Sound of Metal: Uma Análise Reflexiva

O filme “Sound of Metal” retrata a trajetória de Ruben, baterista e ex-viciado em heroína, que começa a perder a audição e acaba indo para um lar de reabilitação para surdos, a fim de prevenir uma recaída. Apesar da dependência química não ser o foco principal do filme, é possível perceber, durante as conversas de Ruben com seu terapeuta, Joe, alguns dos princípios da entrevista motivacional e da avaliação inicial de indivíduos com dependência.

Dentre os princípios da entrevista destaca-se: aumentar a motivação de mudança; promover mudanças comportamentais; manter uma relação empática, centrada, não confrontativa e direta com o paciente; reforçar a autonomia; auxiliar a resolução da ambivalência; conversar com o paciente sobre as suas motivações; diálogo direto, orientado por metas para a realização de tomada de decisões; consciência e disciplina por parte do terapeuta; guiar a pessoa na resolução de um problema; colaboração, evocação e respeito pela autonomia; parceria colaborativa; diálogo colaborativo e ativo; processo decisório em conjunto. Durante a avaliação inicial é importante ressaltar que deve-se coletar os dados do indivíduo (identificação, estado de saúde), deve ser conduzida de forma clara e breve, deve-se buscar por sintomas sinalizadores (red flags), fazer a anamnese completa mais o exame físico. As premissas dessa avaliação incluem: questionar sobre o uso de drogas e como se dá esse uso (substância usada, quantidade, quando, em que situação), deve-se avaliar a motivação do paciente, realizar o exame psíquico e o físico, formular a hipótese diagnóstica, realizar a devolutiva para o paciente e definir o seguimento deste.

O início da trama evidencia a importância da música na vida de Ruben, que é sua forma de sustento, de prazer e modo de se relacionar, visto que, a sua parceira Lou, também faz parte do meio musical. Ao receber o diagnóstico de perda auditiva progressiva, Ruben se vê em negação de sua futura condição e muito frustrado com o que está vivendo. Lou, ao perceber isso, teme uma recaída por parte de Ruben, e decide levá-lo a um lar para surdos e dependentes químicos, para que ele possa se adaptar a essa nova realidade. Nesse lar, ele conhece Joe, o responsável pelo local e o terapeuta, que também é surdo e ex-viciado em bebidas alcoólicas. Nesse primeiro encontro, nota-se alguns princípios da avaliação inicial, que é a investigação do uso de drogas nos indivíduos que buscam assistência, no qual Joe pergunta se Ruben é um viciado, quais as drogas que ele usava, que no caso era mais a heroína. Ainda é perguntado se o personagem pensa em usar desde que perdeu a audição, e ele responde que tem sido muito difícil e que não consegue pensar direito, evidenciado que a situação atual tem sido um fator de vulnerabilidade. Por fim, Joe pergunta há quanto tempo Ruben está limpo e se ele acha que precisa de ajuda. Essa última pergunta é importante, pois faz o indivíduo não só refletir sobre sua condição e suas vulnerabilidades, como também respeita a sua autonomia, ao fazê-lo decidir se precisa ou não de ajuda.

Ainda nesse primeiro diálogo, Joe conta sobre o seu vício e as consequências, fala o que seria feito, caso Ruben aceitasse ficar, mas que ele precisava entender que ele tem que fazer isso sozinho e que Lou poderia ajudá-lo a se comprometer. Mesmo diante do exposto, Ruben fica com receio de aceitar, pois teria que ficar isolado e longe de Lou e acaba desistindo do lar, Joe compreende e Ruben vai embora. Nesse trecho percebe-se alguns princípios da entrevista motivacional que é escutar o paciente, sem julgar; ter uma comunicação empática e direta com o indivíduo; reforçar a autonomia do paciente, entender que ele é o principal responsável pelas mudanças. Depois dessa cena, Ruben tem uma crise e começa a quebrar várias coisas dentro do trailer o que faz com que Lou vá embora. A partida de Lou faz com que isso seja a principal motivação dele para a mudança, além de fazê-lo reconhecer que precisa de ajuda.

Com isso, ele retorna ao Joe e aceita participar de sua instituição, entrega as suas chaves e seu celular, aceitando ficar isolado do mundo exterior. Lá Ruben é apresentado aos outros integrantes do grupo e participa de um grupo de apoio. No início, é explicado a ele que cada um na casa tem uma tarefa específica e que a de Ruben é aprender a ser surdo.Observa-se que ações têm objetivos de ativar a motivação de Ruben para promover mudanças, reforçar a sua autonomia, guiá-lo nessa adaptação, além de promover uma parceria colaborativa de Ruben com os demais integrantes, objetivos esses bem semelhantes aos princípios da entrevista motivacional. Durante o início dessa nova jornada de Ruben, Joe acaba notando que ele ainda não está se adaptando bem, que ele anda agitado, então propõe que Ruben fique em outro quarto sozinho com um caderno e que, quando não conseguir relaxar e ficar quieto, pode escrever, mas se estiver muito difícil, pode vir procurá-lo para conversar. Aqui é evidenciado a empatia do terapeuta,