Livro Saúde Indígena: uma introdução ao tema
Por: LETICIA.M.C • 19/4/2021 • Resenha • 2.221 Palavras (9 Páginas) • 276 Visualizações
Resenha: Livro Saúde Indígena: uma introdução ao tema
Capitulo 5 - Nutrição e alimentação em saúde indígena: notas sobre a importância e a situação atual.
A alimentação e a nutrição são temas que vem ganhado grande repercussão nos últimos tempos, quando se refere aos povos indígenas no Brasil. Os debates hoje estão bem distribuídos chegando ao conhecimento de toda população, através de informações pela mídia. Mas infelizmente muitas vezes isso geralmente acontece em situações dramáticas como por exemplo nos casos de mortes por desnutrição, de crianças. Contudo tão rapidamente quanto surgem estes debates na grande mídia desaparece rapidamente dando lugar a outros temas.
Assim algumas questões colocam-se a perguntar o por que a alimentação e, mais especificamente, a nutrição dos povos indígenas do pais, e hoje um tema tão relevante, e para quem esse tema e relevante ou até mesmo são casos pontuais ou ocorrências frequentes? O que se conhece e pode dizer sobre o tema nos dias atuais?
Quando falamos em nutrição estamos falando de um ponto de vista determinado e muito especifico, de um conjunto de ideias partilhado, pelo menos teoricamente pelos profissionais de saúde que, em nosso país prestam atenção à saúde indígena. E como equipes multidisciplinares de saúde indígena incluem os agentes de saúde e como estes são treinados, nas estratégias de formação e capacitação profissionais dentro do que chamamos de biomedicina. Assim lembrando que o modo como os profissionais de saúde entendem as relações entre alimentação e a saúde, e mesmo o que eles entendem por alimentação e saúde, é geralmente, muito diferente das diversas formas pelas quais os muitos povos indígenas do país podem compreendê-las. A diversidade sociocultural passa assim a ser um desafio e mais especificamente do profissional da área da nutrição. Uma definição bastante simples descreve estado nutricional como o resultado das relações entre o consumo, pelo individuo, de alimento e nutriente, seu estado de saúde e as condições ambientais em que vive. E perfil nutricional como a descrição do estado de nutrição da população descrevendo e identificando a população e tipos de problemas ligado a nutrição que ocorre, quais os grupos que mais são atingidos e em que proporção isto acontece. Assim deve-se considerar um conjunto de evidencias de que os povos indígenas de nosso país são hoje particularmente vulneráveis à ocorrência de problemas nutricionais, como a desnutrição e a obesidade, sendo muitas as causas para estas ocorrências, isto acontece pelas diversas transformações que vêm ocorrendo em seus modos de vida, desde os primeiros contatos como não índios. Apesar de um conjunto muito grande de povos que tiveram trajetórias, historias muito distintas de interação com não índios, de modo geral o contato desses povos com não índios passam por importantes transformações em seus modos de vida, as quais passam a afetar suas práticas alimentares condições de vida e de saúde, resultando em expor esses povos a maiores riscos de desenvolvimento de problemas nutricionais, com todas as implicações que estes processos podem trazer a saúde, que apontam para o predomínio de condições sanitárias inadequadas e para um perfil de morbimortalidade ainda caracterizado pelas doenças infecciosas e parasitárias, em níveis frequentemente mais elevados que aqueles registrados entre não índios.
Observa-se nos últimos anos que existe uma grande mudança no tipo de alimentação dos povos indígenas, de modo que ela fica cada vez mais semelhante à alimentação dos não índios. A alimentação indígena antes do contato com não índios era composta por diferentes combinações produtos da caça, pesca, agricultura (ressalvando-se que alguns grupos indígenas não praticavam a agricultura) e coleta (produtos silvestres, como frutos, mel, raízes etc.). A partir do contato, passam a consumir alimentos até então desconhecidos ou não utilizados na alimentação, o que inclui tanto espécies vegetais (novos cultivos, por exemplo) quanto animais. São igualmente inseridos alimentos processados, como açúcar, óleo, pão, bolachas e enlatados, entre muitos outros. Ocorrendo mudanças também do modo como esses alimentos passam a ser adquiridos, mediante aquisição comercial, doações de caráter emergencial, alimentação escolar e outros. Assim a alimentação dos índios hoje passa a ser uma alimentação pobre em nutrientes e rica em carboidratos, lipídios e sódio. É um tipo de fenômeno descrito na literatura como ocidentalização ou modernização da dieta e que, entre não índios, caracteriza particularmente a alimentação adotada nos centros urbanos. A preocupação se justifica na medida em que tal mudança na alimentação favorece o ganho de peso e o surgimento de doenças a ele associadas, como a hipertensão arterial e o diabetes mellitus.
Isso é ainda agravado porque tais mudanças na alimentação costumam ser, no caso dos povos indígenas, acompanhadas por alterações nas estratégias de subsistência e por aquilo que chamamos de padrões de assentamento, ou seja, o modo como estes povos constituem geograficamente suas comunidades em casas esparsas ou concentradas; se fixas num mesmo local por apenas dois ou três anos ou por períodos maiores; se localizadas às margens de rios ou em áreas de terra firme etc. Tais características de assentamento têm importantes implicações no acesso às fontes alimentares. O que se observa com frequência é a tendência de fixar residência em caráter permanente abandonando a movimentação periódica anterior junto aos postos indígenas e a outras instituições da sociedade brasileira, o que implica, a longo prazo, em redução gradativa dos recursos alimentares disponíveis no ambiente.
Assim com o passar do tempo, as atividades de busca e produção de alimentos ficam cada vez mais difícil e menos produtivas nas proximidades das aldeias, ainda que mesmo os solos mais férteis se esgotam rapidamente, fazendo assim que famílias se mudem para encontrar novos sítios adequados para a atividade. Quando as terras indígenas possuem dimensões reduzidas, esta possibilidade sequer existe, ficando seriamente comprometidas as possibilidades de produção autônoma de alimentos e ao mesmo tempo tendo problemas com saneamento adequado, o que provoca uma contaminação crescente das fontes de agua. Também é muito comum registros de redução, frequência e intensidade nas atividades físicas, em grande parte decorrente de alterações nas atividades produtivas, justificando tais fatos pela diminuição da agricultura, caça e pesca, e aumentando funções dentro das aldeias remuneradas.
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