A CÁRIE DE RADIACAO ARTIGO ORIGINAL
Por: ManuellaBrayner • 2/4/2020 • Artigo • 3.777 Palavras (16 Páginas) • 408 Visualizações
A cárie de radiação como sequela bucal da radioterapia em cabeça e pescoço: revisão de literatura
Manuella França Brayner I; Vanessa Guerra Martins II
IAcadêmica do curso de odontologia da Unit – PE. Aluna do curso de aperfeiçoamento em cirurgia oral menor na faculdade COESP.
IIAcadêmica do curso de odontologia da Unit – PE. Aluna do curso de aperfeiçoamento em cirurgia oral menor na faculdade COESP.
RESUMO
Descritores:
ABSTRACT
Keywords:
INTRODUÇÃO
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos.Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo (INCA,2018).
O câncer de cabeça e pescoço é a sexta neoplasia maligna mais comumente encontrada em todo o mundo e anualmente são diagnosticados aproximadamente 400.000 novos casos (FREGNANI, et al., 2016; MORAIS-FARIA et al.,2016). Os principais tratamentos disponíveis para o controle dessas neoplasias são a cirurgia de cabeça e pescoço, a radioterapia e a quimioterapia, escolhidos de acordo com a localização, tipo histológico da neoplasia, estadiamento clínico e condições físicas do paciente. Geralmente a cirurgia é o tratamento de escolha, podendo ou não estar associado à radioterapia, sendo a quimioterapia utilizada de forma paliativa nos casos mais avançados (VIEIRA, 2006). Porém, apesar dos benefícios trazidos no tratamentos câncer com o uso da radioterapia, a mesma é capaz de provocar efeitos adversos nos campos de radiação, e em relação à cavidade bucal, as principais alterações ocorrem na pele, mucosa, ossos, glândulas salivares e dentes (SONIS, 1996).
A radioterapia destrói tanto células tumorais como também normais, principalmente em células de tecidos de mudança rápida, como é o caso do epitélio oral (NEVILLE, 2016). Quando a cavidade oral é exposta a altas doses de radiação, seu equilíbrio sofre efeitos dramáticos e a grande maioria dos pacientes apresenta uma ou mais complicações agudas e/ou crônicas associadas ou não aos efeitos colaterais das medicações.( Hancok PJ, Epstein JB, Sadler GD. Oral and dental management related to radiation therapy for head and neck cancer.J Can Dental Assoc 2003 ;69(9): 589-90). Os principais efeitos adversos são xerostomia, mucosite, osteorradionecrose, trismo e desenvolvimento dentário anormal. (artigo de Complicações bucais no tratamento radioterápico – Alexandre Cursino de Moura Santos). A redução do fluxo salivar e, consequentemente, de suas funções protetoras pode ocasionar uma rápida evolução das cáries até a destruição dos dentes sendo chamada de cárie de radiação.
As sequelas orais podem causar problemas graves durante e após o tratamento e são fatores importantes na determinação da qualidade de vida do paciente (TOMMASI, 2013).O cuidado com a saúde oral deve fazer parte do atendimento multidisciplinar ao paciente oncológico a fim de proporcionar um tratamento integral com suporte físico e emocional ao mesmo ( Huber MA, Terezhalmy GT. The head and neck radiation oncologia patient. Quintessence International 2003;34(9):693-717).
Por meio de uma avaliação clínica e radiográfica, o cirurgião-dentista identifica se existem lesões ósseas, alterações e tumores secundários, adequando a cavidade bucal aos efeitos do tratamento. Em muitas situações, são adotadas condutas pontuais, como preservação ou remoção de dentes. Os primeiros procedimentos incluem extração dental e tratamento de cáries, canal e doença periodontal (inflamação que afeta desde a gengiva até o osso que envolve e suporta o dente). Outras medidas clínicas simples são higiene bucal e controle do biofilme dental (placa bacteriana). Já a laserterapia auxilia na prevenção e no tratamento de lesões orais, entre elas mucosites, úlceras traumáticas e aftas. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files// media/document//rrc-39-educacao-de-boca-em-boca.pdf> Acesso em 16.01.2019.
Visto o alto número de casos de pacientes irradiados em região de cabeça e pescoço, intencionamos ampliar nosso conhecimento sobre a fisiopatologia da cárie de radiação, de forma a otimizar os tratamentos odontológicos efetuados nestes pacientes.
REVISÃO DE LITERATURA
A radioterapia é a modalidade terapêutica que utiliza as radiações ionizantes com o objetivo de destruir células neoplásicas visando uma redução ou desaparecimento da doença (TOMMASI, 2013). Se a célula atingida fizer parte da constituição normal do indivíduo, seu efeito será nocivo.Com os avanços do tratamento radioterápico com o IMRT (Radioterapia de Intensidade Modulada), as incidências estão cada vez mais diretas. O IMRT é a modalidade de radioterapia externa conformacional altamente precisa que permite a administração de altas doses de radiação no volume alvo, minimizando as doses nos tecidos adjacentes de forma muito eficaz. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/radioterapia-de-intensidade-modulada-imrt/4645/710/ Acesso em 18.01.2019.
A distribuição da dose pode ser medida por meio de absorção de energia pelo tecido. Em geral, o protocolo usado para o tratamento de carcinomas da região de cabeça e pescoço envolve doses que variam entre 50 a 70Gy (TOMMASI, 2013). Essa dose é fracionada e o paciente é exposto a uma dose diária de 2Gy durando assim o tratamento de cinco a sete semanas.
Uma vez que o tratamento radioterápico instituído pelo médico radioterapeuta não proteja, ou preserve, estruturas nobres adjacentes ao tumor diagnosticado em boca, o paciente passará a desenvolver efeitos colaterais bucais adversos à radioterapia (GUPTA, N. et al.,2015; BRENNAN et al., 2017).
A cárie de radiação é um tipo especial de cárie aguda altamente destrutiva e de progressão rápida. As lesões ocorrem em decorrência das alterações na quantidade e composição química da saliva e também devido ao aumento da população de bactérias carcinogênicas. Provoca uma mudança na microbiota bucal onde a placa bacteriana torna-se altamente acidogênica, com um aumento progressivo de S. mutans, lactobacillus e cândida (artigo de Complicações bucais no tratamento radioterápico – Alexandre Cursino de Moura Santos). Não é causada diretamente pela irradiação mas sim pela hipossalivação, diminuição do PH e aumento da viscosidade da saliva e redução da capacidade de tamponamento (TOMMASI, 2013).
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