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A Construção Sociocultural Da Dor

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Por:   •  27/5/2014  •  706 Palavras (3 Páginas)  •  526 Visualizações

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A hipótese interpretativa do estudo, de caráter sociológico, é que as representações sociais sobre o trabalho e o trabalhar no regime de produção social capitalista contemporâneo contribuem para a geração de sofrimento dos sujeitos – levando à somatização, inclusive na forma de dor –, aumentando o número de diagnósticos de fibromialgia. Em 2009, fizemos um levantamento entre mulheres e 64% alegaram ter nível de estresse elevado ou muito elevado no trabalho; 75,5% alegaram que frequentemente ou sempre têm dores agravadas pelo trabalho e 52% afirmam que já precisaram de licença médica pelo menos uma vez em razão do adoecimento.

A impossibilidade de responder à demanda do tipo ideal de "trabalhador produtivo" no regime de trabalho atual gera sintomas manifestados corporalmente na forma de dor. Do nosso ponto de vista, cabe às ciências sociais no campo da Saúde Coletiva interpretar os aspectos sociais e culturais que fazem surgir ou mantêm morbidades coletivas, ou tendência a certos tipos de adoecimento individual e coletivo.

Na década de 1970, a crise do capitalismo revelou o esgotamento do modelo fordista de produção e do regime social de trabalho estabelecido até então. Uma nova maneira de organizar a produção e o regime social de trabalho foi implementada nos países capitalistas centrais e estendida aos países periféricos (atualmente de países "em desenvolvimento" ou "emergentes"). Foi a chamada Reestruturação Produtiva, cujo objetivo era aumentar a produtividade sem aumentar os custos da produção, em especial, sem aumentar a mão de obra empregada (o que gerou sobrecarga de trabalhado para cada trabalhador).

O mundo pós-moderno, ao rejeitar as grandes narrativas da cultura ocidental como a dialética do Espírito, a hermenêutica do sentido, a emancipação do sujeito racional, o privilégio da razão instrumental, a crença na ciência como transformadora da realidade e democratizadora de bens e serviços, a confiança nas instituições democráticas e no mercado como promotores do bem-estar coletivo, entre outras, modificou também os modos e relações de produção (FOURNIER, 2001; LYOTARD, 1984).

Novas formas de organização do trabalho têm substituído o fordismo; a imensa e complexa classe média substituiu a clássica e rígida divisão de classes sociais. Há uma descontrução dos discursos marxistas sobre a relação entre capital e trabalho, ao mesmo tempo em que as contradições dessa relação se tornam mais evidentes. A produção industrial como força de trabalho produtora diminuiu sua importância, enquanto o capital se tornou supervalorizado como motor da produção – vide o crescimento do sistema financeiro e suas crises na Europa e nos Estados Unidos. O risco e as divididas do capital privado são assumidos pelos Estados Nacionais e, por efeito, pelos trabalhadores.

Tornou-se comum o corte de trabalhadores sem que houvesse diminuição na produtividade, sobretudo em razão da incorporação de tecnologias, como a informatização e as telecomunicações. A jornada de trabalho foi ampliada, acompanhada de imensa campanha para que o trabalhador "vestisse a camisa" da empresa. O uso crescente da informática e da automatização dos postos de trabalho não conseguiu eliminar as doenças relacionadas ao trabalho. Patologias, mesmo sem agente etiológico específico, continuaram a surgir,

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