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Semana De Arte Moderna

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Por:   •  23/3/2015  •  1.420 Palavras (6 Páginas)  •  492 Visualizações

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Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18 de fevereiro, teve como principal propósito renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. Mudar, subverter uma produção artística, criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências européias, essa era basicamente a intenção dos modernistas.

Durante uma semana a cidade entrou em plena ebulição cultural, sob a inspiração de novas linguagens, de experiências artísticas, de uma liberdade criadora sem igual, com o conseqüente rompimento com o passado. Novos conceitos foram difundidos e despontaram talentos como os de Mário e Oswald de Andrade na literatura, Víctor Brecheret na escultura e Anita Malfatti na pintura.

O movimento modernista eclodiu em um contexto repleto de agitações políticas, sociais,econômicas e culturais. Em meio a este redemoinho histórico surgiram as vanguardas artísticas e linguagens liberadas de regras e de disciplinas. A Semana, como toda inovação, não foi bem acolhida pelos tradicionais paulistas, e a crítica não poupou esforços para destruir suas idéias, em plena vigência da República Velha, encabeçada por oligarcas do café e da política conservadora que então dominava o cenário brasileiro. A elite, habituada aos modelos estéticos europeus mais arcaicos, sentiu-se violentada em sua sensibilidade e afrontada em suas preferências artísticas.

A nova geração intelectual brasileira sentiu a necessidade de transformar os antigos conceitos do século XIX. Embora o principal centro de insatisfação estética seja, nesta época, a literatura, particularmente a poesia, movimentos como o Futurismo, o Cubismo e oExpressionismo começavam a influenciar os artistas brasileiros. Anita Malfatti trazia da Europa, em sua bagagem, experiências vanguardistas que marcaram intensamente o trabalho desta jovem, que em 1917 realizou a que ficou conhecida como a primeira exposição do Modernismo brasileiro. Este evento foi alvo de escândalo e de críticas ferozes de Monteiro Lobato, provocando assim o nascimento da Semana de Arte Moderna.

O catálogo da Semana apresenta nomes como os de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, John Graz, Oswaldo Goeldi, entre outros, na Pintura e no Desenho; Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg, na Escultura; Antonio Garcia Moya e Georg Przyrembel, na Arquitetura. Entre os escritores encontravam-se Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, e outros mais. A música estava representada por autores consagrados, como Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga e Frutuoso Viana.

Em 1913, sementes do Modernismo já estavam sendo cultivadas. O pintor Lasar Segall, vindo recentemente da Alemanha, realizara exposições em São Paulo e em Campinas, recepcionadas com uma certa indiferença. Segall retornou então à Alemanha e só voltou ao Brasil dez anos depois, em um momento bem mais propício. A mostra de Anita Malfatti, que desencadeou a Semana, apesar da violenta crítica recebida, reunir ao seu redor artistas dispostos a empreender uma luta pela renovação artística brasileira. A exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna foi organizada por Di Cavalcanti e Rubens Borba de Morais e contou também com a colaboração de Ronald de Carvalho, do Rio de Janeiro. Após a realização da Semana, alguns dos artistas mais importantes retornaram para a Europa, enfraquecendo o movimento, mas produtores artísticos como Tarsila do Amaral, grande pintora modernista, faziam o caminho inverso, enriquecendo as artes plásticas brasileiras.

A Semana não foi tão importante no seu contexto temporal, mas o tempo a presenteou com um valor histórico e cultural talvez inimaginável naquela época. Não havia entre seus participantes uma coletânea de idéias comum a todos, por isso ela se dividiu em diversas tendências diferentes, todas pleiteando a mesma herança, entre elas o Movimento Pau-Brasil, o Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, e o Movimento Antropofágico. Os principais meios de divulgação destes novos ideais eram a Revista Klaxon e a Revista de Antropofagia.

O principal legado da Semana de Arte Moderna foi libertar a arte brasileira da reprodução nada criativa de padrões europeus, e dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional.

A Semana de Arte Moderna de 1922

"... seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista" - DI CAVALCANTI

Numa entrevista a uma revista cultural de São Paulo, feita em 1939, a pintora Anita Malfatti narrou os antecedentes da sua polêmica exposição de 1917. O acontecimento revelou-se quase tragédia para ela, mas acredito que pelo impacto que suscitou junto à público e críticos, tornou-se chave para o que veio depois.

