Relatório de Zoologia
Por: Ruth Pereira • 10/11/2016 • Relatório de pesquisa • 5.013 Palavras (21 Páginas) • 545 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS, NATURAIS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
Relatório parcial do projeto: Diversidade e Conservação de Aves em um Mosaico de Áreas Protegidas do Sul do Espírito Santo, Brasil (GRN nº 008/2015)
Alegre
2016
1. INTRODUÇÃO
A Mata Atlântica ocupa uma região extensa e de grande heterogeneidade. Seu domínio se estende por cerca de 1.481.946 Km², o que corresponde a aproximadamente 17,4% do território brasileiro. Está distribuída ao longo de aproximadamente 3.300 Km de costa (METZGER, 2009). A elevação vai do nível do mar até 2900 m, com mudanças abruptas no tipo e profundidade dos solos e na temperatura média do ar (MANTOVANI, 2003). São florestas distribuídas ao longo de um gradiente climático que varia de áreas planas com longos períodos secos até áreas montanhosas com altos índices de pluviosidade. Dentre outros aspectos, abriga grande parte dos centros urbanos do país e cerca de 70% do total da população brasileira (METZGER, 2009).
Com uma amplitude latitudinal grande, variando de 4o a 32o Sul, a Mata Atlântica apresenta diversaszonas climáticas e formações vegetacionais, de tropicais a subtropicais (MANTOVANI, 2003). Estas formações incluem floresta tropical, formações mistas de araucária ao sul, florestas decíduas e semidecíduas no interior evárias formações associadas ao bioma, como mangues, restingas, campos de altitude e brejos (CÂMARA, 2003).
Devido ao crescimento econômico e à expansão das áreas antropizadas, a Mata Atlântica se encontra atualmente em um nível avançado de fragmentação. Mais de 80% dos fragmentos restantes de vegetação são menores do que 50 hectares, mais de 97% são menores do que 250 hectares e grande parte das áreas de floresta está a menos de 100 metros das áreas de borda. Do total dos remanescentes, pouco mais de 9% estão efetivamente protegidos em Unidades de Conservação (RIBEIRO et al., 2009). A fragmentação de habitat e os distúrbios associados à substituição dos ambientes naturais causam alterações nas comunidades biológicas, reduzindo as populações (BROOKS et al., 2002), a diversidade de espécies (COOK et al., 2002) e provocando extinções (ZHOU e WANG, 2006; VANDERMEER e LIN, 2008).
Embora seja um bioma extensivamente fragmentado e ameaçado pelas atividades humanas, o Bioma Mata Atlântica abriga ecossistemas dentre os mais diversos do planeta (MYERS et al., 2000). Os grupos de vertebrados, em especial, somam 1810 espécies, sendo 389 endêmicas, o que representa aproximadamente 7% da diversidade conhecida nesses grupos. As aves somam 1023 espécies nesse Bioma (MMA, 2000). Destas, 188 são endêmicas (PACHECO e BAUER, 2000) e cerca de 102 possuem algum grau de ameaça (IUCN, 2004).
A Criação de Unidades de Conservação é uma das principais estratégias para conservação das populações silvestres (PRIMACK, 1993). O Corredor Central da Mata Atlântica, que abrange a Bahia e Espírito Santo, possui cerca de 40 áreas de proteção. Entretanto, o intenso desmatamento deste Bioma nestes estados torna prioridade a criação de novas áreas de proteção e a conservação das áreas protegidas já existentes nestas regiões (GALINDO-LEAL e CÂMARA, 2003).
O sistema estadual de Unidades de Conservação do Espírito Santo é constituído por 17 Unidades de Conservação (IEMA, 2014). Do total, apenas 6 são classificadas como de proteção integral, onde se admite somente o uso indireto dos recursos naturais. Os Parques Estaduais da Pedra Azul, do Forno Grande e de Mata das Flores, em especial, formam um bloco de paisagem em particular, constituído por uma transição de ambientes dentre áreas de campos de altitude, florestas altimontanas, passando por florestas montanas e finalmente chegando a áreas de floresta semidecidual (LANI et al., 2008). Na região entre os parques Estaduais da Pedra Azul e do Forno Grande, inserido no corredor ecológico prioritário instituído pelo Governo do Estado, ficam as florestas de Monte Verde e de Caetés, área indicada para a criação de Unidade de Conservação de acordo com o “Workshop Nacional de Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos” (Portaria MMA N°09/2007), o Decreto para conservação de áreas prioritárias no Espírito Santo (Decreto Estadual Nº 2530-R, 2010) e o "1º Workshop de Criação de Unidades de Conservação Estaduais do Espírito Santo". Esses documentos consideraram a área relevante para a conservação da diversidade da fauna e flora no ES.
De acordo com dados constantes em planos de manejo, com exceção do Parque Estadual de Mata das Flores, que não possui esse instrumento de gestão, foram encontradas 156 espécies de aves distribuídas em 36 famílias no Parque Estadual da Pedra Azul (CEPEMAR, 2004), e 160 espécies pertencentes a 38 famílias no Parque Estadual do Forno Grande (MRS, 2000). Nas matas de Monte Verde e Caetés um estudo recente da SAVE Brasil relatou a ocorrência de 173 espécies pertencentes a 42 famílias (dados não publicados). A comunidade de aves desse bloco de paisagem é rica em espécies, o que se destaca quando considerado que a região constitui uma Área Importante para a Preservação de Aves, em inglês, uma IBA (importantbirdarea) (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2014). Embora a região seja vista como de grande importância para as aves, o conhecimento a respeito da ecologia das comunidades nesse bloco de paisagem é escasso, com poucos estudos realizados.
2. JUSTIFICATIVA
Algumas espécies de aves se mostraram sensíveis às alterações ambientais, seja mudanças climáticas (DEVICTORet al., 2008), distúrbios naturais tais como incêndios e enchentes (BRAWN et al., 2001) e fragmentação de habitat (UEZU et al., 2005). As mudanças no ambiente, em especial aquelas causadas pelas alterações humanas, podem ser responsáveis pela extinção de várias espécies na Mata Atlântica (RIBON et al., 2003). Os programas de monitoramento da avifauna são especialmente importantes considerando as alterações às quais esse grupo está exposto no ambiente.
De acordo com os planos de manejo das Unidades de Conservação, verificou-se que os levantamentos de avifauna foram feitos em curto espaço de tempo, em intervalos inferiores à sazonalidade já observada para o grupo (BENCKE e KINDELl, 1999, DEVELEY e PERES, 2000), o que subestima a sua riqueza e diversidade nessas áreas protegidas. Novos estudos que considerem aspectos ecológicos das comunidades em longo prazo são necessários para ampliar o conhecimento sobre as espécies existentes já catalogadas e acerca das que não foram registradas através da metodologia utilizada na elaboração daqueles planos.
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