Seca No Nordeste
Dissertações: Seca No Nordeste. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Radso • 5/11/2013 • 5.515 Palavras (23 Páginas) • 469 Visualizações
Seca, pobreza e políticas públicas
no nordeste do Brasil
c Renato Duarte
*
Introdução
A
região Nordeste ocupa uma área de 1.539.000 km2
, correspondente a
18% do território brasileiro, e abriga uma população de 45,5 milhões,
equivalentes a 29% do total nacional. Aregião produz cerca de 16% do
PIB brasileiro e o seu PIB per capita corresponde a 56% do PIB por habitante do
Brasil. O Nordeste apresenta algumas singularidades no cenário geoeconômico
brasileiro. Ali vive cerca de metade da população pobre do país. Em termos
geográficos a região mostra-se bastante heterogênea, apresentando grande
variedade de situações físico-climáticas. Dentre estas destaca-se a zona semi-
árida, que, além da sua extensão de 882.000 km2
(cerca de 57% do território
nordestino), singulariza-se por ser castigada periodicamente por secas. As secas
podem ocorrer sob a forma de drástica diminuição ou de concentração espacial
e/ou temporal da precipitação pluviométrica anual. Quando ocorre uma grande
seca a produção agrícola se perde, a pecuária é debilitada ou dizimada e as
reservas de água de superfície se exaurem. Nessas condições, as camadas mais
pobres da população rural tornam-se inteiramente vulneráveis ao fenômeno
climático. Historicamente, a sobrevivência daqueles contingentes de pessoas tem
dependido, seja das políticas oficiais de socorro, seja do recurso à emigração para
outras regiões ou para as áreas urbanas do próprio Nordeste.
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Ph.D. em Economia pela University of Glasgow (Escócia); Coordenador da Área de
Desenvolvimento Regional e Urbano e Políticas Públicas da Fundação Joaquim Nabuco.P o b reza, desigualdad social y ciudadanía
Seca e Pobreza no Semi-Árido Nordestino
Há muito se reconhece que as secas periódicas que castigam a zona semi-
árida do Nordeste assumem dimensões de calamidade pública devido à situação
de pobreza em que vive a maior parte dos seus habitantes (Brasil.GTDN, 1967:
p. 67; Duque, 1973: p. 33), estimados em 18 milhões em dezembro de 1999. A
densidade demográfica da zona semi-árida, de 20 hab/km2
, não parece elevada,
inclusive se comparada aos 28 hab/km2
da região Nordeste. Porém, devido às
condições ambientais e ao tipo de atividade econômica –agropecuária dependente
do ciclo das chuvas – ali predominantes, na realidade o é. No entanto, a situação
de pobreza em que vive a maior parte da população do semi-árido nordestino
decorre de fatores que vão além dos condicionantes geográficos. Primeiramente,
ela reproduz, naquele ambiente, as condições de pobreza a que está submetida
uma grande parte da população brasileira. A situação de pobreza de grande parte
dos habitantes do semi-árido é, portanto, uma faceta do problema maior que é a
pobreza que grassa em todas as regiões do Brasil. A falta de oportunidades
satisfatórias de trabalho e de vida em ambientes menos inóspitos que a zona semi-
árida explica o fenômeno que intrigou o economista norte-americano Albert
Hirschman, levando-o a interrogar por que “grandes massas humanas hajam por
bem viver numa área onde sabem que se expõem à completa perda dos seus
meios de subsistência, por várias vezes, no transcurso do seu termo de vida”
(Hirschman, 1965: p. 27).
A situação de pobreza em que vive a maioria da população do semi-árido
encontra explicação, também, nas condições de posse e uso da terra prevalecentes
naquela sub-região. Adistribuição das terras no Nordeste é muito desigual, como
revela o Coeficiente de Gini relativo ao ano de 1992, que era de 0,7918, conforme
cálculo feito pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA. Em 1992 (último ano para o qual existem estatísticas sobre a estrutura
fundiária), os estabelecimentos rurais do Nordeste com menos de 50 hectares
representavam 75% do número de imóveis, sendo a área por eles ocupada
correspondente a, apenas, 12% da área total. No outro extremo da distribuição das
terras, os imóveis com área superior a 200 hectares representavam 7% do número
de imóveis e ocupavam 68,6% da área total (Brasil.INCRA, 1992). Ainda
conforme o INCRA, 65% da área aproveitável para a agricultura no Nordeste, em
1992, eram ocupados por imóveis com área igual ou superior a 200 hectares.
A pobreza rural no Nordeste, além de resultar de desigualdades na posse da
terra, é agravada pela instabilidade representada pelo trabalho assalariado
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