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A HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E O BINÔMIO SAÚDE E DOENÇA

Por:   •  3/5/2015  •  Trabalho acadêmico  •  15.087 Palavras (61 Páginas)  •  301 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E TECNOLÓGICAS

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA

2011

CAPÍTULO I- BINÔMIO SAÚDE-DOENÇA E A HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E O BINÔMIO SAÚDE E DOENÇA

  1. O BINÔMIO SAÚDE-DOENÇA

Já no período Pré-Socrático a relação Corpo-Alma moveu os filósofos, ou seja, acreditava-se na relação entre a alma e as doenças existentes no corpo. Platão, em sua publicação Timeu, concebe a ligação entre o corpo e a alma, tanto no estado de saúde quanto no de doença. Para Platão, a doença tinha sua definição pautada no desequilíbrio entre alma e corpo, em que o corpo era formado pelos elementos fogo, água, ar e terra, que formavam figuras geométricas em equilíbrio. A saúde do corpo, segundo Platão, depende da saúde da alma e vice-versa.

No final do século V a.C. foram denominados os humores do corpo humano (sangue, flegma-muco, bile amarela e bile negra), em que a saúde era o resultado da justa-proporção destes humores, e por sua vez, a doença era resultante do isolamento de um deles em um sítio orgânico. Foram distinguidas aí as doenças do corpo e da alma, tais como:

- Doenças do Corpo:

            (1) Doenças que resultam do desequilíbrio entre os elementos constitutivos do corpo - fogo, água, ar e terra;

             (2) Doenças que resultam da corrupção da medula (as mais graves), ossos, carne e nervos

             (3) Doenças causadas pelo ar, pelo flegma ou pela bile                    

- Doenças da Alma:

                   Demência ou desrazão

O resumo dos conceitos desta época, em que pouco (ou quase nada) se conhecia sobre os agentes causadores de doenças, era a idéia de que:

“É necessário estudar a proporção entre o corpo e a alma. Uma alma superior que habita um corpo débil provoca neste último o surgimento de doenças. Por outro lado, um corpo forte e uma alma com baixa inteligência resulta na ignorância, a pior doença que pode acometer a alma”.

Em meados do século XVII houve a racionalização do estado saúde-doença, com o avanço da Aritmética médica política. É nesse momento que os dados representados em números ganham projeção, e o estado de saúde passou a ser estudado como o oposto ao estado de doença. Tal mudança não trouxe efeito perceptivo na saúde e na doença do homem, à escala das sociedades humanas (Canguilhem, 1977, p. 52-53).

Rosen (1994) relata que a grande explosão científica dos séculos XVI e XVII que assentou as bases da medicina sobre a anatomia e a fisiologia, além de permitir o reconhecimento mais preciso das doenças, ganhou a possibilidade de aplicar o conhecimento científico à saúde da comunidade, começava a se concretizar a idéia de serem organismos microscópicos as possíveis causas das doenças transmissíveis.

No século XVIII houve a explosão da Medicina Moderna, com o desenvolvimento da Anatomia patológica (Foucault, 1994) e da teoria celular, em 1830 (Correia, 1999). Um importante marco para o entendimento do processo saúde-doença foi a teoria elaborada por Rudolf Virchow (1849), segundo a qual as doenças epidêmicas teriam uma base social e cultural (Rosen, 1994).

        No Século XIX a doença se mostra como uma alteração dos tecidos e é elevada da condição de um ente intra-orgânico para se converter em uma relação do organismo com o meio, ou seja, o meio externo (meio ambiente) e o meio interno (organismo) interagiam na instalação e no desenvolvimento de uma doença.

Segundo Ávila-Pires (2000) as definições mais comuns de saúde e de doença são circulares, isto é, descreve-se uma condição como ausência da outra. A análise de conceitos e a construção de definições não constituem exercício comum e rotineiro. A maioria das pessoas contenta-se com uma idéia vaga a respeito dos fenômenos e das coisas e dos termos e, quando solicitada a sua opinião, responde, em geral, com um exemplo.

Atualmente, o conceito de Saúde (OMS) diz que saúde é o Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença. Tal definição é analisada por alguns autores, como:

- “[...] é muito difícil definir o que é saúde e estabelecer os limites onde começa a enfermidade. Porque saúde e enfermidade são dois estados entre os quais flutua o indivíduo [durante] toda sua vida, duas condições estreitamente ligadas por conexões recíprocas.” (ROJAS, 1974, p. 1);

- Para Contandriopoulos (1998)  A saúde e a doença não são fenômenos independentes nem inversos e, portanto, não podem ser redutíveis uma à outra, nem mesmo mensuráveis;

- A normalidade não se constitui em oposto da doença, logo a saúde não pode ser definida como seu análogo inverso (Almeida Filho, 2000);

- É muito difícil definir e estabelecer a distinção entre ambos, habitualmente baseada em critérios diagnósticos e pela observação de sintomas e sinais (Beaglehole et al., 1993). No entanto, o que se observa na prática dos profissionais de saúde, na maior parte das vezes, é uma preocupação desmesurada com a doença em detrimento da saúde. Canguilhem (1990) sustenta a tese de que a diferença entre o normal e o patológico não é de ordem quantitativa, mas antes, qualitativa, não justificando a dualidade, o enfrentamento de valores. A base quantitativa fundamentada na idéia positivista parte do pressuposto de que o patológico difere do normal apenas quantitativamente, mas patológico não é uma questão de contraste, de desajuste, de desregulação, de presença ou ausência de algo, de falta ou exageração de uma função (hiper e hipo).

“Diremos que o homem são só se torna doente enquanto são. Nenhum homem são fica doente, pois ele só é doente quando sua saúde o abandona e, nesse momento, ele não é mais são. O homem dito são não é, portanto, são. Sua saúde é um equilíbrio conquistado à custa de rupturas incoativas. A ameaça da doença é um dos elementos constitutivos da saúde.” (Canguilhem, 1990, p. 260-261).

A saúde e doença são fenômenos biológicos e ultrapassam o atributo do organismo, para atingir a configuração relacional do organismo/meio, como um fenômeno descrito no domínio cultural e social (Vaz, 1999). Se no âmbito individual a saúde não pode ser definida como “ausência de doença”, na esfera coletiva a negativa é ainda mais categórica. Quando nos referimos a uma coletividade saudável, isto não implica em que seus componentes não morram ou adoeçam (Almeida Filho, 2000, p. 229).

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