Uso De Metas De Pasto Para A Realização Do Manejo Do Pastejo
Por: wika2511 • 15/5/2024 • Artigo • 7.341 Palavras (30 Páginas) • 70 Visualizações
Uso de metas de pasto para a realização do manejo do pastejo
Roberta Aparecida Carnevalli
Nos últimos anos, houve uma verdadeira revolução no manejo de pastagens tropicais. A planta deixa de ser encarada como uma equação matemática e passa a ser trabalhada como cultura. Conceitos de ecofisiologia de plantas passaram a contextualizar a base do manejo de pastagens no Brasil (DA SILVA ET AL., 2009b). Desde que os trabalhos que utilizam características fisiológicas ou de desenvolvimento da planta como indicativo de pastejo em manejo com lotação intermitente, foram iniciados como forma de proporcionar melhor eficiência de produção e colheita de forragem, houve a preocupação de buscar uma relação desta meta com uma ferramenta facilmente assimilada na prática. Este fato tem facilitado a transformação dos resultados da ciência em ganhos econômicos no campo de maneira mais efetiva.
Dentre as variáveis testadas para traduzir características ecofisiológicas das plantas forrageiras em ferramentas praticáveis no campo estão massa de forragem, número de folhas vivas por perfilho, altura de pasto e disponibilidade de forragem. A variável mais citada nos estudos tem sido altura do pasto pela sua alta relação com índice de área foliar e interceptação luminosa, praticidade, facilidade de assimilação e baixo custo de aquisição (CARNEVALLI, 2003; BARBOSA ET AL., 2007; PEDREIRA ET AL. 2007; VOLTOLINI, 2006).
Dada a grande diversidade de plantas forrageiras existentes de norte a sul do Brasil, a pesquisa ainda não tem a resposta de altura de manejo para todas as essas cultivares, porém, as principais cultivares estão sendo estudadas e tem apresentado respostas bastante consistentes.
Segundo CARNEVALLI (2003), para capim-mombaça (Panicum maximum Jacq. cv. mombaça) a altura do pasto, correspondente a 95% de interceptação luminosa em pastos já adaptados e rigorosamente pastejados nesta condição, foi de 90 cm. Do mesmo modo, para o capim-tanzânia (P. maximum cv. Tanzânia), obteve-se de 70 cm de altura (BARBOSA ET AL., 2007). Para o gênero Brachiaria, as respostas já obtidas são de 25 cm para capim- marandu (SOUZA JÚNIOR, 2007) e 30 cm para capim-xaraés (PEDREIRA ET AL., 2007). Para capim-elefante cv. Cameroon, VOLTOLINI (2006) obteve 100 cm de altura de manejo correspondente a entrada que proporcionou melhores eficiências de produção e colheita.
A altura apresenta uma relação direta com a massa de forragem quando o manejo é baseado nas características fisiológicas da planta (CARNEVALLI ET AL., 2006; BARBOSA ET AL., 2007; PEDREIRA ET AL. 2007; VOLTOLINI, 2006). Os valores de massa de
forragem mostraram-se constantes para cada cultivar sempre que o dossel atingia a altura meta. A relação entre a massa de forragem e a altura origina a densidade volumétrica da pastagem, dada em kg MS/cm.ha. Pastagens de capim-mombaça, capim-tanzânia e capim- elefante apresentaram valores de densidade volumétrica, acima da altura do resíduo, que variaram entre 70 e 80 kg MS/cm.ha (BUENO, 2003; DIFANTE ET AL., 2009 E VOLTOLINI, 2006). Para as plantas do gênero Brachiaria, observou-se 220 e 83 kg/cm.ha para capim-marandu e capim-xaraés, respectivamente (NAVE, 2007), verificando que o capim-xaraés apresentou uma arquitetura de forragem mais semelhante aos capins cespitosos e o capim-marandu, mostrou-se mais denso como as plantas do gênero cynodon (260 e 370 kg/cm.ha para coastcross e tifton-85 sob lotação contínua (CARNEVALLI ET AL., 2001a; CARNEVALLI ET AL. 2001b)).
Nestas circunstâncias, as ferramentas de trabalho passam a ser uma régua graduada e o conhecimento da altura meta de manejo da pastagem. A freqüência de avaliação e a seleção dos piquetes a serem monitorados serão determinadas pelo responsável pelo manejo a cada nova tomada de dados no campo.
Desde 2005, as áreas de manejo rotacionado da Fazenda Experimental do Núcleo Regional Centro-Oeste da Embrapa Gado de Leite, localizada na Embrapa Arroz e Feijão em Santo Antonio de Goiás, tem sido destinadas ao desenvolvimento de estratégias de utilização das pastagens monitoradas por altura (correspondente a 95% de interceptação luminosa) e ajustes necessários de acordo com os eventos de rotina em fazendas leiteiras. Foram definidas, naquelas condições, número de medições de altura no campo, frequência de avaliações, determinação de seqüenciamento de piquetes, além de estratégias de ajustes de oferta e demanda de forragem ao longo da estação de crescimento.
Para realização das medições de altura no campo, o percurso deve ser errático ou em zig-zag, evitando locais que apresentam formigueiros, cupins e pontos extremos (muito altos ou muito baixos) que, por algum motivo, foram evitados pelos animais. Na área ou piquete a ser medido, a recomendação tem sido a medição de 10 a 20 pontos a cada 2.000 m2, sendo que esta variação ocorre de acordo com as condições locais. Quanto maior a uniformidade do pasto e menor o tamanho do piquete, menor o número de pontos necessários para a obtenção
de uma média representativa. O valor da altura é obtido por meio de medição do plano superior médio de folhas sem esticar ou comprimir os perfilhos (CARNEVALLI, 2003). A frequência de monitoramento da altura mais utilizada tem sido uma vez por semana em todos os piquetes cuja altura esteja próxima a altura meta de pastejo (CARNEVALLI, 2008).
Os piquetes que compõem a área de pastagem rotacionada podem apresentar taxas de crescimento diferenciadas dentro do mesmo período de tempo devido a vários fatores como: diferenças nos tamanhos de piquetes proporcionando variações na quantidade de fertilizantes, manchas de fertilidade de solo, diferenças de topografia, sombreamento, índice de área foliar residual, entre outros. Desta forma, a ordem de entrada nos piquetes deve ser estabelecida pela seqüência decrescente dos valores médios de altura, sendo assim, a seqüência numérica de entrada nos piquetes nem sempre é respeitada (CARNEVALLI, 2008).
Em épocas de aceleração do crescimento de forragem (pico da estação de crescimento), observa-se que o excedente de forragem distribui-se pela área aumentando o número de piquetes disponíveis ao pastejo. Estas circunstâncias facilitam a perda de controle da estrutura das pastagens, já que, se a competição por luz não for eliminada, haverá uma aceleração no crescimento de colmos e na senescência de folhas (DA SILVA ET AL., 2009a; PEDREIRA ET AL., 2007). Nesta situação, torna-se imprescindível a utilização de estratégias que permitam manter o controle da estrutura da pastagem para garantir alta eficiência de produção e colheita até o final da estação das águas.
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