Histórico, Finalidade, Importância do Centro Cirúrgico
Por: Lumara Nataniele UF • 30/10/2015 • Artigo • 1.673 Palavras (7 Páginas) • 7.660 Visualizações
Enfermagem em Centro Cirúrgico
Aula 1 – Histórico, finalidade, importância do Centro Cirúrgico
Prof. Ms Gisele da Cruz Ferreira
- Introdução:
O Centro Cirúrgico (CC) pode ser considerado uma das unidades mais complexas do hospital pela sua especificidade, presença constante de estresse e a possibilidade de riscos à saúde a que os pacientes estão sujeitos ao serem submetidos à intervenção cirúrgica.
Definição de CC: conjunto de elementos destinados às atividades cirúrgicas, bem como a Recuperação Anestésica, e pode ser considerada uma organização complexa devido a suas características e assistência especializada.
Portanto, o CC é constituído de um conjunto de áreas e instalações que permitem efetuar a cirurgia nas melhores condições de segurança para o paciente, e de conforto para a equipe que o assiste.
Os primeiros CC surgiram atrelados à história e evolução da medicina e cirurgia. Na Antiguidade, o corpo humano era considerado, em toda sua complexidade, uma incógnita pelos cirurgiões, levando-os a adotar o tratamento clínico como forma no processo de cura, pois os médicos eram temerosos em operar seus doentes. Os cirurgiões geralmente não passavam por uma academia, mas por uma educação prática, por uma aprendizagem não universitária.
A medicina interna era mais valorizada no meio acadêmico do que a cirurgia, vista como uma atividade essencialmente manual; pela divisão social entre o saber e o fazer. Assim, a medicina, que requeria mais reflexão, estudos e percepção por parte dos médicos, não incorporava a cirurgia como uma de suas disciplinas, sendo então executada por práticos, chamados “cirurgiões barbeiros”, que possuíam maior habilidade manual.
O cirurgião, pelas características mecânicas de seu ofício, era considerado de uma categoria intelectualmente inferior à do médico internalista, que mantinha uma estreita ligação com a classe dominante, a aristocracia fundiária. Enquanto o cirurgião, considerado um técnico, não mantinha a mesma ligação com a superestrutura.
A cirurgia era retratada como uma prática rebaixada e profana, pois ao contrário dos clínicos de mãos limpas, emperucados e perfumados, os cirurgiões lidavam com o cerne decadente (tumores, cistos, fraturas, gangrenas entre outros).
Embora a arte cirúrgica não tenha sofrido revoluções até o séc. XIX, a cirurgia é quase tão velha quanto a humanidade. Na Antiguidade e durante a Idade Média, os cirurgiões realizavam inúmeros procedimentos paliativos, tais como lancetar furúnculos ou curativos em feridas externas de tumores de mama, localizados em áreas corpóreas em que não era necessária a abertura de cavidade. Tipicamente lidavam com o exterior e as extremidades. Evitavam o abdome e outras cavidades do corpo, assim como o sistema nervoso central. As cirurgias eram realizadas, indistintamente, em qualquer local, como nos campos de batalha, nas casas dos cirurgiões ou debaixo do convés dos navios em guerra, sem nenhuma preocupação com as condições de assepsia.
De maneira geral, quando o tratamento cirúrgico se tornava inevitável e aos cirurgiões não restava outra opção senão tentar, por meio de operações, livrar os seus pacientes do sofrimento que os afligiam, enfrentavam os três grandes desafios da cirurgia que eram a dor, a hemorragia e a infecção.
A anestesia não era totalmente uma novidade, e a medicina sempre usou, é claro, certos analgésicos. As antigas sociedades estavam a par do poder redutor da dor com a utilização do ópio, do haxixe ou maconha indiana e do álcool.
Por volta de 1731, foi criada a Real Academia de Cirurgia e doze anos depois Luís XV dissolveu a ligação entre os cirurgiões e os barbeiros. Definitivamente essa ligação foi extinta em 1768 na Convenção dos cirurgiões treinados por aprendizagem prática. Depois disso, os cirurgiões começaram a competir em status com os médicos, pregando qua a cirurgia não era mera arte manual e sim um braço experimental da medicina, tornando-se o mais progressista.
O primeiro passo para a anestesia geral foi dado por Joseph Priestley, ao descobrir o dióxido de nitrogênio (NO2) em 1773. Coube a Humphry Davy, um aprendiz de farmácia, na Inglaterra, em 1796, experimentar os efeitos da inalação do NO2. Ele verificou que o gás produzia uma sensação agradável, acompanhada com um desejo incontido de rir (gás ilariante). Certa noite estava com dor de dente, ao inalar o gás notou que a dor desapareceria e deduziu que o gás poderia suprimir a dor.
Em 1824, Henry Hill publicou, pela primeira vez, um caso de operação sem dor pelo uso do gás.
A cauterização utilizando óleo fervente ou ferro em brasa permaneceu como melhor meio para estancar a hemorragia até o séc. XVIII.
Em 1848, Ignaz Filipe, trabalhando numa clínica obstétrica do hospital geral de Viena descobre a causa da mortalidade pela febre puerperal. Ele instituiu, uma política rigorosa de lavagem das mãos e dos instrumentos em solução de cal clorada, entre o trabalho de autópsia e o cuidado com os pacientes. Ele desvendou, assim, o segredo da transmissão dos germes infecciosos, por meio das mãos e dos instrumentos dos médicos e cirurgiões, revelação que seria três decênios depois a pedra angular da assepsia.
Antes da introdução da anestesia, em 1840, os cirurgiões contavam apenas com a própria destreza manual para realizarem o procedimento cirúrgico o mais rápido possível, e com poucos e grosseiros instrumentos cirúrgicos, para assim minimizar a dor do paciente. Os instrumentos utilizados nas operações eram limpos com qualquer pano ou até mesmo na aba do casaco dos cirurgiões, mal conservados e guardados precariamente, também sem nenhuma preocupação com as condições de assepsia.
A medida que a técnica cirúrgica foi se desenvolvendo, em conseqüência da descoberta dos procedimentos anestésicos, da hemostasia e da assepsia cirúrgica, o acesso aos órgãos não era mais possível ser realizado, apenas com as mãos.
O século da cirurgia moderna, sem dúvida, começou o ano de 1846, na sala de operações do Hospital de Massachutts, em Boston. No dia 16 de outubro de 1846, o paciente Gilbert Abbot foi submetido ao procedimento cirúrgico com duração de 25 minutos para remoção de um tumor no pescoço, pelo cirurgião John Collins Warren e o anestesiologista Willian Thomaz Morton. Nesse dia surgiu para o mundo a anestesia da dor mediante a inalação de gases químicos.
A dor, o empecilho mais tremendo que, até aquela data, limitara inexoravelmente, pelo espaço de milênios, o campo de ação da cirurgia acabava de ser vencida. Antes de fins de 1847, já se praticavam, em todos os países de tradição cirúrgica, operações indolores, em pacientes anestesiados pelo éter.
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