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Por:   •  4/6/2014  •  2.381 Palavras (10 Páginas)  •  474 Visualizações

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Em vídeo, escracho diante da casa do Capitão Ubirajara, em 1º de abril. Acusado matar e torturar, “especializando-se” em mulheres, é protegido pela Lei de Anistia e pelo STF

Pelo Coletivo Substância

Primeiro de abril, 50 anos após o golpe militar, o Levante Popular da Juventude escrachou Aparecido Laertes Calandra, mais conhecido como Capitão Ubirajara. Ex-delegado da polícia civil, Ubirajara trabalhou como assessor jurídico no DOI-CODI, um dos mais temidos centros de repressão política do regime militar, onde participou de diversas sessões de tortura.

Entre suas vítimas estão Darci Miyaki, Maria Amélia de Almeida Teles, Gilberto Natalini, Sérgio Gomes, Nilmário Miranda, Arthur Scavone e Adriano Diogo. Este último, atualmente deputado estadual e presidente da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, relatou que sua principal especialidade era a tortura de mulheres.Por Thomaz Ferreira Jensen

Há 50 anos o comando das Forças Armadas perpetrava golpe de Estado para instaurar a ditadura no Brasil, que se prolongaria por 21 anos. Também há meio século, em junho de 1964, era criada a Abiquim, Associação Brasileira da Indústria Química.

É público e notório que as Forças Armadas agiram com o apoio e a serviço dos interesses da grande burguesia – os donos das principais indústrias, dos bancos, da grande mídia empresarial e das grandes propriedades rurais – e do imperialismo – governo dos Estados Unidos e empresas daquele País com interesses no mercado brasileiro.

A Abiquim congregou, desde o início, as indústrias químicas nacionais e estrangeiras, que aqui já estavam instaladas desde os anos 1920. Permitiu, assim, articular os interesses destas corporações e apresentá-los aos governos da ditadura para obter financiamento e vantagens desde os primeiros meses do regime autoritário.

É já fartamente comprovado o engajamento das principais indústrias químicas, plásticas e farmacêuticas no apoio ao golpe de abril de 1964 e à ditadura que se seguiu. O excelente documentário “Cidadão Boilesen”, lançado em 2009 e dirigido pelo cineasta Chaim Litewski, mostra a estruturação e o financiamento por empresários e banqueiros paulistas da OBAN (Operação Bandeirantes), centro de investigações e torturas montado pelo Exército brasileiro em 1969 para combater organizações de esquerda que confrontavam o regime ditatorial e que geraria, pouco tempo depois, o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna). A OBAN significou o poder repressivo comandado e financiado diretamente pelos donos do capital, sem mediações, e executado pelos agentes fardados do Estado, com inteligência da CIA, a central de espionagem do governo dos Estados Unidos.

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O caso de Henning Boilesen, retratado no documentário, é exemplar. Dinamarquês naturalizado brasileiro, trabalhou durante 19 anos no grupo químico Ultra, tendo sido presidente da Ultragaz. Aproximou-se de grupos militares e paramilitares e, sádico, costumava acompanhar sessões de tortura na OBAN.

Segundo Elio Gaspari, em seu livro “A ditadura escancarada”, a primeira reunião organizada para captação de recursos para a OBAN foi convocada por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, e contou com a participação de 15 empresários e banqueiros, como Gastão Bueno Vidigal, dono do banco Mercantil de São Paulo, que era também presidente do clube Paulistano. Lá, às quintas-feiras, costumava promover almoços com empresários e não raro convidava Delfim Netto para apresentar análises de conjuntura econômica. Ao final da palestra, eram recolhidas as colaborações para a OBAN.

Pery Igel, dono do Grupo Ultra e patrão de Boilesen, foi certamente um dos mais destacados financiadores da OBAN, ao lado de Paulo Ayres Filho, dono da Pinheiros Produtos Farmacêuticos e de executivos das montadoras de automóveis estadunidenses Ford e General Motors. Boilesen é figura paradigmática, triste representação de outras tantas dezenas de empresários que apoiaram e financiaram a ditadura, e que até hoje permanecem anônimos.

Boilesen foi assassinado em 15 de abril de 1971, em São Paulo, numa ação conjunta envolvendo militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) e do MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes). Delfim Netto compareceu ao enterro e levou consigo Roberto Campos, amigo de ambos.

Delfim participou com destaque de todos os governos ditatoriais e foi signatário do AI-5 – ato do governo militar decretado em dezembro de 1968 que fechou o Congresso Nacional e permitiu ao regime ditatorial acirrar a repressão. Delfim foi o operador do modelo econômico da ditadura, num contexto em que as corporações industriais dos Estados Unidos buscavam expandir seu domínio sobre a América Latina para barrar o avanço da influência política dos países socialistas, liderados pela União Soviética.

O modelo econômico da ditadura potencializou os desequilíbrios estruturais herdados do período precedente: dependência tecnológica e financeira e concentração de renda. O Estado tornou-se órgão técnico para gerir o modelo ditado pelas transnacionais e aparato repressivo para sufocar os conflitos sociais e políticos daí decorrentes.

Heranças deste modelo sentidas até hoje são a generalizada corrupção, o arrocho salarial – que o Movimento Sindical procura enfrentar através da política de valorização do Salário Mínimo e das conquistas salariais nas negociações coletivas – e a intensa rotatividade de trabalhadores gerada pelo fim da lei de estabilidade no emprego, em 1966, e que atinge hoje níveis alarmantes em todos os setores econômicos, incluindo a indústria plástica e de cosméticos, dentro do segmento químico.

A ditadura legou uma indústria química estruturalmente dependente de capitais e de insumos estrangeiros. Apenas em 2013, o déficit comercial da indústria química para fins industriais, representada pela Abiquim, alcançou 32 bilhões de dólares. E, no mesmo ano, a indústria química, plástica e farmacêutica, remeteu ao exterior 3,6 bilhões de dólares a título de lucros, dividendos e pagamento de empréstimos às suas matrizes, localizadas, majoritariamente, nos Estados Unidos e na Europa.

Além disso, a política agrícola da ditadura, pela subordinação da economia nacional aos interesses do capital estrangeiro, impôs ao Brasil a “revolução verde” no campo, o que deu as bases para o agronegócio comandado pelos grandes produtores de commodities, como soja e milho, pelas transnacionais químicas fabricantes de agrotóxicos

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