Concretos Especiais
Monografias: Concretos Especiais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 7/5/2013 • 2.266 Palavras (10 Páginas) • 1.852 Visualizações
O Light Transmitting Concrete foi desenvolvido pelo
húngaro Áron Cosonczi e tem 4% de fibras óticas nas
misturas
Inovações ultrafinas
Conheça os concretos mais inovadores em experiência no mundo e como isso
vai mudar os projetos de estruturais com esse material
Por Rodnei Corsini
O concreto estrutural é um material
relativamente novo. O primeiro cimento
Portland - componente básico do
concreto tradicional junto com a água e
os agregados miúdos e graúdos - surgiu
em 1824, na Inglaterra. "A primeira
norma de concreto armado do mundo é
de 1903. De lá para cá, passaram-se
pouco mais de 100 anos. A rocha tem
milênios, o aço tem cerca de 250 anos,
então o concreto estrutural é o mais
novo dos materiais de construção. E
está em permanente desenvolvimento",
destaca Paulo Helene, diretor da PHD
Engenharia e Consultoria e conselheiro
do Ibracon (Instituto Brasileiro do
Concreto).
O concreto com cimento Portland já está bastante estabelecido. As inovações
principais são aglomerantes, que trabalham em conjunto com o cimento Portland.
Ou, então, o próprio Portand modificado, com melhorias. Outras soluções, ainda,
substituem o cimento Portland por outros produtos para formar o concreto. Também
participam dessas inovações alguns aditivos especiais, colocados na formulação da
mistura. Em termos práticos, a inovação no concreto busca três principais
resultados. "Quando se fala em inovação, estamos pensando em maior durabilidade,
maior resistência e, principalmente, melhor trabalhabilidade", lista Arnaldo Battagin,
chefe dos laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).
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Passarela da Paz, em Seul, feita com concreto
de pós reativos Ductal
O primeiro concreto a usar pós reativos foi
desenvolvido no Canadá, na Universidade de
Sherbrooke, pelo professor Pierre-Claude Aïtcin.
Em vez de ser feito com agregados miúdos e
graúdos, como um concreto convencional, ele
recebe somente agregados miúdos, ultrafinos
(veja o boxe "Materiais ultrafinos"). "Esse
concreto é à base de pó de quartzo, fibras,
aditivos e silicativos, e é ultrarresistente. Em
laboratório, usando recursos como curas
térmicas, a literatura diz que é possível
alcançar até 800 MPa", afirma Battagin. Em
2001, a fabricante Lafarge, na França,
depositou uma patente do concreto de pós reativos, chamando-o de Ductal. Nele,
são adicionadas fibras metálicas ou orgânicas e superplastificantes. Segundo a
Lafarge, o Ductal tem compressão de seis a oito vezes maior do que o concreto
tradicional, flexão dez vezes maior e até cem vezes mais durabilidade.
O produto também alia características do concreto autoadensável. O Ductal não é
fornecido no Brasil, e é mais utilizado em obras no Japão e na Coreia do Sul. A
capital do país, Seul, tem uma passarela de pedestres com um tabuleiro de 3 cm de
espessura feito com o concreto de pós reativos. A obra, projetada pelo arquiteto
Rudy Ricciotti e inaugurada em 2002, tem 130 m de comprimento e passa sobre o rio
Han.
Autolimpante
O concreto autolimpante foi desenvolvido pela empresa italiana Italcementi, em
1996, e é feito com um cimento cujo conceito ganhou o nome comercial TX Active. A
Italcementi fornece os cimentos TX Arca e TX Aria com essa característica
autolimpante. É um cimento branco, fotocatalisador, à base se dióxido de titânio de
estrutura nanocristalina. Estima-se que a produção do cimento com o princípio TX
Active custe dez vezes mais do que a do Portland convencional.
