aproximadamente até o sexto mês após o nascimento.
Embora os pesquisadores da área do desenvolvimento motor não determinem univocamente o fim da fase de reflexo/reflexiva, de fato existe uma tendencia sobre o início e o fim dos movimentos reflexos. Há uma concordância de que a fase reflexiva começa a surgir no período pré-natal e continua aproximadamente até o quarto ou sexto mês de vida da criança. (Harrow 1983; Payne e Isaacs 1991; Berns 2002; Malina 2004; Gallahue; Ozmun, 2005). Berk (1994) discorda, colocando a idade do desaparecimento do reflexo por volta dos dois meses de idade.
Embora exista um consenso na literatura que o reflexo desaparece prioritariamente antes do movimento voluntário, Cratty (1979) coloca que a dificuldade em estudar os movimentos reflexos da criança está na variabilidade na qual eles aparecem e desaparecem. A classificação proposta por Harrow (1983) divide os movimentos reflexos em espinhais e supra-segmentais. Os
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