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Por:   •  28/2/2015  •  2.931 Palavras (12 Páginas)  •  357 Visualizações

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Uma investigação antropológica

na terceira idade: concepções sobre

a hipertensão arterial

An anthropological investigation of old age

and concepts concerning arterial hypertension

1 Faculdade de Ciências e

Letras de São José do Rio

Pardo. Av. Mario Ybarra de

Almeida 1498, Araraquara,

SP, 14800-420, Brasil.

2 Faculdade de Ciências

Farmacêuticas de

Araraquara, Universidade

Estadual Paulista.

Campus da Unesp, Rodovia

Araraquara-Jaú, Km 1,

Araraquara, SP

14801-902, Brasil.

3 Programa do Idoso,

Centro Regional de

Reabilitação de Araraquara,

Prefeitura do Município de

Araraquara, SP. Av. D. Pedro

II 1147, Araraquara, SP

14801-040, Brasil.

Fernanda Carvalho 1

Rodolpho Telarolli Junior 2

José Cândido Monteiro da Silva Machado 3

Abstract Anthropology and sociology are joining epidemiology, clinical investigation, and

pathophysiology in studies on the aging process of the Brazilian population. The objectives of

the present study were: a) to identify the concepts of the elderly population of the municipality of

Araraquara, São Paulo, Brazil, towards the etiology of arterial hypertension (AH) and the relevance

of the different signs and symptoms that accompany the disease; b) to improve elderly people’s

concepts towards the relevance and utilization of different treatment categories for AH.

Structured interviews were conducted with 29 individuals, the majority aged 60 years or over,

who were being treated for hypertension at the Araraquara municipal gerontology outpatient

clinic in August 1996. Patients were properly informed by the health team about problems related

to AH, as clearly perceived in the discourse of the elderly. Folkloric concepts pertaining to etiology

also appeared in the interviews and should be taken into consideration in the implementation

of health education activities. Care provided by an interdisciplinary team was valued by

the elderly. The most frequent complaint was the lack of free distribution of prescription medication

for AH at the clinic.

Key words Hypertension; Anthropology; Aging Health

Resumo Essa pesquisa teve por objetivos: a) identificar as concepções da população idosa do

município de Araraquara, SP, quanto à etiologia da hipertensão arterial e a relevância dos diferentes

sinais e sintomas que acompanham a doença; b) identificar as concepções dos idosos relativas

à relevância e à utilização das diferentes categorias de tratamento para HA. Foram realizadas

entrevistas estruturadas com 29 indivíduos, a maioria com 60 anos ou mais, em tratamento

de hipertensão em ambulatório de gerontologia da Prefeitura do Município de Araraquara, em

agosto de 1996. Os pacientes encontram-se bem informados pela equipe de saúde sobre os problemas

relacionados à hipertensão arterial. Concepções de etiologia tipicamente populares também

apareceram, tratando-se de aspectos que devem ser considerados quando da realização de

ações de educação em saúde. O atendimento por uma equipe multidisciplinar é valorizado pelos

idosos, e a reclamação mais freqüente refere-se à falta dos medicamentos prescritos para entrega

gratuita no ambulatório. Para melhorar a comunicação entre equipe de saúde e pacientes é importante

a inclusão de profissionais do campo das ciências humanas nas equipes gerontológicas.

Palavras-chave Hipertensão; Antropologia; Saúde do Idoso

618 CARVALHO, F.; TELAROLLI JUNIOR, R. & MACHADO, J. C. M. S.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(3):617-621, jul-set, 1998

Introdução

O objetivo da presente pesquisa foi o de identificar

as concepções sobre hipertensão arterial

entre pessoas idosas que se tratam no Centro

Regional de Reabilitação de Araraquara, um

serviço de saúde da Prefeitura do Município de

Araraquara, São Paulo, a fim de se ter um diagnóstico

acerca da importância que as representações

sobre esse problema de saúde possam

ter na busca e na manutenção de tratamento

da doença.

Até pouco tempo atrás, o Brasil era considerado

um país de jovens, e isso fez com que se

desse pouca atenção aos idosos, particularmente

por se tratar de um país com graves problemas

sociais envolvendo crianças e jovens.