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Parede de blocos de concreto LiTraCon no
Cella Septichora Visitor Centre Pécs, Hungria
Os fabricantes afirmam que ele funciona mais
ou menos como a fotossíntese. Por isso, o
cimento também é chamado de antipoluição. A
reação fotocatalítica ativada pela luz do sol faz
com que reagentes oxidantes presentes no
concreto convertam óxidos de nitrogênio (NOx)
em nitrato (NO3), elemento não nocivo ao
ambiente. Com o clima ensolarado, o produto
pode eliminar até 90% de óxidos de nitrogênio
e benzenos, entre outros poluentes. Segundo
boletins técnicos da Heidelberg, fabricante do
TioCem - cimento que também emprega o TX
Active -, quando não há luz solar direta sobre o concreto fotocatalítico e a radiação
UV está baixa ainda há eliminação de até 70% dos poluentes. Estudos da
Italcementi calculam que, em uma cidade como Milão, a cobertura de 15% da
superfície urbana com produtos contendo o TX Active permitiria a redução da
poluição aproximadamente pela metade.
A fórmula do TX Active é um segredo industrial. "Mas sabemos, por meios próprios,
que o dióxido de titânio usado na composição tem que estar na forma de anatásio,
que é uma das formas do titânio", revela Battagin. Uma obra construída com
concreto feito com TX Active, além do benefício ao meio ambiente, não fica
enegrecida com a fuligem. A primeira construção a empregar concreto fotocatalisador
foi a Igreja do Jubileu, em Roma, finalizada em 2003. O TX Arca, usado na
construção, foi desenvolvido especialmente para atender às demandas do arquiteto
Richard Meier, que projetou a igreja.
Processo de redução do NOX com o cimento TioCem com TX Active
Função estética
O concreto translúcido e o fotogravado, pouco difundidos, atendem principalmente
aspectos estéticos. O concreto translúcido, desenvolvido na Hungria pelo arquiteto
Áron Losonczi, foi registrado como LiTraCon (Light Transmitting Concrete). Sua
característica translúcida é resultado da mistura de 4% de fibras óticas com 96% de
concreto tradicional. É fornecido em blocos pré-fabricados de até 50 MPa com
colorações branca, cinza ou preta. As peças podem ter até 1,2 m x 0,4 m, com
espessuras de 2,5 cm a 5 cm.
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Igreja do Jubileu, em Roma, com concreto
autolimpante
Biblioteca da Escola Técnica
Superior de Eberswalde, na
Alemanha, com concreto
fotogravado
Ainda menos divulgado, há o concreto
fotogravado. "Esse concreto pode ter uma
fotografia gravada diretamente nele, por meio
de relevos superficiais, em jogos de sombra. A
gravação é feita com uma resina que é aplicada
na superfície do concreto e, assim, é possível
transferir uma foto para ele", descreve Paulo
Helene. Preferencialmente, é usado um cimento
branco. Mas é possível usar cimento cinza
também. A transferência da imagem à
superfície do concreto é feita com a retardação
na cura do concreto com a resina. Com isso, determinadas partes não endurecem e,
depois de lavado, permanece uma superfície mais escura. Há, ainda, os concretos
coloridos em que são adicionados pigmentos. São empregados principalmente em
pisos externos, e eliminam a necessidade de revestimento para ganho estético.
Condutor
O concreto convencional é um isolante elétrico e
térmico. Mas se ele for construído com determinadas
fibras, pode se tornar um condutor elétrico e um
condutor de temperatura: são os concretos condutores,
ou condutivos. Isso permite que eles sejam usados
como aquecedores. Obviamente, têm pouca utilidade no
Brasil e em países de clima tropical. "Está demonstrado
que uma forma de impedir a formação de neve nas
estradas e pontes é o uso de sais de degelo. Esses
sais, à base de cloreto de cálcio e cloreto de sódio, são
muito agressivos às estruturas de concreto. Então, essa
tecnologia permite fazer um aquecimento do concreto
pela energia elétrica", diz Paulo Helene. O produto foi
desenvolvido pelo IRC (Institute for Research in
Construction), no Canadá. A inovação está
essencialmente na adição de fibras de carbono e
partículas condutivas à mistura do concreto. Podem ser usadas fibras de vários
comprimentos e diâmetros, o que faz com que elas reforcem o concreto além de
torná-lo condutor térmico e elétrico.
