Seminário de PAC
Por: Ernane Dantas • 4/5/2016 • Abstract • 2.092 Palavras (9 Páginas) • 567 Visualizações
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – CAMPUS I
CURSO: BACHARELADO EM FONOAUDIOLOGIA
DISCIPLINA: AUDIOLOGIA III
PROFESSOR: LUCIENE FERNANDES
PERÍODO: 2000.1
SALVADOR/ AGOSTO 2003
ANA MARIA NERY SILVA
ERNANE DANTAS NOVAES
RENAT REIS DE ALMEIDA
DESORDEM DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
De acordo com a ASHA (1996) o Processamento Auditivo Central (PAC) é mental e como tal, depende de uma série de habilidades e características complexas e interdependentes do SNC, tais como: localização sonora; discriminação auditiva; reconhecimento de padrões acústicos e de padrões auditivos temporais, como resolução mascaramento, integração e ordenação temporal, desempenho auditivo na presença de sons competitivos ou distorcidos; e lateralização das funções cerebrais.
A disfunção auditiva central ou Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC) é um distúrbio da audição em que há um impedimento na habilidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. (JACOB, ALVARENGA, ZEIGELBOIM).
Dentre as características mais comuns correlacionadas à crianças com distúrbio do PAC estão os déficits de compreensão da fala na presença de ruído, a distractibilidade, a atenção reduzida, a dificuldade de comunicação, um baixo desempenho acadêmico incompatível com o nível de inteligência ( Chermak e Musiek, 1992; Smoski et al, 1992 apud Emerson et al, 1997) (op cit Zaidan el al , 1999), a memória auditiva limitada, dificuldade de identificação da idéia principal de um enunciado, baixa capacidade de interpretação de palavras, frases, anedotas, metáforas, trocadilhos, analogias de sentido ambíguo, alteração na emissão verbal, e dificuldade de resgaste verbal (Wasowicz, 1998 apud Zaidan et al, 1999).
Frente a essas características alguns estudiosos (Cruz e Pereira, 1996; Chermak e Musiek,, 1997 apud Zaidan et al 1999) associaram os distúrbios do PAC a alterações de fala e articulação de palavras; otites médias; distúrbio de aprendizagem; distúrbio de linguagem e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
A produção cientifica nesta área deixa evidente que o diagnóstico diferencial da alteração auditiva central. Tal procedimento torna-se desafiante exigindo procedimentos específicos e conhecimento do profissional atuante neste processo, seja ele médico otorrinolaringologista, fonoaudiólogo ou ambos.
Relato de Caso:
R.M.A, 7 anos, sexo masculino, cursando a 1ª série do ensino fundamental em escola regular, portador do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) associado a distúrbio de leitura e escrita e distúrbio articulatório.
De acordo com a genitora o período gestacional de R.M.A foi um pouco conturbado (sic). A gravidez só fora descoberta 4 meses após seu início e neste período a genitora fez uso de maconha e álcool, que foram suspensos imediatamente. A criança nasceu a termo, porém apresentou icterícia, necessitando de banho de luz por 5 dias.. Quanto aos desenvolvimentos motor e cognitivo a criança não apresentou alterações. A mãe salienta que seu filho é bastante inteligente (sic). Com relação ao desenvolvimento lingüístico R.M.A apresentou desempenho adequado; a mãe relata que seu filho “ouve bem”.
Durante o período em que cursava a alfabetização, as trocas articulatórias apresentadas pela criança tornaram-se mais evidentes. Momentos de impulsividade e desatenção, assim como erros de leitura e escrita eram freqüentes. Nesta época aconselhada pela professora e familiares procurou um neuropediatra. Aos seis anos a criança foi diagnosticada como portadora de TDAH. Como conduta terapêutica deu-se início a terapia medicamentosa com Ritalina (metilfenidato) e encaminhamentos psicológico e fonoaudiológico.
Na entrevista, com a fonoaudióloga, a mãe, além dos aspectos já relatados ao médico, referiu que as trocas apresentadas pela criança são /v/ por /f/ “faca” (vaca) e /r/ por /l/ “balata” (barata).