Destacam-se, entre esses problemas, as deficiências

nas áreas da saúde e educação, levando

à tendência de não se considerar o problema

do envelhecimento no rol das grandes questões

sociais, sobretudo pela menor representatividade

desse grupo na pirâmide etária populacional

até os anos 70.

No último quarto de século, observou-se

uma mudança significativa no padrão demográfico

brasileiro, o que levou a caracterizar o

Brasil como um “país jovem de cabelos brancos”

(Veras, 1994). Caiu a fecundidade e a mortalidade,

aumentando a longevidade da população

e elevando a participação dos maiores de

60 anos no conjunto, faixa etária na qual se encontravam

7,2% dos brasileiros no censo de

1991 (FIBGE, 1991; Prata, 1994).

As estimativas sobre o ritmo do incremento

da população são as mais variadas, havendo

unanimidade em torno da previsão de que a

população idosa crescerá mais rapidamente do

que a população em geral. Uma estimativa razoável

fala em quase 34 milhões de indivíduos

com 60 anos e mais em 2025, fazendo do Brasil

o sexto país do mundo com maior população

idosa (Baeta, 1991). De 6,3% da população total

em 1980, as pessoas com 60 anos e mais passarão

a 14% em 2025 (Ramos et al., 1993).

Foi a partir da percepção desse rápido crescimento

da proporção de idosos no Brasil que

se tornaram mais comuns as pesquisas sobre a

velhice no país. No caso específico da hipertensão

arterial entre idosos no Brasil, há o recente

trabalho de Lourenço (1996).

As pesquisas sobre as condições e necessidades

dos idosos, no entanto, estão apenas começando,

tanto no Brasil como na América Latina

(OPS, 1992). Justifica-se, assim, a presente

pesquisa, que pode contribuir para um melhor

conhecimento das representações da doença

entre pessoas idosas.

A hipertensão arterial como um

problema de saúde pública

A hipertensão arterial vem se transformando

progressivamente num dos mais graves problemas

de saúde pública, atingindo adultos, em

especial os mais idosos, sendo definida pela

Organização Mundial de Saúde como a elevação

crônica da pressão arterial sistólica e/ou

pressão arterial diastólica. Sua prevalência

tende a ser maior no sexo masculino. Os números

são muito variáveis para o país, variando de

5,0% a 32,7% em diferentes regiões do país

(Lessa, 1993).

Um estudo realizado por Lolio (1990) em

Araraquara, São Paulo, em 1987, revelou que

nesse município as prevalências brutas de hipertensão

arterial são superiores às de outras

populações do Brasil e dos EUA, tendo encontrado

32,0% de hipertensos no sexo masculino

e 25,3% entre as mulheres, com uma média de

28,3% para ambos os sexos, para os indivíduos

entre 15 e 74 anos, moradores da zona urbana.

No grupo de 65 a 74 anos de idade, a autora encontrou

prevalências de 58,5% e 54,9%, respectivamente,

para os homens e mulheres de Araraquara

(Lolio et al., 1993). Neste município,

Lolio (1990) encontrou a predominância das

formas leves da doença, ao mesmo tempo que

o consumo de medicamentos com ação terapêutica

cardiovascular usados para doença hipertensiva

era elevado. A mesma investigação

mostrou que as mulheres tinham maior acesso

aos serviços de saúde do que os homens. Uma

de suas conclusões é a necessidade de se dar

maior atenção a esse agravo por parte do sistema

de saúde local, o que é muito importante,

já que a hipertensão é um fator de risco para

outras doenças, e do seu controle depende o

declínio da mortalidade por doenças cerébrovasculares

e coronariopatias.

Essas medidas tornam-se fundamentais para

Araraquara, principalmente se considerarmos

que a população idosa vem aumentando

rapidamente nesse município. Pelos censos realizados

em 1980 e 1991 vemos que a população

com 60 anos e mais aumentou de 8,4% para

9,7%, totalizando em números absolutos quase

16000 indivíduos (Telarolli Jr. et al., 1996). Isso

coloca Araraquara com um índice de idosos superior

à média do Estado de São Paulo. Como a

hipertensão arterial é um problema que atinge

de maneira especial os idosos, o aperfeiçoamento

do controle da hipertensão junto a essa

população passa a ser urgente.

