Síntese do documentário Carne e Osso

Documentário: Carne e Osso

O documentário “Carne e Osso” traz à tona a realidade por trás de um dos aspectos da tamanha praticidade da vida moderna. São histórias de trabalhadores que estão em constante contato com o risco ocupacional e o assédio moral dos empregadores.  É claramente visto durante todos os relatos a forma como o capital financeiro predomina sobre o capital produtivo e como isso interfere na cadeia social. Os trabalhadores passam anos realizando atividades de risco e altamente extenuantes, além de lidar com o assédio moral por parte de supervisores e empregadores e negligência por parte dos médicos ocupacionais. É notável como o modelo de produção (ainda que o documentário tenha sido gravado em 2011) se assemelhe nitidamente ao modelo fordista. O ritmo de trabalho dos indivíduos é ditado pelas máquinas, e em seus movimentos repetitivos e constantes, eles acabam se transformando em uma, por assim dizer. Os estudos comprovam que esses trabalhadores realizam atividades muito acima da sua capacidade corporal. Além disso, as empresas não oferecem suporte adequado para evitar/reduzir os problemas decorrentes desse tipo de trabalho. Além dos problemas físicos, muitas vezes irreversíveis, os trabalhadores acabam desenvolvendo também transtornos psicológicos e neurológicos. Quando se chega a esse ponto, muitas vezes o trabalhador é demitido e não reivindica seus direitos. Sem perspectiva devido a baixa escolaridade e condição social, esses trabalhadores se vêem sem alternativa e voltam a trabalhar na mesma área ou apelam a trabalhos informais. Outro fato que chama atenção é como a dignidade está associada ao trabalho, ainda que em condições adversas: é melhor continuar trabalhando do que não poder fazer mais nada. Por fim, para cada uma dessas pessoas, é um ato de coragem recomeçar e exigir seus direitos. Ainda que esteja claro o que é necessário fazer para a melhoria desse quadro (re-estruturação das etapas de trabalho, pausas entre as atividades, acompanhamento digno feito por profissionais de saúde) ainda é mais conveniente para essas empresas pagarem multas e subornarem fiscais do que estabelecerem mudanças. Contextualizando para a nutrição, é válido questionar-se a respeito da comodidade advinda de comprar um frango sem pele e desossado no supermercado em nome de uma vida saudável. O ato de se alimentar também deve envolver o pensamento crítico, principalmente no que diz respeito à indústria alimentícia. Isso vale não só para questões de bem estar animal, publicidade infantil ou uso de agrotóxicos; é preciso lembrar que há pessoas que sofrem para manter o processo produtivo que garante acesso a alimentação para a maioria da população com praticidade e comodidade.

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