No contexto familiar, a criança mostra-se impulsiva, desatenta e muitas vezes faz “birra”. Com os amigos da mesma idade, freqüentemente cria confusões, que, na maioria das vezes terminam em agressões físicas. Na escola, distrai-se com facilidade, não conseguindo manter atenção na fala do professor. A professora relatou que a criança tem apresentado desinteresse por atividades de leitura e escrita uma vez que comete muitos erros em ambas. Tem dificuldades em abstrair conceitos e, como conseqüência, entende tudo ao “pé da letra” o que faz com que seus colegas riam dele quando não entende as piadas. Tal fato o deixa ainda mais irritado.
Como forma de realizar uma avaliação auditiva mais completa foi feita a avaliação do Processamento Auditivo Central. Esta avaliação foi composta dos seguintes testes:
Testes Dióticos:
Localização da fonte sonora em cinco direções;
Memória para sons verbais e não-verbais em seqüência;
Testes Monóticos;
Testes com palavras e frases com mensagem competitiva ipisilateral- PSI em português;
Testes de fala com ruído branco com figuras e com palavras- PSI com palavras
Testes Dicóticos.
SSW em português.
Nestes testes foram obtidos os seguintes resultados:
Testes Dióticos:
Localização da fonte sonora em cinco direções: erros nas posições atrás e acima;
Memória para sons verbais e não-verbais em seqüência: acertou todas as ocorrências para sons verbais. Para sons não verbais, errou uma seqüência;
Testes Monóticos;
Testes com palavras e frases com mensagem competitiva ipisilateral- PSI em português: acertou 40%;
Testes de fala com ruído branco com figuras e com palavras- PSI com palavras: acertou 60%
Testes Dicóticos.
SSW em português: Foram evidenciados erros em 45,75% das sentenças apresentadas.
Esses dados são indicativos de comprometimento do processamento auditivo central.
DISCUSSÃO
Tratando-se de distúrbio de aprendizagem e distúrbio de leitura e escrita, deve-se considerar: integridade motora, integridade sócio-emocional e integridade sensorioperceptual. Dentro deste aspecto, maior destaque tem sido dado à audição, vista como o canal principal de recepção de informações lingüísticas. A audiologia tem reconhecido que não somente as alterações condutivas e neurossensoriais determinam distúrbios de linguagem e aprendizagem, valorizando também o processamento das informações no decorrer da via auditiva. As alterações do processamento auditivo central têm sido amplamente estudadas, visto que caracterizam muitas crianças que manifestam distúrbios de linguagem e do aprendizado da leitura e da escrita. Estas alterações têm sido essencialmente caracterizadas por um rendimento pobre em atividades que implicam em atenção, discriminação, identificação figura-fundo, memória, análise-síntese, seqüências temporais e generalizações auditivas. Os exames audiológicos são imprescindíveis nas alterações de linguagem, assim como os testes específicos do processamento auditivo vêm sendo desenvolvidos e aplicados em maior escala nas alterações do aprendizado (TEDESCO,1997).
A função auditiva fornece o modelo acústico (recepção, discriminação e memória) vindo tanto do meio externo, como da produção do próprio indivíduo. Trabalhos como o de ADAMS & GATHERCOLE (1995) evidenciam que uma memória fonológica pobre produz uma fala espontânea gramaticalmente menos complexa, com vocabulário mais restrito e com reduzida capacidade de modificações nos diferentes contextos. Portanto, as habilidades articulatórias são instrumentos indiretos para o desenvolvimento dos padrões de fala. Crianças com memória fonológica mais pobre acabam produzindo mais erros de origem fonológica em sua fala, pois as primeiras realizações articulatórias podem influenciar diretamente nos padrões de memória fonológica da criança e estes favorecerão o aprendizado de estruturas sintáticas (GUEDES, 1997).
Em crianças com alteração da produção fonoarticulatória avaliados por Koay (1992) e Katz & Smith (1991) foram referidos problemas envolvendo habilidades auditivas tais como: atenção seletiva, discriminação, localização, memória, problemas de leitura e ortografia. Katz & Smith (1991) acreditam que os mecanismos auditivos estão envolvidos predominantemente na aquisição dos fonemas /r/ e /l/ (PEREIRA e ORTIZ, 1997).
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