Como objetivo geral da pesquisa, destacamos

a identificação das concepções da população

idosa quanto à etiologia da hipertensão arCad.

Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(3):617-621, jul-set, 1998

terial, bem como das concepções relativas à relevância

dos diferentes sinais e sintomas que

acompanham a hipertensão arterial. Foram

também objetivos da investigação a identificação

das concepções dos idosos relativas à relevância

e à utilização das diferentes categorias

de tratamento para hipertensão arterial (medicamentos,

dieta e exercício físico), além de

identificar aspectos da relação médico-paciente

que sejam relevantes para o sucesso do tratamento

da hipertensão arterial.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada no Centro Regional de

Reabilitação de Araraquara (CRRA), um serviço

de saúde da Prefeitura do Município de Araraquara,

São Paulo. A principal atividade econômica

do município é a agro-indústria da canade-

açúcar e da laranja, além da indústria metalúrgica

e de processamento de alimentos.

Araraquara contava com uma população de

171.687 habitantes, segundo estimativa da Fundação

Seade para 1994.

Além de funcionar como referência em diversas

áreas para o SUS na região de Araraquara,

o CRRA mantém um programa de atendimento

à população idosa do município. Esse

programa conta com a participação de médico

geriatra, clínico geral, psicólogo, enfermeiro,

assistente social, fisioterapeutas, fonoaudiólogo

e professor de educação física.

Foram entrevistados 29 pacientes dos dois

sexos que já vinham sendo atendidos na instituição

e que estavam sendo tratados de hipertensão

arterial. As entrevistas foram realizadas

por um dos investigadores (Carvalho). A entrevistas

eram estruturadas, porém continham

perguntas abertas. Também foram levantadas

histórias de vida. As entrevistas foram gravadas,

sendo realizadas em sala com isolamento

acústico, ao longo dos mês de agosto de 1996.

Não foram adotados outros procedimentos visando

garantir a representatividade da amostra

estudada para a população de idosos que se

tratam no Centro Regional de Reabilitação de

Araraquara. Tampouco foram adotados procedimentos

de aleatorização na escolha dos entrevistados,

além do balanceamento por sexo.

Nessa pesquisa a utilização de métodos e técnicas

não quantitativas não decorre de escolha

ou preferência pessoal. São na verdade procedimentos

necessários para se captar aspectos

subjetivos da realidade social.

HIPERTENSÃO ARTERIAL NA TERCEIRA IDADE 619

Resultados e discussão

Dos 10 homens entrevistados, 9 eram casados

e apenas um solteiro. Entre as 19 mulheres 9

eram viúvas, 6 casadas, 3 solteiras e apenas 1

divorciada. Entre os homens, 7 eram aposentados,

1 trabalhava como jardineiro, 1 possuía

uma pequena empresa e 1 não informou. Das

19 mulheres entrevistadas, 9 eram donas de casa,

1 era faxineira, outra era vendedora e uma

terceira trabalhava cuidando de uma senhora

idosa. Duas mulheres sempre trabalharam na

lavoura, 2 eram empregadas domésticas, 1 era

costureira e 2 eram comerciárias, uma das

quais já se aposentara.

Em relação às causas presumíveis da doença,

grande parte dos entrevistados referiu-se à

hipertensão arterial como decorrência de estado

emocional, traduzido como “passar muito

nervoso”. Um dos entrevistados apresentou

uma causa peculiar, o fato de ter tomado um vinho

licoroso, desencadeando a doença: “tomei

um pouco de vinho licoroso, que eu não tomo

nada, bebida alcoólica não é comigo, nem fumar,

nem nada. Desde esse tempo nunca mais

controlou a pressão...tomei um golinho só. Foi

por isso que me deu problema de pressão”. Trata-

se de uma relação interessante, pois na etiologia

popular é comum aparecerem causas

“mágicas” para problemas de saúde. É dessa

forma que interpretamos o discurso desse homem,

creditando sua doença ao gole do vinho

ingerido.

