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As consequência da modernidade ANTHONY GIDDENS

Por:   •  1/6/2016  •  Resenha  •  1.871 Palavras (8 Páginas)  •  1.768 Visualizações

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O presente trabalho aborda a obra de Anthony Giddens 1 , As conseqüências da modernidade, em seus aspectos e reflexões de natureza ambiental (ecológica) e as implicações para a sociedade global contemporânea. Giddens apresenta uma interpretação da modernidade. Argumenta que ainda não vivemos na pós-modernidade, e chama de alta modernidade o período transitório do século XX para o XXI. Sua análise ressalta um conjunto de categorias como a segurança, perigo, confiança e risco para definir a separação entre moderno e pré-moderno, utilizando-se ainda dos conceitos de desencaixe e tempo e espaço na compreensão da própria modernidade. No decorrer da obra Giddens aponta para o risco de catástrofes ecológicas, indicando que o apocalipse é uma possibilidade real. MODERNIDADE E DESCONTINUIDADE Para Giddens a “modernidade” refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua 1 GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991 2 influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica inicial. 2 Estilo, costume de vida ou organização social, características iniciais da modernidade na Europa (localização geográfica), sofreram profundas e radicais transformações na alta modernidade. Um dos principais marcos entre a pré-modernidade e a modernidade foi, por assim dizer num primeiro momento, (i) a migração frenética das populações do campo em direção às cidades (cada vez maiores), em busca de trabalho na crescente indústria; e (ii) num segundo momento, a divisão da sociedade em classes sociais e seus mecanismos de dominação de uma classe sobre a outra, sob o poder do capital. Uma das conseqüências da modernidade, neste contexto, percebe-se com a degradação da condição humana, através do modo como as pessoas eram forçadas a viver (amontoadas) nas cidades. As condições de trabalho eram desumanas, reservando-se pouco tempo para o descanso. Além disso os salários eram indignos. Acrescente-se a esta condição uma moradia insalubre, num ambiente cada vez mais poluído, e os resultados serão: desnutrição, doença, morte... Desencaixe? Perhaps. Os modos de vida produzidos pela modernidade nos desvencilharam de todos os tipos tradicionais de ordem social, de uma maneira que não tem precedente 3 , como reforçado por Giddens. O modo tradicional de vida no campo nada tinha a ver com a nova realidade de vida nas grandes cidades. Ruptura entre a vida vivida sob alguma estrutura social menos densa no campo para uma vida corrida e disputada palmo a palmo num campo de batalha chamada cidade, onde o lema era – e ainda é – farinha pouca meu pirão primeiro, justificam a afirmação sobre as condições desumanas a que foram submetidas as populações recém chegadas às cidades. Sobre tais reflexões Marx construiu sua obra. A exaustão de recursos naturais não renováveis (biodiversidade, por exemplo), pela destruição sistemática do ambiente, em ritmo alarmante, é uma outra conseqüência da modernidade, mais atual, demonstrando o agravamento da ruptura. Na alta modernidade a degradação sócio-ambiental rompeu com quaisquer modelos de utilização racional dos recursos naturais possíveis ou imagináveis, distanciando-se cada vez mais da pré-modernidade, numa visão histórico-evolucionista. As civilizações tradicionais podem ter sido consideravelmente mais dinâmicas que outros sistemas pré-modernos, mas a rapidez da mudança em condições de modernidade é extrema... como destaca Guiddens. Conforme diferentes áreas do globo são postas em interconexão, ondas de transformação social penetram através de virtualmente toda a superfície da Terra 4 , tornando as estruturas sociais cada 2 idem, p. 11 3 idem ibidem, p. 14 4 idem ibidem, p. 15, 16 3 vez mais complexas; as trocas materiais são cada vez mais automáticas. The future is around the corner. O sistema econômico global assume formas dinâmicas, praticamente