Saude Mental
Exames: Saude Mental. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: VitoriaCmarinho • 14/3/2015 • 834 Palavras (4 Páginas) • 195 Visualizações
Quando retornou ao Brasil, depois do asilo político de quase seis anos na França, o médico José Luis Moreira Guedes se deparou com um cenário político de transição do regime militar para a democracia.
Os primeiros anos do processo de retomada da soberania popular no país incluíram a luta incansável e, em muitos casos, interminável pela localização de milhares de presos políticos torturados durante o regime ditatorial.
As histórias relatadas pelos opositores do regime militar, após a Lei da Anistia (de agosto de 1979), davam o tom da crueldade transformada na tortura e perseguição política de centenas de jovens brasileiros.
Em meio ao cenário de resgate da cidadania, Guedes conta que reencontrou o cunhado e ex-líder do movimento estudantil da região do triângulo mineiro, Cirilo Barbosa, trancafiado em um manicômio – a 75km do Rio de Janeiro.
Cirilo havia ficado preso por quase duas décadas no maior hospital psiquiátrico do país, a Casa Doutor Eiras, em Paracambi – conhecida também como Fazenda de Paracambi.
Ele foi um preso político assim como aconteceu com milhares de pessoas. Uma grande maioria dos hospitalizados, durante a ditadura militar, na realidade eram presos políticos torturados. Muitos foram assassinados” explicou.
O médico afirma que uma prática constante dos regimes autoritários é o aprisionamento de pessoas contrárias àquela forma de poder em instituições psiquiátricas.
O Cirilo era um poeta, foi líder estudantil, presidente da entidade secundarista de Araguari – no triângulo mineiro – e assumia a condição de ghost-writer (escritor fantasma) de diversos políticos da região. Vindo de uma família comunista, era muito estigmatizado”.
Apesar da perseguição política, o médico conta que o cunhado começou a apresentar sintomas de esquizofrenia anteriores à internação. A condição de portador de transtorno mental serviu apenas como argumento para a prisão de Cirilo.
Com aproximadamente 450 mil metros quadrados, a Casa de Saúde Doutor Eiras era conhecida como um verdadeiro depósito de gente. “Paracambi era uma grande fazenda e os pacientes viviam soltos como animais lá dentro. Eles comiam com as mãos e muitas vezes como cães, apenas com as bocas. Eram completamente isolados por cercas eletrificadas. Aquilo era uma prisão e muitos eram presos políticos”.
Guedes lembra que além do cárcere físico, o químico era ainda mais terrível. “Os pacientes eram transformados em cobaias e tratados como ratinhos. Hoje os efeitos colaterais desses medicamentos são muito mais conhecidos do que naquela época e trabalhados com muito mais ciência”.
Os efeitos dos longos anos de tortura deixaram sequelas irreversíveis e agravaram o estado de saúde de Cirilo. “Ele passou por repetidas sessões de eletrochoques e choques químicos. Atualmente ele é vítima principalmente do massacre que a antiga estrutura psiquiátrica provocou. Como muitos ex-presos políticos, Cirilo tem sequelas da tortura e dos tratamentos equivocados aos quais foi submetido”.
Desde que foi resgatado pela família, ainda no início da década de 1980, Cirilo vive praticamente como um cidadão comum, com a diferença de ter que seguir o tratamento médico. Atualmente ele vive em Juiz de Fora com o cunhado e a irmã, Nair Barbosa Guedes.
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