A Utilização de Biofertilizante Obtido em um Biodigestor Anaeróbico Alimentado Pela Mistura de Resíduos Agroindustriais

Gotardo e Montovani. Utilização de biofertilizante obtido em um biodigestor anaeróbico alimentado pela mistura de resíduos agroindustriais em área agrícola

Utilização de biofertilizante obtido em um biodigestor anaeróbico alimentado pela mistura de resíduos agroindustriais em área agrícola

Use of biofertilizer obtained in an anaerobic biodigestor fed by agro-industrial waste mixture in agricultural area

Autor correspondente

Rafael Gotardo

Adubos e Gestão de Resíduos Industria e Comerciais

[e-mail]

 

Analu Mantovani

Universidade do Oeste de Santa Catarina

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Resumo. O presente estudo avaliou o impacto da aplicação de diferentes doses de biofertilizante (proveniente do tratamento anaeróbico dos resíduos de frigoríficos e laticínios) na produção de Aveia preta (Avena strigosa) em um Nitossolo Vermelho Distrófico. O estudo foi desenvolvido na Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, no município de Campos Novos-SC. Foram aplicadas cinco doses de biofertilizante RLF (25; 50; 80; 150 e 300 m³. ha-1), além da testemunha. No experimento foi empregado o delineamento experimental em blocos ao caso, com parcelas de 4,0 x 5,0 m, em esquema fatorial 6 x 4, com seis tratamentos e quatro repetições, totalizando 24 parcelas. O biofertilizante (efluente) é oriundo do biodigestor da empresa AGRIC Adubos e Gestão de Resíduos Industriais e Comerciais Ltda. As variáveis avaliadas foram as quantidades de matéria seca e matéria verde, os elementos de fertilidade e dos níveis residuais de metais pesados no solo. Os resultados mostram que biofertilizante utilizado atende aos limites de tolerância para todas as variáveis estabelecidas pela Resolução Nº 420/2009 e podem ser aplicados no solo em uma taxa de aplicação de até 80 m3. ha-1. Estes por sua vez proporcionam aumento da fertilidade e não demostraram influência sobre as concentrações de metais pesados no solo, bem como aumento de 25,2% da massa verde entre as doses 0 e 80 m3. ha-1 e de 16,2% para a matéria seca nas mesmas doses.

Palavras-chaves: fertilidade do solo, biodigestor, metais pesados.

Abstract. The aim of the study was to evaluate the impact of different doses of biofertilizer (anaerobic treatment of refrigerators and dairy residues) in black oats production (Avena strigosa) in a Nitossolo Vermelho Distrófico. The study was developed in the University of the West of Santa Catarina - UNOESC, in the municipality of Campos Novos-SC. Five doses of RLF biofertilizer (25; 50; 80; 150 and 300 m³. ha-1) were applied, in addition to the control. In the experiment, an experimental block design was used in the case, with plots of 4.0 x 5.0 m, in a 6 x 4 factorial scheme, with six treatments and four replications, totaling 24 plots. The biofertilizer (effluent) is from the biodigester of the company AGRIC Adubos e Gestão de Residuos Industrias e Comerciais Ltda. The evaluated variables were the amounts of dry matter and green matter, soil fertility and residual levels of heavy metals in the soil. The results show that the biofertilizer meets the tolerance limits for all variables established by Resolution No. 420/2009 and can be applied to the soil at an application rate of up to 80 m3. ha-1. These rates provide an increase in soil fertility and did not show influences on heavy metals concentrations in the soil, as well as an increase of 25.2% in green mass between doses 0 and 80 m3. ha-1 and 16.2% for dry matter in the same doses.

Keywords: soil fertility, biodigester, heavy metals.

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Introdução

O uso de biofertilizantes na agricultura brasileira vem crescendo a cada ano. Biofertilizantes possibilitam o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e menos dependente de insumos minerais. Os biofertilizantes são dotados de altas concentrações de matéria orgânica, no qual proporcionam melhorias nas características químicas, físicas e biológicas do solo (CARDOSO et al., 2014). Por exemplo Silva et al. (2012), verificou que um efluente tratado em biodigestor anaeróbio apresentou características em termos de fertilidade, por conter elementos solúveis que são nutrientes essenciais as plantas, além de disponibilizar micronutrientes e matéria orgânica durante a sua degradação no solo.

Normalmente fontes de biofertilizante são resíduos agroindústrias frigoríficas (resto digestivo do abate de animais, pelos, tecidos, lavação em geral etc) e de laticínios (leite, soro de leite, gordura, produtos descartados entre outros). Os resíduos agroindustriais quando não decompostos constituem um problema em termos de poluição ambiental, pois ocasionam toxidade, salinidade, patogenicidade, e desbalanço de nutriente no solo e nas culturas. Neste sentido a biodigestão anaeróbica é um dos métodos mais eficientes para tratamento de resíduos agroindustriais, que consiste na degradação de compostos orgânicos em substâncias mais simples, como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), através da interação de diferentes microrganismos que atuam na ausência de oxigênio (GONÇALVES, 1982). A biodigestão ocorre nos chamados biodigestores que são constituídos por câmara fechada, sem contato com o ar atmosférico, onde a matéria orgânica sofre degradação anaeróbia, produzindo um efluente com características de fertilizante e geração de gases (DOTTO; WOLFF, 2012). O tratamento anaeróbico é considerado alternativa para o tratamento de efluentes líquidos agroindustriais (MANFROI, 1990). O biofertilizante é um subproduto do processo anaeróbio e sua utilização em áreas agrícolas tem se mostrado viável sob o ponto de vista técnico, uma vez que reduz a carga poluidora e contribui com a redução de produtos não renováveis, além de reduzir os custos da produção agropecuária.

A utilização de efluentes na atividade agrícola tem sido empreendida em várias partes do Brasil, sendo que práticas de reuso tem sido apoiada pelas legislações ambientais federais como a CONAMA N° 357/2005 e a CONAMA N° 430/2011. Em especial, o uso de resíduos frigoríficos e laticínios requer atenção aos aspectos relacionados à oferta de nutrientes e/a logística de distribuição, visto que também agregam custos e têm limitações de ordem técnica e ambiental. Assim para o uso como fertilizante é necessário saber a dose a ser aplicada no solo referente a cada cultura. Estudos são fundamentais uma vez que biofertilizantes podem causar impactos ambientais, aumentando perdas de nutrientes no solo e nas águas subterrâneas e superficiais. De maneira geral, as recomendações de adubação para as diferentes culturas têm por objetivo estabelecer as doses de maior eficiência técnica e econômica, baseadas principalmente nas concentrações de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) (GATIBONI et al., 2016). No entanto, a legislação sobre o tema é pouco contribuinte em relação normatização do uso de biofertilizante. Vários estudos com resíduos agroindustriais têm sido realizados (MACIEL 2016, LOZANO et al. 2015 MATOS et al. 2015, OLIVEIRA et al. 2011, SANTOS et al. 2013, ERTHAL et al. 2010, FERREIRA et al. 2010), mas grande parte não utiliza a biodigestão anaeróbica como uma forma de tratamento primário.