cegas sob a ótica de qualquer contexto social, sobre uma matriz alicerçada no lucro e no aumento do capital, sem quaisquer escrúpulos. Isto rompe com as fronteiras culturais, ambientais etc. O mundo se transformando numa imensa feira livre planetária, onde todos são comerciantes e consumidores, mas a ninguém toca a responsabilidade pela limpeza da rua depois da feira. No afã por acompanhar as transformações sociais e econômicas, a sociedade global vem se distanciando paulatinamente (desencaixando) de suas long exisiting teia de relações sociais; tradições de respeito e culto pela mãe natureza, povoam apenas o imaginário dos mais idosos. As conseqüências para a espécie humana são dramáticas, para todo e qualquer indivíduo, sem exceção, quaisquer que sejam seus modelos de vida social ontem e hoje. As guerras convencionais e a ameaça de utilização de bombas atômicas, com seus desdobramentos sócio-ambientais, são facetas de um drama humano, muito bem abordado por Giddens, drama este que reflete o grande desafio a ser superado globalmente pela espécie homo sapiens sapiens. SOCIEDADE Sociedade é obviamente uma noção ambígua, referindo-se tanto à “associação social” de um modo genérico quanto a um sistema específico de relações sociais... “sociologia é o estudo das sociedades humanas” ou “sociologia é o estudo das sociedades modernas” 5 . Assim apresenta Giddens a noção de sociedade, no intuito de fundamentar sua posição sobre sociedade = estado nação, e seu contraste com a comunidade social dos estados pré-modernos. E acrescenta que na grande maioria dos cenários pré-modernos, inclusive na maioria das cidades, o meio local é o lugar de feixes de relações sociais entrelaçadas, cuja pequena extensão espacial garante sua solidez no tempo. Migrações de populações, nomadismo e as viagens de longas distâncias de mercadores e aventureiros eram bastante comuns nos tempos pré-modernos. Mas a grande maioria da população era relativamente imóvel e isolada, se compararmos com as formas regulares e densas de mobilidade (e consciência de outros modos de vida) proporcionadas pelos meios de transporte modernos. 6 5 idem ibidem, p. 21 6 idem ibidem, p. 104 4 Na pré-modernidade, como apontado por Giddens na passagem acima, a capacidade de locomoção de pessoas, coisas e informações não eram tão intensas para a grande maioria da população. Já na modernidade, a locomoção física foi gradativamente tornando-se mais veloz: carruagens, trem, avião, foguete, espaçonave. O que permite trocas cada vez mais rápidas, de informações, valores, dinheiro e interações de toda ordem. Hoje (alta modernidade) tudo isto é praticamente instantâneo. No seguimento, Giddens apresenta a questão da ordem nas sociedades e o problema de distanciamento tempo-espaço. Na maior parte das culturas pré-modernas, mesmo nas grandes civilizações, os seres humanos se viam em continuidade com a natureza. Suas vidas estavam atadas aos movimentos e disposições da natureza – a disponibilidade das fontes naturais de sustento, a prosperidade das plantações e dos animais de pasto, e o impacto dos desastres naturais. 7 A continuidade com a natureza, a que Giddens se reporta, estava intrinsecamente ligada aos fenômenos naturais, dos quais as pessoas não tinham controle. Chuva, seca, frio, entre outras adversidades naturais, influenciavam a produtividade nas plantações e na criação de animais. As pessoas eram passivas, e o máximo que podiam fazer era invocar divindades e entes elementares na proteção da safra e no estímulo de uma boa colheita. Os estudiosos sociais seguem buscando justificativas, mas a maioria das contingências que afetam a atividade humana são humanamente criadas, e não meramente dadas por Deus ou pela natureza 8 , por mais conveniente que esta postura possa ser. O homem pode ser responsável, portanto ele é responsável, como teria dito Hans Jonas. Como já anteriormente abordado, o adensamento da população nas cidades rompeu com os laços de continuidade entre os indivíduos e o campo. Os neo-urbanóides esquecem os conhecimentos tradicionais