Comportamento autoadensável
Os concretos autoadensáveis (CAA) são mais fáceis de serem trabalhados. Como o
nome diz, eles se autoadensam, autonivelam-se. Battagin, chefe de laboratórios da
ABCP, afirma que o autoadensável foi desenvolvido no Japão, mas a grande
aplicação, em 2007, era na Europa. "Naquele ano, cerca de 15% de todo o concreto
produzido na Europa já era autoadensável", diz. O chefe dos laboratórios da ABCP
estima que seu uso deve aumentar significativamente no Brasil também.
"As normas do concreto autoadensável saíram, no Brasil, no último mês de abril,
pelo CB-18. Com as normas, espera-se que se estimule a produção e consumo desse
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Microcápsula com agente especial
regenera fissuras do concreto
concreto." O CB-18 é o comitê de normas técnicas para cimento, concreto e
agregados da ABNT. A melhor trabalhabilidade é somada a outro benefício: menos
ruído na produção das peças com esse produto. Com o concreto autoadensável, é
dispensado o uso de vibração mecânica, que é emissora de ruído. O equipamento é
dispensado e o concreto é diretamente vertido, lançado, nas fôrmas que ele vai
preencher.
Uso em larga escala e sustentabilidade
O concreto tradicional, além de barato, é versátil e
tem suas matérias-primas convencionais - cimento,
água, agregados graúdos e miúdos - disponíveis em
praticamente todos os lugares do mundo em que é
utilizado. Por isso, Battagin destaca que qualquer
inovação que queira ter potencial de, em larga
escala, substituir o concreto feito com cimento
Portland precisa ter viabilidade mundial. "Entre os
novos tipos de cimento e aglomerantes, hoje não há
nenhum que possa ser substituto em grande escala
do cimento Portland na formulação do concreto",
afirma. Mesmo que as matérias-primas usadas nos
novos cimentos estejam disponíveis em grandes
quantidades, há também a questão da
competitividade com o preço do Portland.
Outro ponto para popularização das inovações, além
do técnico e do comercial, é que essas inovações
precisam ser bem conhecidas e divulgadas no
mercado para serem usadas em larga escala. "Esses produtos são desenvolvidos na
área da pesquisa, da academia. O produto existe, mas, muitas vezes,
comercialmente ele não existe. Quem decide por uma tecnologia nova precisa ter
segurança daquilo, de que vai funcionar bem", diz Paulo Helene. A normalização dos
produtos novos também auxilia a sua popularização. Por outro lado, é a
popularização do produto - não só na área de construção civil - que leva à criação de
uma norma. "Qualquer norma é uma fórmula. E ela sempre vem atrás do
desenvolvimento do produto, depois que já há práticas recomendadas, uma boa
engenharia de aplicação. A norma é a generalização de exemplos de sucesso", diz
Battagin.
Além de as inovações na fabricação do cimento e na formulação do concreto
buscarem avanços técnicos - durabilidade, resistência e trabalhabilidade -, outro
objetivo marcante das inovações é a redução da emissão de CO2 na produção do
cimento. Uma das formas mais simples e conhecidas de reduzir a emissão de CO2
na produção do cimento é a adição de pozolanas e escórias de alto-forno,
diminuindo o percentual do clínquer. Outra forma, mais complexa, é o
armazenamento de CO2. A fabricante americana Calera, no Estado da Califórnia,
captura o carbonato de cálcio emitido no processo. Por sua vez, esse carbonato
armazenado é adicionado como matéria-prima ao cimento. Embora tenha as mesmas
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propriedades de um Portland, de durabilidade e resistência, é considerado inovador
pelo seu processo de fabricação.
A menor agressão ao ambiente, entretanto, não fica restrita à produção do cimento.
"As inovações na área de concreto felizmente têm andando em paralelo com a
sustentabilidade. Quando você imagina um concreto translúcido, por exemplo,
significa que você vai gastar menos energia para iluminar sua casa. Quando você
pensa em um concreto condutor de energia, você vai ter menos necessidade de
renovar sua estrutura porque você vai usar energia elétrica em vez de usar energia
química", lembra Paulo Helene.
