Anemia por deficiência de ferro na infância: estratégias de prevenção e tratamento
Projeto de pesquisa: Anemia por deficiência de ferro na infância: estratégias de prevenção e tratamento. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Joaquimao • 28/3/2014 • Projeto de pesquisa • 2.176 Palavras (9 Páginas) • 589 Visualizações
Tema do Mês
Anemia ferropriva na infância: estratégias para prevenção e tratamento
Iron-deficiency anemia in childhood: strategies for prevention and treatment
Sabrine Teixeira Ferraz
Médica pela Universidade Federal de Juiz de Fora - MG. Residente em Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Trabalho realizado no Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Av. Bandeirantes, 3.900 - CEP 14049-900 - Ribeirão Preto - SP - Tel.: (16) 3602-2573.
Endereço para correspondência: Sabrine Teixeira Ferraz. Rua Barão de Guatacases, 356/901 - Santa Helena - CEP 36015-270 - Juiz de Fora - MG.
Pediatria Moderna Mar 12 V 48 N 3
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Unitermos: anemia ferropriva, deficiência de ferro, anemias nutricionais, atenção primária à saúde.
Unterms: iron-deficiency anemia, iron deficiency, nutritional anemias, primary health care.
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Numeração de páginas na revista impressa: 85 à 88
Resumo
A anemia por deficiência de ferro é a principal deficiência nutricional no mundo e estima-se que metade das crianças e jovens nos países em desenvolvimento seja afetada por esta patologia. Nas últimas duas décadas, a importância da deficiência de ferro e da anemia como um problema de Saúde Pública vem sendo reconhecida pelas autoridades de Saúde e governantes.
Esta revisão foi elaborada para contribuir no planejamento de estratégias de controle da anemia ferropriva por profissionais da atenção básica em saúde. O artigo descreve aspectos relacionados aos grupos de risco, às consequências de deficiência de ferro em crianças e, também, estratégias como a suplementação de ferro e a fortificação e modificação dietética, além do tratamento. O combate a essa patologia deve ser uma prioridade, com esforços na realização de políticas públicas adequadas, promovendo o comprometimento das pessoas e reformulando os serviços de saúde.
Introdução
A carência de ferro é a deficiência nutricional mais comum no mundo(1-3), com quase dois bilhões de pessoas afetadas(4). Ela pode ser definida como a ausência de estoques de ferro mobilizáveis para a eritropoiese, o que acabará por resultar em anemia(5). Os grupos de risco para anemia ferropriva são os lactentes, pré-escolares, adolescentes e gestantes(3,4), a situação é mais preocupante em países em desenvolvimento, nos quais se revela um importante problema de saúde pública(4,6).
Estudos brasileiros demonstram aumento na prevalência e na gravidade da anemia ferropriva nos últimos 30 anos, independentemente da região estudada ou do nível socioeconômico dos indivíduos(3,4,6,7). Atualmente, cerca de 45% a 50% das crianças brasileiras apresentam essa condição(4). Quando consideramos a deficiência de ferro com ou sem anemia, esses números podem chegar a mais de 70%(8).
A anemia ferropriva resulta de um longo período de desequilíbrio entre a ingesta e a demanda de ferro(1,6). Um grande número de fatores predisponentes para anemia ferropriva é citado na literatura, destacando-se suspensão precoce do aleitamento materno exclusivo, não utilização de alimentos ricos em ferro, prematuridade, baixo peso ao nascer, restrição do crescimento intrauterino, gemelaridade, sangramento perinatal, baixo nível socioeconômico, baixa escolaridade materna, más condições de saneamento básico, infestação por ancilostomídeo(3,4,9,10). Em adolescentes pode ocorrer ainda por ingestão inadequada, necessidades aumentadas de ferro para o crescimento e incorporação de massa muscular e perdas menstruais irregulares nas meninas(12,13).
A deficiência de ferro, mesmo ainda sem anemia, está implicada em consequências como alteração do desempenho cognitivo, comportamento e crescimento em lactentes, pré-escolares e escolares; piores condições imunológicas e maior risco de infecções; redução da força muscular; alterações no metabolismo de hormônios tireoideanos e catecolaminas; redução da capacidade lúdica; perda do apetite; insegurança e desatenção(4-7). As sequelas desses déficits por vezes podem ser percebidas por anos após a correção das carências, com deficiências cognitivas observadas a longo prazo(9,10). A presença de anemia ferropriva se associa, ainda, a maior mortalidade infantil e aumento do risco perinatal(5).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os países estabeleçam, como parte de seu sistema de monitoração da saúde e nutrição, a avaliação de deficiências de iodo, vitamina A e ferro, além de sistematicamente avaliar o impacto dos programas de controle desses distúrbios(5). No Brasil, o Ministério da Saúde lançou, em 2005, um manual operacional para o Programa Nacional de Suplementação de Ferro, com recomendações acerca de orientações alimentares, enriquecimento de farinhas e suplementação medicamentosa(14). No entanto, faltam estudos que demonstrem a real eficicácia dessas medidas e o impacto de sua aplicação no país. Infelizmente, não tem havido progresso significativo no controle dos níveis endêmicos de anemia ferropriva na população infantil de países em desenvolvimento(5,15,16).
Um estudo conduzido no Brasil mostrou que, em uma amostra de alta prevalência de anemia ferropriva, apenas uma minoria dos casos (7,5%) era do conhecimento das mães e que apenas 10,8% dessas crianças estavam em tratamento(17). A anemia ferropriva é, portanto, um problema subdiagnosticado e subtratado no país e que não vem recebendo a ênfase devida, no campo da atenção primária em saúde.
As recomendações da OMS e do Ministério da Saúde a respeito da prevenção e do tratamento da anemia por carência de ferro se destinam a médicos de saúde da família, pediatras e clínicos gerais, que são responsáveis pela maioria dos atendimentos aos grupos de risco para essa condição. O atendimento por especialistas (hematopediatras ou hematologistas) é limitado, em grande parte do país, pela escassez de profissionais. A anemia ferropriva e a deficiência de ferro são, dessa forma, temas importantes na atenção primária à saúde, tanto por sua
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