Alguns idosos relacionaram o início da

doença a uma alimentação com muita gordura

e sal. Isso provavelmente indica uma reformulação,

por parte da população, do discurso médico,

pois a dieta é muito recomendada pelos

médicos como parte do tratamento. Também é

importante notar que muitos dos entrevistados

não responderam à pergunta sobre a causa da

hipertensão, afirmando que não tinham idéia

sobre o que poderia ter causado a doença. A

concepção de causa mais valorizada, no entanto,

é realmente a ligada ao stress da vida moderna

– “passar muito nervoso”.

A maioria dos entrevistados procurou algum

serviço de saúde a partir do aparecimento

dos sintomas mais freqüentes da hipertensão,

como a dor de cabeça ou a sensação de “zoeira

na cabeça”. Dois dos entrevistados apenas iniciaram

o tratamento depois da ocorrência de

graves complicações associadas à hipertensão

arterial – um teve acidente vascular cerebral e

outro um infarto agudo do miocárdio. A sensação

de cansaço foi outro sintoma muito valorizado.

Alguns se referiram à canseira e “fadigação”

como o motivo que os levou a procurar um

620 CARVALHO, F.; TELAROLLI JUNIOR, R. & MACHADO, J. C. M. S.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(3):617-621, jul-set, 1998

médico. Tontura e náusea são outros sintomas

que foram valorizados por parte dos entrevistados.

Poucos entrevistados se referiram aos

perigos da pressão alta, e os que falaram apenas

reproduziram o discurso médico, uma vez

que tinham obtido informações a respeito dos

próprios médicos.

Pode-se notar pelas entrevistas que a necessidade

do tratamento não é, em grande parte,

compreendida. Isso provavelmente se deve

ao fato de se tratar de uma doença crônica que,

quando controlada com o uso de medicamentos,

pode permanecer sem sintomas por longo

tempo. Uma conseqüência indireta desse fato

é que, em decorrência da capacidade de eliminar

os sintomas, alguns pacientes acabam ingerindo

o medicamento apenas quando sentem

os sintomas que os incomodam, aumentando

o risco de ocorrência de complicações

cárdio-circulatórias. Como observou Lefèvre

(1990) a respeito de pacientes hipertensos, “sendo

a doença uma sensação, o paciente não se

sente doente. Mas a despeito de não se sentir

(para usar o pleonasmo) internamente doente,

ele o é externamente” (p.155). Em outras palavras,

com a ausência de sintomas o paciente

não se sente doente, mas ele sabe de sua condição

pelos médicos que o tratam, ou seja, externamente.

A presença de sintomas é o que faz com que

os indivíduos atribuam a si mesmos a capacidade

de administrar os medicamentos, em

função dos sinais e sintomas por eles atribuídos

à hipertensão. Isso apareceu com grande

clareza nos depoimentos de dois entrevistados,

que deixam de tomar sua prescrição algumas

vezes durante dois ou três dias, desde que se

sintam bem.

É consenso entre os geriatras a ocorrência

freqüente de múltiplos distúrbios de saúde

num mesmo paciente idoso (Moriguchi & Moriguchi,

1988; Nascimento et al., 1989; Cançado,

1994; Carvalho-Filho & Papaléo-Netto, 1994).

Padrão semelhante também foi encontrado entre

as pessoas entrevistadas, e algumas não davam

muita importância à hipertensão, valorizando

mais os outros problemas de saúde. Isto

se explica pelo fato de que tomavam medicamentos

para vários outros problemas (diabetes,

“para os rins”, “para varizes” e “para o cérebro”).

Este fato certamente dificulta o reconhecimento

dos efeitos colaterais relativos a cada

um dos medicamentos ingeridos.

Mesmo assim, vários entrevistados reclamaram

dos efeitos colaterais atribuídos à medicação

para hipertensão arterial. Uma das mulheres,

por exemplo, relatou o fato de que o Capoten

lhe provocava muito inchaço na perna

e que, após sua queixa, o médico substituiu a

medicação por Lopril, com o qual ela se deu

bem. Na visão da paciente isso acontece porque

o segundo remédio “tem menos mistura”.

É interessante notar que o Lopril contém a mesma

droga que o Capoten, o captopril, associada

a um produto diurético, a hidroclorotiazida.

