A Geométrica Analítica
Por: Breno Zardo • 1/11/2019 • Seminário • 3.206 Palavras (13 Páginas) • 171 Visualizações
Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual
Unidade de aprendizagem Virtual: Teoria do conhecimento
Transcrição acessível da web aula, unidade 1 vídeo 2, “Mito, Religião e Arte”, disponível no EVA.
Prof. Carlos Euclides Marques
Parte 1 – Mito e Religião
Olá pessoal sou o professor Carlos Euclides Marques, os objetivos dessa webaula são: Caracterizar os tipos de conhecimento: Mito, Religião e Arte, apresentando, entre outros aspectos suas funções, apresentar algumas aproximações e diferenciações destes tipos de conhecimentos e dar dicas de leitura para a temática tipos de conhecimento, vamos lá? Vamos começar pela caracterização do mito e da religião. Primeiramente é importante indicar que a certas diferenças entre mito e religião, entretanto como mecanismos mentais cognitivos estes seguem basicamente o mesmo procedimento, e no geral tem funções similares. Cabe lembrar também que toda a religião se funda num ou mais mitos, nesta linha que Ernst Cassirer em seu ensaio sobre o homem indica que “não há qualquer diferença radical entre o pensamento mítico e o religioso. Ambos tem origem nos mesmos fenômenos fundamentais da vida humana. No desenvolvimento da cultura humana, não podemos fixar um ponto onde o mito acaba ou começa a religião. [...] Desde o início, o mito é religião em potencial”
(1994 p. 145-146). Bem, o mito e a religião surgem como muitos outros tipos de conhecimento, da necessidade do ser humano de dar sentido ao mundo, tudo aquilo que o cerca por vezes esta necessidade cria intuitivamente sentidos. Pense assim, os primórdios, estranhamento, admiração, espanto levaram o ser humano a construir narrativas que de certa forma explicassem ao mundo os fenômenos naturais e mesmo justificassem esta ou aquela forma de trabalho, de organização social entre outros aspectos. Ou seja, o mito e a religião tem funções. Para ajudar a entender estas funções, tomemos uma passagem do livro Convite a filosofia de Marilena Chauí que resumi algumas das ideias do antropólogo Levi Strauss. Funções do Mito: 1. Função explicativa: o presente é explicado por alguma ação passada cujos efeitos permaneceram no tempo. Por exemplo, uma constelação existe porque no passado crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as transformou em estrelas. As chuvas existem porque nos tempos passados uma deusa apaixonou-se por um humano e não podendo uniu -se a ele diretamente, uniu-se pela tristeza, fazendo de suas lagrimas caírem sobre o mundo etc. 2. Função organizativa: o mito organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de trocas, de sexo, de idade, de poder, etc) de modo a legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões. Por exemplo, o mito como édipo existe como narrativas diferentes em quase todas as sociedades selvagens e tem a função de garantir a proibição do incesto, sem a qual o sistema sociopolítico baseado nas leis de parentesco e de alianças não podem ser mantidos. 3. Função compensatória: o mito narra uma situação passada, que é a negação do presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma perda como para garanti-lhes que um erro do passado foi corrigido no presente, de modo a oferecer uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. Tudo isso vocês encontram essas funções na edição de 1996, páginas 161 a 162. No campo dos estudos sobre o mito e a religião. Não é muito difícil encontrarmos visões pejorativas que tomam esses tipos de conhecimento como ilusórios, primitivos, simples. Para tomarmos alguns termos utilizados no campo da filosofia, a muitos pensadores que veem a narrativa mítica no máximo como uma alegoria, entretanto, ao mesmo na antiga tradição grega a algumas passagens que apontam para outra visão sobre estas mentalidades mito e religião. No livro um de sua metafisica, Aristóteles diz “Ora, quem experimenta uma sensação de dúvida e de admiração reconhece que não sabe; e é por isso que também aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo: o mito em efeito é constituído por um conjunto de coisas admiráveis. De modo que os homens filosofaram para liberta-se da ignorância, é evidente que buscam o conhecimento unicamente em vista do saber e não por alguma utilidade pratica”. Os filomitos, amigos dos mitos são filósofos de certa medida para os
