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Ciencia E Tecnologia

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Por:   •  4/11/2014  •  3.390 Palavras (14 Páginas)  •  339 Visualizações

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Homo sapiens, homo faber

Quando nos referimos ao homo sa¬piens, enfatizamos a característica hu¬mana de conhecer a realidade, de ter consciência do mundo e de si mesmo. A denominação homo faber é usada quando nos referimos à capacidade de fabricar utensílios, com os quais o ho¬mem só torna capaz de transformar a natureza.

Homo sapiens e homo faber são dois as¬pectos da mesma realidade humana. Pensar e agir são inseparáveis, isto é, o homem é um ser técnico porque tem consciência, e tem consciência porque é capaz de agir e transformar a realidade.

Em decorrência, a maneira como os homens agem para adequar a nature¬za aos seus interesses de sobrevivência influi de modo decisivo na construção das representações mentais por meio das quais explicam essa realidade. Da mesma forma, tais construções mentais tornam possíveis as alterações necessá¬rias para adaptar as técnicas à solução dos problemas que desafiam a inteli¬gência humana.

Por exemplo, quando Gutenberg in¬venta os tipos móveis no século XVI, a imprensa passa a desempenhar papel decisivo na difusão das ideias e na am¬pliação da consciência crítica, o que al¬tera o conhecimento que o homem tem do mundo e de si mesmo. No século XX, o aperfeiçoamento técnico do tele¬fone, telégrafo, fotografia, cinema, rá¬dio, televisão, comunicação via satéli¬te, certamente vem mudando a estru¬tura do pensamento, agora marcado pela cultura da imagem e do som e pe¬la "planetarização" da consciência.

As transformações da técnica

Utensílio, máquina e autômato. Gros¬so modo, eis as três etapas fundamen¬tais do desenvolvimento da técnica.

No estádio inicial, o utensílio é um prolongamento do corpo humano: o martelo aumenta a potência do braço e o arado funciona como a mão escavan¬do o solo.

Quando deixa de usar apenas a ener¬gia humana, a técnica passa ao estádio das máquinas pela utilização da ener¬gia mecânica, hidráulica, elétrica ou atô¬mica. Por exemplo, o carvão queiman¬do faz mover o tear, o vapor de água faz funcionar a locomotiva, a explosão da gasolina viabiliza o automóvel e a eletricidade põe em movimento a bate¬deira de bolo.

A máquina é o instrumento que atua por si mesmo e por si mesmo produz o objeto. (...) No artesanato o utensílio ou ferramenta é somente suplemento do homem. Neste, por¬tanto, o homem com seus atos "na¬turais" continua sendo o ator princi¬pal. Na máquina, ao contrário, passa o instrumento para o primeiro piano e não é ele quem ajuda ao homem, mas o contrário: o homem é quem simplesmente ajuda e suplementa a máquina. (...) O que um homem com suas atividades fixas de animal pode fazer, sabemo-lo de antemão: seu ho¬rizonte é limitado. Mas o que podem fazer as máquinas que o homem é ca¬paz de inventar é, em princípio, ili¬mitado. (Ortega y Gasset.)

Em estádio mais avançado, o autô¬mato imita a iniciativa humana, porque não repete "mecanicamente" as fun¬ções preestabelecidas, uma vez que é capaz de auto-regulação. A partir de certos programas, é possível grande fle¬xibilidade nas "tomadas de decisões", o que aproxima as "máquinas pensan¬tes" do trabalho intelectual humano, já que são capazes de provocar, regular e controlar os próprios movimentos. O radar corrige a rota do avião de acordo com as alterações do percurso, a célula fotoelétrica instalada na porta do eleva¬dor impede que ela se feche sobre o usuário: em ambos os casos os coman¬dos são alterados automaticamente con¬forme "informações" externas.

Cibernética (do grego kybernetiké, isto é, téchne kybernetiké, "a arte do pi¬loto"); ciência que estuda as comuni¬cações e o sistema de controle não só nos organismos vivos, mas também nas máquinas. (Novo dicionário da lín¬gua portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Pereira.)

Técnica e ciência

Um esforço imenso é despendido pe¬lo homem no domínio da natureza. Na medida do possível, alguns reservam para si as funções leves e encarregam outros do trabalho mais penoso. A pre-dominância de escravos e servos no exercício das atividades manuais sem¬pre levou à desvalorização desse tipo de trabalho, enquanto apenas as ativi¬dades intelectuais eram consideradas verdadeiramente dignas do homem.

Os romanos, retomando a tradição da Grécia, chamavam de ócio (otium) não propriamente a ausência de ação, mas o ocupar-se com as ciências, as ar¬tes, o trato social, o governo, o lazer produtivo. Ao ócio opunham o negócio (o nec otium, ou seja, a negação do otium), enquanto atividade que tem por função satisfazer as necessidades ele¬mentares. Evidentemente é o ócio que constitui para eles o ser próprio do ho¬mem, e alcançá-lo era privilégio reser¬vado a poucos.

Tal maneira de pensar supõe a exis¬tência da divisão social com a manuten¬ção do sistema escravista ou da servi¬dão. Mesmo Aristóteles sabia disso, e diz, em sua Política, que haveria escra-vidão enquanto as lançadeiras não tra¬balhassem sozinhas.

A partir do final da Idade Média sur¬ge uma nova concepção a respeito da importância da técnica. Antes desvalo¬rizada, ela torna-se o instrumento ade¬quado para transformar o homem em "mestre e senhor da natureza".

Averiguando as circunstâncias so¬ciais e econômicas que possibilitaram uma mudança tão decisiva para a his¬tória da humanidade, encontramos no surgimento da burguesia os elementos que tomaram necessária a nova manei¬ra de pensar e agir. Os burgueses, li¬gados ao artesanato e comércio, valo¬rizavam o trabalho e tinham espírito empreendedor. Ora, o sucesso e enri¬quecimento desse novo segmento so¬cial passam a exigir cada vez mais o concurso da técnica para a ampliação dos negócios: construção de navios mais ágeis, utilização da bússola para a orientação nos mares em busca de no¬vos portos, aperfeiçoamento dos reló¬gios (tempo é dinheiro!). Um bom exemplo do efeito transformador da téc¬nica é a pólvora. Conhecida há muito nas civilizações orientais, como a Chi¬na, onde era utilizada na confecção de fogos de artifício, ao ser levada para a Europa, irá redimensionar as artes bé¬licas, ao ser usada em canhões para o ataque aos até então quase inacessíveis castelos da nobreza.

A valorização da técnica altera a con¬cepção de ciência. Se antes o saber era contemplativo, ou seja, voltado para a compreensão desinteressada da realida¬de, o novo homem busca o saber ativo, o conhecimento capaz de atuar sobre o mundo, transformando-o. Essa nova mentalidade permite o advento da ciên¬cia moderna.

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