Levando isso em conta, na verdade é o segundo

medicamento prescrito para a paciente que

contém ‘mais mistura’. Outra senhora se queixou

que, com o uso continuado de Aldomet, ficava

completamente “largada na cama”, acrescentando

que “o Aldomet tem muita mistura e

prejudica o organismo”.

Existe também um preconceito quase generalizado

contra o fato de se usar regularmente

medicamentos. Foram comuns afirmações

como “eu não gosto muito de tomar remédio”

ou “ tomar demais faz mal”. Essa forma de sentir

a medicalização é especialmente prejudicial

para o sucesso terapêutico quando se trata de

uma doença crônica como a hipertensão arterial.

Outro motivo preponderante para o desgosto

com o uso do remédio é o seu alto preço.

Pudemos constatar, ainda, um certo preconceito

dos idosos em relação ao tratamento alopático.

Isso ficou claro na afirmação de um senhor:

“tem muita mistura, muita química que

faz mal para o organismo”. Alguns entrevistados

fizeram referência explícita ao uso alternativo

de produtos naturais, como chá de folhas

de eucalipto sem açúcar (“afina o sangue, emagrece

e a pressão baixa”). Quando abordamos

os tratamentos medicamentosos em seu conjunto,

encontramos alguns padrões de atitudes

que são comuns frente ao controle da hipertensão

arterial: a maioria dos idosos entrevistados

encontrava-se consciente da necessidade

do tratamento; alguns não gostam de utilizar

remédios por preconceito contra os medicamentos

alopáticos; os que não usam regularmente

os remédios prescritos consideram normal

a pressão subir quando estão nervosos. O

seguinte padrão de comportamento frente ao

uso de medicamentos foi observado: 22 entrevistados

usavam o medicamento constantemente;

5 não estavam usando nenhum produto,

sendo que 2 haviam recebido prescrição

médica, mas abandonaram o tratamento; 2 tomam

sua prescrição somente quando percebem

os sintomas mais valorizados, como dor

de cabeça, tontura e canseira, a despeito de

orientação em contrário. Segundo informação

de um dos geriatras do CRRA, alguns pacientes

deixam de tomar a medicação para “testar se o

remédio está fazendo efeito”. A dieta é muito

valorizada e quase todos seguem a dieta recomendada

pelo médico, evitando sal e comida

HIPERTENSÃO ARTERIAL NA TERCEIRA IDADE 621

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(3):617-621, jul-set, 1998

gordurosa. Parte dos idosos também estavam

fazendo dieta para perder peso, conscientes do

problema da obesidade como um fator de risco

para a hipertensão arterial.

Outro aspecto do tratamento que foi bastante

enfatizado pelos entrevistados é a necessidade

de exercício físico como coadjuvante no

controle da hipertensão arterial. A caminhada

é a modalidade de exercício mais realizada entre

os idosos, e a ginástica, realizada nas instalações

do CRRA é também encarada como uma

atividade de lazer, que lhes proporciona uma

oportunidade de convívio social.

Pela análise das entrevistas pudemos constatar

que os idosos atendidos pelo Centro Regional

de Reabilitação de Araraquara estão

bem informados a respeito da necessidade de

tratamento da hipertensão arterial. Reinterpretações

com base no discurso médico são freqüentes

em relação à etiologia e tratamento da

doença.

A pouca informação sobre as causas da hipertensão

arterial pode refletir o fato de ser essa

uma doença de natureza multifatorial, assim

que os próprios médicos têm dificuldade em

estabelecer uma causa unívoca para cada paciente.

O serviço prestado pelo CRRA foi valorizado

pelos entrevistados, sobretudo o fato de se

tratar de um serviço em que eles dispõem de

uma equipe multiprofissional para atendê-los.

O sucesso de programas de saúde voltados

à população idosa, em especial os de controle

da hipertensão arterial, deve, necessariamente,

considerar as representações do grupo sobre

a doença, com destaque para suas concepções,

considerando os sinais e sintomas mais

freqüentes. Não é demais lembrar que a equipe

de saúde deve ter sempre em mente que os indivíduos,

e os idosos não são exceção, reelaboram

e reinterpretam o discurso médico, traduzindo-

o para o seu universo.

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