Estagiritas, por terem sido os primeiros a construírem explicações para o mundo ou usando a terminologia aristotélica dão conta das causas primeiras das coisas. O que vemos nestas narrativas em grande parte é a divinização a sacralização dos fenômenos, sejam esses naturais ou culturais. Assim lembrando a passagem supracitada do texto de Marilena Chauí o livro Convite a Filosofia, a origem de uma constelação foi obra de uma dada divindade que se comoveu com uma condição de certos seres humanos, outro exemplo uma determinada forma de se fazer um artefato é mantida de geração a geração com todos os rituais que envolvem este fazer por razões sagradas, ou seja, porque num tempo remoto uma divindade presenteou um antepassado deste povo ou clã com uma técnica em questão. Desta forma, manter o que foi ensinado sem mudança, é manter um tempo passado, um tempo sagrado, um tempo de proximidade com a perfeição. Note seja está o sentido etimológico de religião como religar, mas contemporaneamente alguns estudiosos tem deixado de lado uma visão pejorativa em relação a mentalidade mítico religiosa, apontando para certa racionalidade desta mentalidade. Mas não se trata de uma razão analítica que desseca os fenômenos procurando regularidades fixas, leis universais que não se pautam por nossas emoções. Nesta perspectiva Cassirer esclarece “O verdadeiro substrato do mito não é um substrato de pensamento, mas de sentimento, o mito e a religião primitiva não são de maneira alguma inteiramente incoerente, não são vazios de sentido e razão sua coerência porem depende muito mais da unidade de pensamento que de regras logicas. Esta unidade de
Um dos impulsos mais fortes e mais profundos do pensamento primitivo, se o pensamento cientifico pretende descrever e explicar a realidade e forçado a usar seu método geral que o da classificação, da sistematização a vida é dividida em províncias separadas que são claramente distinguidas uma das outras. Os limites entre os reinos das plantas, animais, do homem, as diferenças entre espécies, famílias, gêneros são fundamentas e indeléveis. Mas a mente primitiva os ignora e rejeita, sua visão de vida é sintética e não analítica, a vida não é dividida por classe e subclasses é sentida como um todo continuo e interrupto que não admite distinções nítidas e claras. Os limites entre as diferentes esferas não são barreiras insuperáveis, são fluente e flutuantes não a qualquer diferença especifica entre os vários domínios da vida, nada tem uma força definitiva e invariável e estática por uma súbita metamorfose, tudo pode ser transformado em tudo e se existe algum aspecto característico destacado do mundo mítico qualquer lei que o governe é a lei da metamorfose. Mesmo assim dificilmente poderíamos explicar a instabilidade do mundo mítico, pela incapacidade do homem primitivo para aprender as diferenças empíricas das coisas. Quanto a isto o selvagem muitas vezes prova a sua superioridade em relação ao homem civilizado, é suscetível a muitos aspectos distintivos que escapam a nossa atenção. Os desenho e pinturas de animais que encontramos nos estágios mais baixos da cultura humana na arte paleolítica foram muitas vezes admirados por seu caráter naturalista, mostram um surpreendente conhecimento de todos os tipos de formas animais, toda a existência do homem primitivo depende em grande parte de seus dons de observação e discriminação. Se for um caçador deverá estar familiarizado com uns mínimos detalhes da vida animal, deverá ser capaz de distinguir as pistas de vários animais. Nada disso é condizente com a suposição de que a mente primitiva por sua própria natureza e essência indiferenciada ou confusa, uma mente pré-lógica ou mística”. É uma passagem da edição de 1994 das páginas 158 a 159.
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