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Recursos naturais e Meio-ambiente

Por:   •  18/9/2024  •  Resenha  •  12.231 Palavras (49 Páginas)  •  17 Visualizações

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Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biosistemas

Recursos naturais e Meio-ambiente

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Sobre a gênese da

contemporaneidade

A modernidade e a consolidação do individualismo

 possessivo

Uma introdução: as relações e a modernidade

A instauração da modernidade moderna, também denominada pós-Cristã, pode ser considerada como um processo de liquefação, conforme os dizeres de Zygmunt Bauman[1]. Desde o limiar dos tempos modernos ocorre o derretimento continuado de diversas instituições humanas. Os primeiros "sólidos" a derreter e os primeiros "sagrados" a profanar foram as lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as obrigações que atavam pés e mãos, limitando movimentos e restringindo iniciativas.

A condição humana é alterada de forma significativa devido ao rompimento provocado pela instauração da modernidade moderna sobre os valores e modos de vida tradicionais. Os conceitos desenvolvidos pelo pensador judeu-alemão Martin Buber, sobre os modos relacionais, são expressivos para auxiliar a compreensão destas mudanças. Buber considera que a condição humana é marcada pela dualidade de dois tipos fundamentais de modos de relação: como pessoa (Eu-Tu) e como indivíduo (Eu-Isso). Cada um de nós, em nossa vida concreta do dia a dia, vivemos entre estes dois modos relacionais, como pessoa e como indivíduo.

O homem se forma como pessoa nas situações nas quais se manifestam as diversas possibilidades de relação pela reciprocidade da ação, pela mútua interferência, pela solidariedade, pelo respeito à vulnerabilidade e à alteridade do próximo[2]. Estas situações não envolvem o isolamento, que não possibilita uma compreensão adequada da natureza humana.

Geraldo de Souza Ferreira.  Estudos sobre a época contemporânea. Texto para discussão.

PGEB / UFF 2017

Inicialmente escrito como parte de estudos realizados na pós-graduação na Área de Avaliação de Projetos Industriais e Tecnológicos, Programa de Engenharia de Produção/COPPE/UFRJ - 2002. Com modificações.

No entanto, com o advento da modernidade moderna, o caminho civilizacional que vem a ser seguido na formação do homem prioriza valores norteadores do indivíduo, do isolamento. E, quanto mais a humanidade é dominada pelo ideário individualista, mais profundamente o Eu humano se reconhece e se identifica a partir do isolamento, coroado pela arbitrariedade e pela fatalidade . Expandem-se, em decorrência, a esfera das relações Eu-Isso em detrimento das relações Eu-Tu.

Com o recrudescimento do individualismo, são os "elos que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas" que estão sendo dissolvidos; ou seja, "os padrões de comunicação e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente", de um lado, por cada um de nós, e "as ações políticas de coletividades humanas", de outro.

Para compreender esta dissolução e caracterizar as mudanças contemporâneas que impõem a prevalência de um estilo de vida individualista, devemos nos reportar ao conceito de modernidade.

O advento da modernidade pós-cristã

Para Lima Vaz “modernidade é uma categoria de leitura do tempo histórico" – o tempo dos eventos humanos[3]. Na modernidade, o agora, o atual do tempo presente, reveste-se de privilégio valorativo capaz de desqualificar a primazia do antigo. A cada modernidade o tempo passa a ser representado como uma sucessão de atualidades, constituindo segmentos temporais privilegiados pela forma de Razão que neles se exerce. Para haver uma modernidade é necessário que a representação do tempo da tradição perca sua estrutura repetitiva. Na modernidade ocorre o questionamento da instância normativa de um passado fixado na identidade de uma origem, diante da qual o presente se veria instado a abdicar de qualquer predicado de valor, para limitar-se a fluir, sempre igual a si mesmo na sucessão temporal.

Toda modernidade é, de início, rebelde à repetição, e simpática à novidade. Isso não significa, no entanto, que todos os valores antigos tenham que necessariamente ser negados. O que se nega sim é a antigüidade como argumento de autoridade. Valores passados podem ser reafirmados, sempre que passem através do crivo crítico do juízo da razão crítica exercida no presente.

A linhagem das modernidades que dão origem à presente modernidade pós-cristã remonta a vinte e seis séculos. Em suas origens está a modernidade da civilização jônica que atinge seu apogeu em Atenas, nos séculos V e IV a.C. Nesta primeira modernidade, a revolução na representação tradicional do tempo se vincula ao nascimento da filosofia, quando o lógos – identificado com a razão demonstrativa – passa a ocupar um lugar central no universo simbólico da civilização grega. As concepções cíclicas do tempo, de raiz mítica, podem permanecer prevalecentes, mas a representação do tempo passa a ser construída no presente da reflexão, estando submetida a procedimentos demonstrativos discursivos. Em suma, o tempo perde seu caráter sacral e torna-se objeto da razão. A filosofia recebe do mito seus grandes temas e problemas, mas empenha-se por  transpor para os códigos da razão as categorias fundamentais do discurso mítico-religioso.

Nos tempos cristãos, herdeiros da Antigüidade greco-romana, é a religião que supra-sume e acolhe a filosofia recebida da tradição antiga. Origina-se um novo discurso teológico sobre a transcendência. Nos tempos modernos pós-medievais a relação se inverte. O Iluminismo europeu tem por empenho explícito a superação da religião, ocasionando sua dissolução como discurso teórico significativo e a redução da transcendência à imanência da história.

A modernidade pós-cristã, ou modernidade moderna, passa a ser conhecida a partir do século XIX simplesmente como modernidade. Mas seus traços inaugurais remontam ao século XVII, com o advento do cartesianismo. Com a modernidade moderna aparentemente se encerra o ciclo de modernidades que se desenvolvem sob a égide da razão clássica, em que o ato de filosofar estabelece sua relação com o tempo histórico, a partir de um privilégio fundamentado por um princípio transtemporal ou transcendente ao tempo, e identificado com o divino ou com Deus[4].

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