Ela mesma confessa que quando mostrou suas telas a umas colegas "acharam-nas feias, dantescas e todas ficaram tristes ..., alguns jornalistas pediram-me para ver os quadros tão mal feitos e todos acharam que devia fazer uma exposição". Estava fortemente influenciada pelo expressionismo alemão, com aquela inclinação pelo grotesco e pelo caricatural. O comportamento do público era muito estranho, em geral a reação da maioria era de espanto, de frustração, com aquela nova estética importada da vanguarda europeia.

A resposta conservadora à ousadia de Anita Malfatti não demorou. Um pouco antes do Natal de 1917,Monteiro Lobato, num artigo publicado em O Estado de São Paulo, desancou não só a exposição como o futurismo, o cubismo, o impressionismo e todos os "ismos" da moda, dizendo-os produtos dos tempos decadentes, de cérebros deformados, afirmando que a única diferença das telas de Anita daquelas feitas nos manicômios, como terapia, é que a dos loucos era "arte sincera."

Comentando o choque provocado pela crítica de Lobato, Mario de Andrade disse que Anita ficou meio desaparecida uns quatro ou cinco anos. Quem a defendeu foi o jovem Oswald de Andrade, que mais tarde seria um dos mentores da nossa vanguarda, balançando sempre entre ser bufão ou anarquista, dizendo que a exposição pelo menos havia sacudido a crítica paulista da "sua tradicional lerdeza de comentários." Oswald por aqueles tempos era militante futurista, resultado da sua viagem à Europa em 1912, quando voltou com uma penca de manifestos inspirados por Fillipo Marinetti. Mas ele e os outros intelectuais que o cercavam não gostavam de ser assim designados, preferindo o de modernistas. O nome futurista tinha ligações com as loucuras feitas pelos vanguardistas europeus, que os rapazes paulistas, mais acanhados, não estavam preparados para assumir.

A crítica de Lobato serviu como elemento catalisador. Pensaram em aglutinar forças e marcar presença através de um ato espetacular. A revolução estética que anunciavam merecia algo apoteótico. Aproximava-se o ano de 1922, o ano do centenário da Independência brasileira. Era o momento ideal!

Como quase todos os integrantes do movimento modernista eram filhos da oligarquia paulista, não tiveram dificuldade em obter a adesão de Paulo Prado, curador do Teatro Municipal, que também providenciou os recursos.

Entre os dias 11 a 17 de fevereiro, promoveram conferências sobre a nova estética entremeadas de recitais, de música ou leitura de algumas obras. No saguão, alguns pintores e escultores espalharam seus trabalhos. A plateia foi à loucura: urravam, guinchavam, pateavam, silvavam, vaiavam de enrouquecer para mostrar seu desagrado com aquilo tudo. Não permitiram que se escutasse nenhuma frase do que Oswald disse. Com Villa Lobos não foi diferente. Tendo adentrado no palco com sandálias, pensaram que era uma pantomima do músico e ficaram quase histéricos. Na verdade, o jovem havia se machucado.

Uns tempos depois, passado o vendaval, Yan de Almeida Prado disse que tudo não passou de uma estudantada, uma brincadeira para quebrar o marasmo da paroquiana São Paulo. Mas é claro que não se reduziu a isso. Para alguns críticos, foi uma vigorosa tentativa de liderar o universo cultural brasileiro, sequestrando do Rio de Janeiro a primazia de estar à frente das coisas. A Paulicéia começara a se projetar como poderoso centro industrial, ambicionando ser também a vanguardeira das artes.

Mas afora essas interpretações de ser apenas mais um ato da longa novela de rivalidades entre paulistas e cariocas, se aceita hoje que a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um momento de rompimento com a arte acadêmica e com a neocolonizada prosa parnasiana então predominante. Tornou o estilo anterior intragável e forçou a adoção, tanto na poesia como na prosa, de uma linguagem solta, ausente de formalismos, afastada da pedanteria e da incorrigível vocação academicista. Não conseguiu, porém, fazer com que o público aderisse com entusiasmo às novas formas de expressão, aliás, como bem poucas vanguardas o fizeram. Em nosso século, os artistas foram lançados num limbo de incompreensão raro de encontrar na história da estética universal.

Para os intelectuais, a Semana serviu como uma redescoberta do Brasil, mostrando-o fruto de uma cultura mestiça, vacilando entre o bestialismo e a civilização, em perpétuas dúvidas sobre ser ou não ser parte da periferia do Ocidente.

Bibliografia

http://www.infoescola.com/artes/semana-de-arte-moderna/

http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/a-semana-de-arte-moderna-de-1922,200823d6c76da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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