As inovações também contribuem com a sustentabilidade na medida em que gastam
menos material para produzir o concreto. Se for analisado 1 m³ de um material de
250 MPa, por exemplo, e 1 m³ de um concreto de 50 MPa, o primeiro gasta mais
energia para ser produzido. Mas, com o concreto de 250 MPa, são feitas muito mais
peças. A economia é de volume de material para a mesma função. Paulo Helene cita
o exemplo do edifício e-Tower, em São Paulo. "Fizemos uma comparação de um
concreto de 40 MPa e outro de 80 MPa para o mesmo pilar da e-Tower.
A economia foi de 70% menos areia, 70% menos brita, 20% menos cimento, além
de menos água. A quantidade de material é menor, mas o metro cúbico do concreto
de 80 MPa libera mais CO2 e consome mais energia que o metro cúbico do concreto
de 40 MPa. Só que, com o concreto de 80 MPa, usei menos da metade do volume de
material", compara. "E além das vantagens sustentáveis, de economia de materiais,
eu tenho benefícios em termos de via útil."
Outras inovações
Concretos com fibra de vidro. São colocadas pequenas fibras de vidro de
modelacidade alta, previamente tratadas para não serem reativas com os álcalis do
cimento. Com isso, é possível ter resistências elevadas e flexibilidade. Esse concreto
é usado somente em peças pré-fabricadas para fachadas.
Novacem. Esse cimento foi considerado, em 2009, uma das dez maiores inovações
tecnológicas pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ainda em fase não
comercial, o produto utiliza silicato de magnésio em vez de carbonato de cálcio. Com
isso, a emissão de CO2 durante sua produção é muito reduzida.
EMC. O cimento EMC (Energetically Modified Cement), produzido pela americana
Texas, consegue melhor desempenho na composição do concreto devido à forma
como é produzido. Em vez de ser moído em com bolas de aço, o moinho usa
vibração. "Com isso, são criadas microfissuras dentro das partículas de cimento, o
que torna o material muito mais reativo. Assim, é possível usar menos cimento no
concreto para produzir a mesma resistência do que se fosse usado o cimento
Portland moído com moinho de bolas", explica Battagin.
Ceramicrete. O aglomerante, à base de fosfato, foi desenvolvido pelo físico indiano
Arun Wagh e patenteado nos EUA, no laboratório Argonne, do Departamento de
Energia do governo americano. A pasta do Ceramicrete pode adquirir resistência até
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três vezes maior do que o cimento Portland.
Autorreparo. A evolução de calor na formulação do concreto maciço pode causar
fissuração térmica. Há soluções em desenvolvimento, como um aditivo com
microcápsulas contendo um produto que reage com um catalisador adicionado à
mistura. "Essas cápsulas são fechadas e têm um agente. Quando o concreto começa
a fissurar - tudo isso no nível microscópico -, ele destrói essa cápsula onde está o
agente e, em contato com o catalisador que está na massa do concreto, o produto
entra nas fissuras e as obturam", detalha Battagin. Com isso, o concreto não fica
mais fissurado, ele se autorregenera. Outra forma de autorreparo utiliza uma
bactéria na pasta do concreto que sintetiza carbonato de cálcio e produz
continuamente uma calcita densa e impermeável.
Nanotecnologia. Uma inovação no desenvolvimento de cimentos inovadores é a
nanotecnologia. "A nanotecnologia está melhorando a natureza do cimento, para que
ele seja composto de partes mais eficientes para o resultado final, no
desenvolvimento de aditivos. E ela tem sido aplicada com sucesso na área de
concreto", afirma Paulo Helene. Ela permite, por exemplo, que sejam adicionados
nanotubos de carbono à mistura, o que aumenta a resistência do concreto no nível
da microestrutura.
Materiais ultrafinos
Os concretos ultrafinos, assim como os de alta resistência, foram desenvolvidos na
Universidade de Sherbrooke, no Canadá, durante a década de 1990. "São concretos
com agregados finos - não se utiliza brita, como no tradicional. Só areia, areias
finas, às vezes até artificiais, como pó de quartzo e cimentos bastante reativos", diz
o professor Paulo Helene. Esses concretos conseguem, por meio de adições,
microfibras, pó de quartzo, chegar a resistências muito elevadas, acima de 250 MPa,
e são vendidos em peças pré-fabricadas.
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