Uso De Lipídeos Em Dietas De Ruminantes
Resenha: Uso De Lipídeos Em Dietas De Ruminantes. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: LucasvGomes • 10/11/2014 • Resenha • 1.579 Palavras (7 Páginas) • 481 Visualizações
A evolução das espécies ruminantes ocorreu associada à ingestão de forragens que são
naturalmente pobres em gordura, com teores da ordem de 3% na Matéria Seca (MS). O ecossistema
ruminal, um dos melhores exemplos de simbiose da natureza, onde o animal provê o ambiente e o
alimento e a microbiota hospedada nele permite o uso da fonte mais abundante de energia que são as
fibras das forragens, tem dificuldade em lidar com dietas que tenham elevado valor de gordura. Os
teores de gordura em nutrição animal são expressos como o material que é extraído do alimento pelo
éter, determinação conhecida como extrato etéreo (EE). O valor crítico de teor de gordura na dieta
estabelecido é de, no máximo, 6% de EE na MS. Valores acima disso atrapalham a degradação ruminal.
Os efeitos negativos na fermentação ruminal em dietas com gordura acima do limite crítico
ocorreriam por dois principais motivos: 1) efeito tóxico direto dos ácidos graxos aos microrganismos e
2) efeito físico pelo recobrimento das partículas alimentares com gordura, com conseqüente redução do
contato destas com agentes de digestão. O primeiro é considerado preponderante.
Neste ponto fica claro que fontes de gordura mais insaturadas são mais problemáticas do que
fontes menos saturadas. De fato, óleos vegetais são mais tóxicos no rúmen do que gorduras animais (uso
proibido em função da necessidade de redução de risco de transmissão da doença da Vaca Louca, a
encefalopatia espongiforme bovina). Também a forma como a gordura é oferecida influi nos efeitos
deletérios no rúmen: os ácidos graxos do grão de oleaginosas (caroço de algodão, soja, girassol, etc.),
uma vez que são defendidos pelas estruturas da semente, são liberados mais lentamente e, por isso, são
menos problemáticos do que a ingestão direta do óleo dessas oleaginosas. Como os ácidos graxos
insaturados (i.e. ácidos graxos com ligações duplas entre pelo menos dois carbonos) são os mais tóxicos,a microbiota ruminal desenvolveu uma estratégia para reduzir a insaturação dos ácidos graxos com a
colocação de hidrogênios nestas duplas ligações, transformando-as em ligações simples ou saturadas.
Biohidrogenação
CH3- CH2-...- CH = CH - CH2- COOH --------------------------------- CH3- CH2-...- CH2 - CH2 - CH2- COOH
Ácido graxo insaturado Ácido graxo insaturado
Esse fenômeno chama-se biohidrogenação e é responsável pela carne bovina ser mais saturada
do que de animais monogástricos (aves e suínos, por exemplo) e o principal motivo de restrição por
médicos e nutricionistas à inclusão dela nas dietas. Usualmente a maior parte dos ácidos graxos que
passam o rúmen são biohidrogenados. Mesmo os ácidos graxos dos grãos, apesar da menor velocidade
de liberação comentada acima, também costumam ser extensamente biohidrogenados.
Como um último aspecto de efeitos ruminais da gordura, há uma interessante coincidência nas
alterações de padrão de fermentação entre dietas com gordura e dietas com Ionóforos. O programa de
Cornell (CNCPS), um sistema de modelagem e avaliação de rações, por exemplo, desconsidera o efeito
do Ionofóro se há gordura na dieta. Na verdade, apesar das evidências científicas, ainda falta identificar
se o efeito é substitutivo, como assume o CNCPS, ou se há diferença entre diferentes teores de gordura
na dieta e diferentes concentrações do aditivo. Exemplificando, falta saber se uma dieta com valores
intermediários de gordura (4,5% MS da dieta) não resulta em 100% do efeito do ionóforo, mas, talvez,
precise apenas de meia dose (efeito aditivo) ou mesmo menos do que metade da dose (efeito sinérgico)
para fazer o mesmo efeito total do aditivo isoladamente.
Outro aspecto importante da presença de lipídeos no rúmen é que eles não contribuem para o
crescimento da microbiota ruminal, pois não são fermentados no rúmen e, portanto não contribuem com
energia. Essa informação pode ser importante no momento de equilibrar a proteína degradável no rúmen
que deve ser uma porcentagem da energia da dieta, mas apenas daquela fermentescível no rúmen.
Apesar de não fornecerem energia, é importante mencionar que uma pequena, mas significativa, parte
dos ácidos graxos são incorporados às membranas celulares dos microrganismos ruminais.
O valor da gordura como combustível fisiológico é de 9 Mcal/kg, equivalente a cerca de 2,25 a
energia de carboidratos e da proteína, mas isso, desde que seja absorvida e fique a disposição para ser
metabolizada (energia metabolizável). Portanto, varia em função da digestibilidade de cada fonte de
gordura. O que mais interfere na digestibilidade dos ácidos graxos seria o grau de insaturação. Assim,
quanto mais insaturado o ácido graxo, maior sua digestibilidade e, portanto, seu valor energético.
Um dos grandes apelos para a inclusão de fontes de gordura na alimentação de ruminantes é que
o fornecimento de lipídeos na dieta frequentemente melhora a eficiência da conversão de alimentos, ou
seja, para uma dieta com gordura pode ser
...