trazidos do campo, como interpretação do tempo e do clima, o regime de águas, a insolação etc., pois isto tinha menor relevância na cidade; a população do campo, que restou, dispunha de cada vez menos candidatos à manutenção das tradições e conhecimentos centenários de interação com a natureza. Na agricultura surgem artefatos mecânicos eficientes, que dispensam mão-de-obra. O grande momento das colheitas, tradicionalmente eventos festivos, momento de intercambio de experiências, troca de sementes, interações de toda ordem, passa a ser um evento de conotação mais comemorativa e isolada do que os valores agregados a estes eventos na pré-modernidade. Na modernidade a colheita passa a ser mais um fato demonstrativo, de apuração de lucros e prejuízos. O trigo vira dinheiro que vira um arado que vira mais trigo que vira dinheiro que vira trator. As cidades, inchadas, demandam por mais alimentos, madeira e outros produtos do campo; nesse fluxo vão também mais pessoas, que se 7 idem ibidem, p. 66 8 idem ibidem, p. 39 5 instalam como podem, e passam a engrossar guetos e favelas, que consomem, consomem, consomem... São os excluídos: resultado da moderna utilização do homem pelo homem. A industria está em plena ação e o campo produz movido a vapor. Ousando aqui por um instante, podemos folgadamente determinar que a fronteira entre a pré-modernidade e a modernidade, assim entendida, deu-se pelo advento da revolução industrial, na virada do século XVII para o XVIII. E na perspectiva de Giddens, a modernidade se estenderia até a virada do século XX para o XXI, quando, então, estaríamos na altamodernidade. Do ponto de vista ambiental, grosso modo e utilizando-se aqui de metáfora, a pré-modernidade teria no máximo arranhado o planeta terra; na modernidade os arranhões infeccionaram – anticorpos se recusam a combater os agentes infecciosos, em franca descontinuidade; na altamodernidade, o membro infectado necessita ser amputado. Ruptura radical. (a) Os arranhões pré-modernos podem ser caracterizados, por exemplo, pela intensa supressão de vegetação, sobretudo nas florestas do velho mundo, devido à demanda por boa madeira para a construção de embarcações cada vez maiores e velozes. Estes arranhões imprimiram as regras na busca pelo caminho marítimo para as Índias e o lucro que a atividade comercial com estas terras oferecia. Há quem diga que globalização foi um processo que se iniciou efetivamente no século XV. Em terras do novo mundo (Terra Brasilis), como sabido, o desflorestamento iniciou com o ciclo do pau-brasil, passou pelo ciclo da cana-de-açúcar e aprofundou com a mineração do ouro e diamante nas Geraes. No princípio os nativos foram aliciados pelo branco de além mar, e com machados de lâminas afiadas e brilhantes suprimiram mais floresta em poucos meses do que todos os lightnings em cem mil anos. Trouxeram ainda braços negros de outras terras; mais florestas ao chão. Continuidade ou descontinuidade eram fenômenos inobserváveis em terras de ninguém. (B) Em tempos modernos, os arranhões já contaminados com os germes da ganância e do lucro selvagem, levam a terra ao delírio tremens com o ciclo da rubiácea, em franca expansão no século XIX, além da derrubada de mais e mais florestas para a produção de carvão para os trens a vapor (chegados na metade do século) e para a crescente siderurgia. A grande selva amazônica, para não entregar, resolveram integrar, estimulando a substituição da biodiversidade por McDonalds. No Rio de Janeiro, o desequilíbrio na relação desmatamento versus abastecimento de água, estimulou a iniciativa do replantio da Floresta da Tijuca na segunda metade do século XIX. Mas tal fato foi praticamente isolado. A regra era derrubar florestas. É certamente na segunda metade do século XX que a relação entre desmatamentos e o clima global se tornam mais evidentes. Basta observar os fenômenos do efeito estufa e El Niño e as conseqüências para as populações de diversos países. O homem sabe, mais do que nunca, que muita coisa vai mal.

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